Saturday, April 28, 2007

REACTOR ENTREVISTA DIOGO VALÉRIO

Diogo Valério é um dos mais estimulantes designers gráficos portugueses encontrando-se de há uns anos a esta parte a trabalhar em Oslo, primeiro naBleed e, actualmente, no estúdio Jimmy Royal.


REACTOR: No primeiro post do Reactor afirma-se que “não há design sem diálogo”, enquanto profissional do design que diálogos lhe interessam estabelecer? Com quem? Sobre o quê?

DIOGO VALÉRIO: Todos os possíveis. Especialmente em design de comunicação não faz sentido não haver diálogos. Quer com os clientes, quer com profissionais de qualquer outra área que o designer sinta relevância em consultar para o desenvolvimento de um projecto.


R:A palavra design identifica cada vez menos um campo disciplinar definido, passando a remeter para uma campo de criação híbrido e difuso. Como vê esta indefinição em torno da disciplina?

D.V.:Acredito que, mesmo que assim o seja, ainda haja um mínimo denominador comum que é o projecto e que vem responder a uma questão/problema sugerido ou real. Há sempre lugar para repensar qualquer solução já existente, por mais sólida que seja, mas por outro lado e talvez a prática mais comum será a resposta a um briefing normalmente com uma preocupação comercial.

Simultaneamente acredito que seja uma questão de semiótica. Não me parece possível existir uma disciplina, com uma forte presença social, e que seja tão díficil de traduzir um significado claro.


R: Se lhe pedisse uma definição de design…

D.V.: Disciplina projectual.


R: O design sempre se caracterizou pela inexistência de um consenso programático, hoje talvez mais evidente devido à falência dos verdadeiros projectos colectivos, a teoria do design sempre oscilou entre uma interpretação do designer enquanto um “agente social” e uma interpretação do designer enquanto um “agente do mercado”, parece-lhe haver sentido nesta distinção?

D.V.: Não, de todo! Penso que esta separação só ajudou a criar uma maior indefinição em torno da disciplina. É-me extremamente difícil interpretar o design em pólos. O Design é por natureza uma disciplina inclusiva e não exclusiva; extremamente influente na sociedade, quer a nível cultural quer a nível do conforto. Se pensarmos em arquitectura será atroz dizer que o arquitecto não tem responsabilidade cultural, social, tecnológica.


R: Perante o relativismo dos valores (e, em particular, dos valores do design após a crise do projecto moderno) não será importante mostrarmos que existe uma diferença profunda entre a “ética individual” e a “ética disciplinar”? Quero dizer, os valores que orientam o design não podem ser relativos aos valores que guiam o comportamento dos seus profissionais.

D.V.:Acho extremamente relevante ser levantada esta questão. Há dois níveis que acho de particular serem desenvolvidos. O primeiro será que muitos dos profissionais em design operam em grupo ou entidades comerciais, que se distinguem pelos seus valores corporativos (não querendo abordar questões de qualidade nem estéticas). Simultaneamente são constituídos por indivíduos, estes com valores e referências distintas ainda assim compatíveis com a entidade corporativa.

Por outro lado, existe uma prática de autor que normalmente reflecte um maior grau de experimentação que podem resultar num confronto directo entre o que possa ser uma ética disciplinar e uma ética pessoal. Uma vez que as fronteiras do projecto podem ser dissimuladas pela utilização de novas tecnologias, práticas sociais, etc., sendo arriscado um julgamento de valores prematuro.

Recentemente, enquanto designer de comunicação num atelier, foi-me entregue um projecto para redesenhar o website de um partido de direita (equivalente no seu posicionamento político ao CDS) ao qual eu renunciei imediatamente. Isto deixou-me extremamente desconfortável durante bastante tempo, não por ter renunciado ao projecto mas por estar envolvido num atelier onde vê qualquer "trabalho" claramente como um oportunidade comercial falhando uma qualquer estrutura ética profissional.

Há poucos meses em Portugal, em relação ao referendo, recordo um artigo de Frederico Duarte para o jornal “O Público” onde escrevia uma observação extremamente relevante: " O Estado Português, representado neste referendo pelo Secretariado Técnico dos Assuntos para o Processo Eleitoral (STAPE) do Ministério da Administração Interna, apela ao nosso voto através de, entre outros meios, um “cartaz anunciador do referendo” (termo oficial), que se encontra afixado em locais e transportes públicos por todo o país. No entanto, estará o Estado, com este discreto cartaz, a cumprir de facto com a sua parte do processo eleitoral? Não deverá um “cartaz anunciador de referendo” ter como objectivos fundamentais não só informar, mas sobretudo cativar e mobilizar a opinião pública" Mais à frente no artigo o autor referencia um exemplo onde a comunidade de designers não é tão apagada como em Portugal: "a iniciativa "Get Out the Vote" da AIGA (associação profissional dos designers de comunicação americanos), que começou após o escândalo dos boletins de voto da Florida na eleição presidencial de 2000. Sob o lema "Good design makes choices clear", vários dos seus associados conceberam cartazes com um único objectivo: apelar ao voto."




R: Ainda há espaço para utopias no design? O Enzo Mari dizia que o design é um “acto de guerra” e o Brody, há umas semanas atrás, dizia que usamos poucas vezes a palavra revolução.

D.V.: Sempre haverá espaço para utopias, mesmo que seja utilizar a palavra revolução mais regularmente e talvez um dia, em breve, tenhamos a coragem de fazer uma. Recentemente fiquei muito surpreendido com o trabalho de alguns estudantes de design e recém licenciados, que numa época pós revolução digital, vêm trazer uma frescura ao design de comunicação com uma linguagem extremamente naif mas simultaneamente sólida. O colectivo Yokoland, dois colegas de universidade que recentemente acabaram a licenciatura em design de comunicação em Oslo, diziam numa entrevista à revista I.D. que a maior parte dos designers de comunicação tentam apenas simplificar a comunicação de forma a deixar a mensagem clara. Eles por sua vez fazem exactamente o contrário, criam mais problemas e tornam as coisas mais complicadas. Não será esta uma estratégia para se perceber se o problema está no design de comunicação ou na mensagem a ser comunicada?...

R: Qual é a sua “utopia pessoal”?

D.V.: Continuar a acreditar...


R: Parece-lhe que a blogosfera tem contribuído para o desenvolvimento de um debate sobre em torno do design?

D.V.: Sem dúvida que sim, mas ao mesmo tempo a tecnologia tornou as nossas vidas mais cheias, desconfortavelmente cheias. É necessário um filtro maior e é sempre difícil ganhar afinidade, intelectual e estética, de uma forma regular e crescente com tantos blogues emergentes. Eu preciso sempre algum tempo para sentir segurança e reconhecer qualidade nos conteúdos disponibilizados.


R:Quais são os seus blogues de referência?

D.V.: Reactor (http://reactor-reactor.blogspot.com/index.html)
Design Oberver (http://designobserver.com/)
Typeradio (feed://www.typeradio.org/podcast.php)
Generator X (feed://www.generatorx.no/feed/atom/)
Pasta and Vinager (http://tecfa.unige.ch/perso/staf/nova/blog/)
Eyebeam (feed://www.eyebeam.org/reblog/atom.xml)
Precious Forever (http://www.precious-forever.com/weblog/)

R: Muito obrigado.

2 comments:

Anonymous said...

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