Friday, February 29, 2008
PERSONAL VIEWS #37
STUART BAILEY
"ON TEMPLATES"
A Teoria da Linguagem ensina-nos a considerar – do ponto de vista do plano do conteúdo – duas componentes diferentes, mesmo que em articulação entre si: uma componente gramatical que permite a composição e ordenação dos enunciados; uma componente semântica, de ordem conceptual e figurativa, que corresponde ao investimento da ordenação formal. Dito de outro modo, a gramática corresponde à forma do conteúdo – estruturando-se a partir de uma morfologia e de uma sintaxe – e a semântica – com os seus distintos núcleos sémicos - à substância do conteúdo.
Sem gramática não há linguagem articulada e, consequentemente, não há possibilidade de comunicação. Simplificando, em design gráfico o “template” pode ser pensado como a estrutura sintáctica de uma composição permitindo o funcionamento de um determinado discurso.
A conferência que Stuart Bailey apresentou na última quarta-feira na ESAD, integrada no Ciclo Personal Views, incidiu precisamente no uso do “template” no design gráfico. Pretexto para uma reflexão mais alargada sobre a criatividade, o esforço de criação de linguagens próprias e a coerência formal como reflexo de uma coerência projectual no seu sentido mais amplo.
Percorrendo, com notável clareza, o essencial do seu trabalho, Stuart Bailey testou, a partir do seu próprio trabalho, a sua visão da criatividade como “exigência” que resulta do facto das “condições estarem sempre a mudar”. A criatividade não reside na “invenção”, de cada vez, de uma nova linguagem ou na sua maquilhagem formal, mas no esforço de adequar uma gramática a contextos comunicacionais específicos.
Bailey, destacou, particularmente, a utilização de um idêntico “template” nos números da Metropolis M desenhados com a sua colaboração (números 4, 5 e 6 publicados entre 2003 e 2005) e um exemplo paradigmático de rigor e lógica intencional de composição; as publicações Tourette’s, CAC Interviu e Undo; alguns trabalhos recentes, como o catálogo Agapé e a imagem gráfica da exposição The Fall of Francis Stark (agora presente na Culturgest, em Lisboa) trabalhos já de 2007; e finalmente o merecido destaque à Dot Dot Dot e ao projecto Dexter Sinister, considerado menos como um estúdio de design e mais como algo que pode ser aproximadamente descrito como um “just-in-time workshop and occasional bookstore”.
A coerência do trabalho de Stuart Bailey, coerência tão mais fascinante na medida em que é gerada por uma trabalho colectivo, marcado por inúmeras colaborações e diálogos, apresentada de forma inteligente e documentada de forma rigorosa, resultou numa conferência muito boa para os alunos de design gráfico – público privilegiado dos Personal Views – que de novo encheram o auditório da ESAD.
Terá faltado, apenas, para enriquecer uma muito boa apresentação, aprofundar algumas das referências citadas – e consideradas determinantemente inspiradoras – nomeadamente Mark Wigley (mas também Charles Eschel e Frank Larcade), bem como a análise crítica do uso do “template” por parte de outros designers modernos e contemporâneos; a este respeito diga-se que não ficou minimamente explícita qualquer proximidade entre o trabalho de Stuart Bailey e os discursos de vanguarda dos anos 70 dos quais Bailey disse sentir-se herdeiro.
Seriam talvez questões para ser colocadas no período de debate que se seguiu (ou deveria ter-se seguido) a mais uma óptima conferência deste ciclo que, Andrew Howard e a ESAD, conseguiram tornar no mais importante ciclo de conferências sobre design gráfico da actualidade.
___________________________
STUART BAILEY formou-se pela Universidade de Reading em 1994, tendo prosseguido os estudos em Arnhem na Werkplaats Typografie. Em 2000 foi co-fundador da publicação Dot Dot Dot. O seu trabalho desde essa altura tem vindo a envolver aspectos de design gráfico, escrita e edição, principalmente sob a forma de publicações para artistas e instituições de arte. A partir de 2002, colaborou com Will Holder sob o nome composto de Will Stuart, num leque alargado de projectos que incluíram trabalhos mais performativos. Desde 2006 tem vindo a trabalhar com David Reinfurt no projecto Dexter Sinister sediado em Nova Iorque.
Stuart Bailey
Espaço Dexter Sinister
Dot Dot Dot
Metropolis M
The Fall, "Victoria" (Banda evocada no cartaz da exposição de Francis Stark).
Thursday, February 28, 2008
O Movimento Moderno visava o colectivo social com grande optimismo, com a crença firme na possibilidade de melhorar as condições de vida das pessoas. No entanto, o pensamento utópico deu lugar ao realismo: actualmente os estúdios de design encontram-se plenamente integrados no sistema industrial. Cresceram dentro de empresas focadas no Mercado.
O design tornou-se um estilo, um instrumento de promoção e um instrumento de marketing. Toda a lógica do projecto gira, nos dias de hoje, em torno da criação de uma sedutora aparência externa visando o sucesso comercial.
A nossa cultura encontra-se ampla e efectivamente comercializada. Não podemos voltar atrás com o relógio e, além do mais, é duvidoso que realmente o queiramos.
Na verdade, cada um de nós consome com tanto entusiasmo como os restantes indivíduos.
RENNY RAMAKERS, LESS + MORE. DROOG DESIGN IN CONTEXT, 010 Publishers, Roterdão, 2002, pág. 9.
Tuesday, February 26, 2008
1. Regressam amanhã à ESAD de Matosinhos as conferências sobre Design Gráfico, integradas no Personal Views, com a apresentação de Stuart Bailey o co-fundador da revista Dot Dot Dot e do estúdio Dexter Sinister.
2. A 3ª edição da BUCHAREST BIENNALE, que tem como curadores os suecos Jan-Erik Lundstrom e Johan Sjostrom, é hoje apresentada na Fundação Calouste Gulbenkian numa conferência que contará com as presenças dos editores da revista “Pavilion” (os romenos Razvan Ion e Eugen Radescu) e do curador e crítico português Nuno Faria.
3. Chama-se ABISSOLOGIA Para uma Ciência Transitória do Indiscernível, é uma exposição de João Maria Gusmão e Pedro Paiva, produção ZDB com curadoria de Natxo Checa, e é provavelmente a melhor exposição presente nesta altura em Lisboa. A ver, na Galeria do Torreão Nascente da Cordoaria Nacional.
4. O designer espanhol Gabe Ibañez realizou, para o Metro de Madrid, um belíssimo filme publicitário, visão surpreendente e poética da nossa vida quotideana vista "de baixo". O video pode ser visto aqui.
5. Para quem, como eu, tem um encanto particular por "old" e "dead" media, a colecção dos coolest retro devices feita pelo Dark Roaster Blend é imperdível.
6. Descobri aqui, num arquivo de embalagens de preservativos dos anos 30/40, uma insuspeita alternativa para uma história do design gráfico deste período.
7. Na semana nos Óscares, recordamos a linda sequência de abertura de The age of Innocence de Martin Scorsese criada por Saul & Elaine Bass.
COMUNICAÇÃO E SISTEMA
Uma percentagem significativa do correio electrónico enviado para a conta gmail do Reactor é “filtrado” e enviado directamente para a caixa “Spam”. A conclusão é clara, a maior parte da comunicação que nos é dirigida pode ser considerada “perigosa” ou “indesejável”. Poderíamos questionar os critérios de avaliação, sendo certo que a triagem não é feita por nós mas, directamente, pela “máquina”. Torna-se, de resto, evidente, que alguma dessa comunicação, mais do que ser “perigosa” para nós, é perigosa para a máquina, e quando falo em máquina estou, bem entendido, a procurar objectivar, o “sistema”. Por vezes, sou assaltado por suspeitas de que o mesmo sistema que identifica e detém as “mensagens perigosas” é o responsável pela sua criação; outras vezes, assumindo a minha posição de professor de Semiótica, ponho simplesmente em causa os critérios de análise e avaliação das mensagens que o sistema exerce. Confesso que, mesmo quando consigo compreender o comportamento do sistema (detectar padrões etc.) não o consigo (em si) perceber. Escapa-me, precisamente, o que possa ser este “em si” do sistema. E, por vezes, caio “em mim” e começo a especular sob as possíveis situações em que a minha mensagem possa ser entendida, por um qualquer sistema, como perigosa ou indesejada e, nesse instante, consigo rever-me na posição das mensagens “Spam” – confinado a um espaço onde o que eu tenho para dizer se torne, enfim, inofensivo.
Sunday, February 24, 2008
Mensalmente vamos revelar algumas das nossas memórias gráficas sbre o design prortuguês da segunda metade do século XX.
ALMANAQUE
Janeiro de 1960
Design Gráfico_Sebastião Rodrigues
Ilustração da Capa_Sebastião Rodrigues
REVISTA TECNICA AUTOMOVEL
Outubro, 1983
Design Gráfico_Armando F. Costa
QUARTOS DUPLOS
Catálogo de Exposição, 1996
Centro de Arte Moderna Fundação Calouste Gulbenkian
Design Gráfico_Paulo Emiliano
Fotografia da Capa_Carlos Azevedo
TEMPORADA DE MÚSICA E DANÇA 2001/2002
Fundação Calouste Gulbenkian
Design Gráfico_Flúor
PÚBLICA
Suplemento de Domingo do Público
7 de Dezembro de 2003
Design Gráfico_Jorge Silva
Editor de Capa_Adriano Miranda
VENEER | FOLHEADO
Catálogo do Evento, 2003
Design Gráfico_Mackintóxico
DNA
Suplemento de Sexta-Feira do Diário de Notícias
13 de Agosto de 2004
Projecto Gráfico_Edith Jones (Cases I Associats)
Direcção de Arte_José Maria Ribeirinho
Fotografia de Capa_George Hoyningen-Huene
LUX
Flyer, Novembro de 2004
Design_RMAC
Thursday, February 21, 2008
A IMAGEM TELEVISIVA
Em Maio de 1997, o jornal Expresso inquiria seis personalidades, representativas de vários sectores sociais, sobre “a televisão que temos”. Questionavam-se, então, hábitos televisivos e solicitavam-se leituras críticas sobre a televisão, a programação e o serviço público num período de transformação marcado pelo arranque dos canais privados. Relendo a peça, interessou-me ver como as várias individualidades responderam ao pedido de serem fotografadas junto de um televisor ligado, interessou-me perceber como cada um se encenava num enquadramento dominado pela imagem no ecrã. Aceitar este convite correspondia, claramente, a aceitar um jogo de reenvios entre o que se é e o que se vê, assumindo a própria imagem como significante a ser revestido pelo significado da imagem televisiva a associar.
A identidade pública de cada um ficava, assim, marcada por uma imagem que se assumia numa espécie de hipersemia que lhe era dada pelo estatuto do medium que a suportava. Um pouco como "Videodrome", a personagem começava a entrar dentro do ecrã a partir do momento em que se deixava mobilizar pelo seu poder. Interessante é o facto das reflexões mais pertinentes sobre o poder do "medium" televisivo serem reflexões não-verbais e involuntárias. De facto, melhor do que a reflexão crítica avançada por cada um, é a encenação de uma identidade em jogo (dir-se-ia "dentro de campo") com a identidade da imagem televisiva, apresentada pelas fotografias. O que essa encenação revela é, desde logo, a consciência de que, se a televisão reduz a identidade ao plano da imagem, reveste-a, por outro lado, de um "corpo" que só se assume no ecrã.
Percebe-se, assim, a cuidadosa encenação a que cada um se entregou e que se presta a uma óptima análise semiótica. Veja-se o modo como Pedro Burmester vira ostensivamente as costas (atitude encenadamente "negligé" perante o espectáculo das massas, o futebol) ao televisor enquanto, focando a câmara, segura, negligente, uma partitura; como D. Eurico Nogueira parece pregar (a eloquência dos gestos!) ignorando um outro (curiosa a proximidade mimética) que prega na televisão; como João Soares Louro, assumindo o seu estatuto de Director de Programas da RTP, segura literalmente a televisão (que simbolicamente transmite a “jóia da coroa” as novelas da Globo); ou, ainda, como Manuel Maria Carrilho, representante nesta peça do Expresso da intelectualidade lusa, transforma a televisão num objecto em devir-livro, colocado na estante, no meio de outros livros, permitindo-nos ler Pessoa. A capacidade da televisão corroer o privado e lança-lo, já transformado, na esfera do público, acaba por se reflectir com clareza nestas imagens (toscamente) encenadas. Que as vejamos hoje num outro ecrã, agenciadas por um outro "medium", é assunto para um outro "post".
Genérico "radical" da série juvenil "Riscos" (RTP, 1997).
(Esta é uma versão de um texto publicado no Reactor a 26 de Junho de 2007)
Tuesday, February 19, 2008
1.
Ao longo da semana passada, Stefan Sagmeister foi o guest blogger do The Moment novo blog do NYTimes. O primeiro “post” deu-nos conta da sua experiência de leitor/escritor de blogues – “I have always avoided blogs, partly because writing is difficult for me (that’s why I became a designer) and partly because they seem to bring out a mean streak in many of us” – e os três seguintes são breves notas, de tom biográfico, que revelam atentos retratos do quotideano. O último post, intitulado “Defragmentation of Machine and Man”, é um elogio, também na primeira pessoa, da desfragmentação: das máquinas como das pessoas.
2.
É um novo e excelente site sobre a evolução histórica da comunicação gráfica. Podia chamar-se “A história da comunicação visual: Das cavernas aos computadores” ou ainda “The History of Graphic Design de Meggs adaptada à internet”. Muito recomendável.
3.
O Correios Norte-Americanos acabam de lançar uma série de 16 selos celebrando a obra do casal Eames. Os selos foram desenhados por Derry Noyes, designer dos USPS, numa evocação de obras dos Eames como a Eames House, a Lounge Chair, a La Chaise e muitas outras.
4.
Inaugura no próximo dia 21, no Centro Cultural da Ilha Graciosa, nos Açores, a exposição de Nuno Coelho UMA TERRA SEM GENTE PARA GENTE SEM TERRA. A exposição "Uma Terra Sem Gente, Para Gente Sem Terra" é composta por diversos posters de grande formato, com desenhos de contorno a preto-e-branco, que convidam os visitantes a preencher de cor usando os diversos lápis dispostos para o efeito. Uma vez mais, Nuno Coelho explora no seu trabalho conceitos como o vernáculo e a interactividade do público com diversos materiais impressos. Os posters mostram diversos mapas e gráficos, assim como desenhos realizados a partir de fotografias recolhidas na sua viagem de um mês à Palestina em 2006 onde teve um contacto íntimo com a complexa situação da região.
5.
O concurso chamou-se What if New York City… | Post-Disaster Housing Design Competition e pedia aos designers que concebessem soluções para uma cidade de Nova York devastada. Entre os vencedores destaque para o projecto Registrant da autoria de João Sequeira, Ana Figueiredo, Marta Moreira e Pedro Ferreira.
6.
Parece uma cena de um filme do Wes Anderson mas é uma imagem da Loja Qubus, uma loja de objectos de design situada em Praga na República checa. A loja tem objectos criados pelo Qubus Studio empresa de design criada em Praga em 2002 e uma disposição que, apesar de “original” e “contemporânea”, nos transporta para o espaço (cada vez menos real e mais imaginário) do comércio tradicional.
7.
A famosa Egg Chair desenhada pelo arquitecto dinamarquês Arne Jacobsen em 1958 e produzida por Fritz Hansen vai lançar, durante o corrente ano, 999 edições limitadas da cadeira como forma de comemorar (e rentabilizar ainda mais) os seus cinquenta anos. Um "ovo de ouro", portanto!
8.
Os melhores do ano passado (que ainda é cedo para balanços do presente) em 60 categorias (podiam ser trinta podiam ser cem, é um número caramba!) segundo a Wallpaper já foram divulgados. Tudo sobre os Wallpaper design Awards 2008 aqui.
9.
A ARTE CAPITAL publicou uma longa entrevista conduzida por sandra Jurgens com o historiador e crítico de arte João Pinharanda actualmente Director artístico do Museu de Arte Contemporânea de Elvas. Uma boa entrevista sobre um percurso crítico, exigente e coerente, já com mais de vinte anos.
10.
Numa altura em que se debate o futuro do Mercado do Bolhão, recordo “Mercado do Bolhão” o filme de Renata Sancho, visão directa sobre um espaço agora sob ameaça.
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