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O MEU ANO: 1959 POR PEDRO CABRAL DIAS*
Nasci em 1959 o mesmo ano de À bout de Souffle de Godard e como ele já levado pelos ventos de uma nova vaga que se faziam sentir desde meados na década de 1950.
Em Portugal consumada a execução do I Plano de Fomento (1953-1958) começava-se a sentir uma lenta abertura ao exterior com a adesão, nesse ano de 59, do país à Associação Europeia de Comércio Livre/EFTA. A relativa abertura económica era acompanhada de uma muito ténue abertura cultural. O Fundo de Fomento de Exportação permitiu a vários designers do SNI apresentarem o seu trabalho nas exposições internacionais de Bruxelas, Hamburgo, Munique e Estocolmo (1958/59), como foram os casos de Manuel Lapa, Tom, Manuel Rodrigues, Sebastião Rodrigues, Roberto Araújo ou Fred Kradolfer.
Também a realização da Feira das Indústrias Portuguesas e da Exposição Evocativa das Obras da Rainha D. Leonor, mesmo parecendo exposições de um outro século se comparadas com o À bout de souffle, possibilitaram, nesse ano de 59, a excelentes designers como Manuel Rodrigues ou Eduardo Anahory actualizarem uma nova linguagem gráfica e “decorativa” aplicada na produção dos materiais gráficos e dos stands.
A obra mais emblemática desse ano de 59 foi provavelmente a conclusão do luxuoso Bloco das Águas Livres nas Amoreiras no qual estiveram envolvidos Nuno Teotónio Pereira e Bartolomeu Costa Cabral que, com os seus colaboradores, desenvolveram não apenas o projecto de Arquitectura e Interiores mas também equipamentos, lettering e sinalética.
Sim, nascer em 1959 recorda-me que já não caminho para novo através dos mais diversos detalhes. Dizer que nascemos no mesmo ano em que o Microship foi inventado é meio caminho andado para nos transformarmos em curiosidade histórica. Creio que seja qual for o ano em que se nasceu sempre é possível juntar uma lista de curiosidades, o pormenor aqui é tratarem-se de curiosidades tiradas do baú da história. Exemplos? Neste ano apareceu pela primeira vez a boneca Barbie; Charles de Gaulle tornou-se Presidente de França e Fidel Castro Primeiro Ministro de Cuba; Frank Lloyd Wright projecta o Museu Guggenheim; o meu tio Ernesto parte para Paris causando grande tristeza pelo menos numa parte da família.
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Nasci em 1959 o mesmo ano de Bruce Mau e Bruce Mau não podia nascer num ano mau para o Design, por outro lado neste mesmo ano morreu Frank Lloyd Wright e creio que Lloyd Wright não podia morrer num ano bom. Foi, pelo menos, um ano cheio: Dick Coyne cria a Communication Arts; Herb Lubalin publica o ensaio “What is New American Typography?”; Saul Bass desenha a sequência de abertura do filme de Preminger Anatomy of a Murder.
E claro, desse ano ficaram cartazes, dezenas de brilhantes cartazes, do Giselle do suiço Armin Hofman ao cartaz publicitário do medicamento Pyrexal da autoria de Herman Rastorfer.
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1959 foi um ano importante. Para mim, para o Bruce Mau, para o Tio Eduardo mas não só. E para os que dizem que o melhor de 1959 foi ter dado lugar aos anos 60, eu respondo sempre: sem dúvida, mas com alicerces de 50!
* Os "convidados" de O Meu Ano são personagens de ficção. Texto da autoria de José M. Bártolo.
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