Thursday, July 26, 2012

1 + 1 Design Gráfico



A exposição 1+1 Design Gráfico João Machado + José Brandão esteve esta semana em destaque no Diário da Câmara Clara, aqui fica o link.

Monday, July 23, 2012

Museu Virtual do Design Português




Uma das consequências positivas do crescimento do contexto académico de design, nomeadamente o grande aumento do número de alunos de mestrado e doutoramento ao longo da última década, foi o aparecimento de trabalhos sobre história do design em Portugal.

Algumas teses resultaram já em publicações, como o recente Design Gráfico em Portugal de Margarida Fragoso; inúmeras outras podem ser consultadas on-line, mostrando uma particular atenção aos estudos monográficos (Sebastião Rodrigues, António Garcia, Maria Keil, Fred Kradolfer...).

Continuando a faltar um trabalho de outro fôlego, capaz de apresentar de forma mais sistematizada a história do design português (que Maria Helena Souto começou a contar mas detendo-se, para já, no início do século XX), ainda assim com muita regularidade surgem trabalhos e projectos interessantes.

O Museu Virtual do Design Português é um desses projectos interessantes. Desenvolvido no contexto do curso de design da Universidade de Aveiro e aproveitando o trabalho de pesquisa dos alunos da unidade curricular de história do design português, apresenta-nos um arquivo em permanente actualização. Se consultado hoje, várias são as ausências que se fazem notar (faltam lá TOM, Manuel Rodrigues, Câmara Leme e muitos outros), diversos são os designers referenciados mas sobre os quais falta enquadramento (veja-se o exemplo de Victor Palla) mas estas lacunas, sobretudo num projecto em progresso, nada anulam ao mérito da iniciativa.

Da minha parte, espero que este Museu Virtual possa continuar a crescer: em obras, em informação e em público.

Tuesday, July 17, 2012

Conversas




Há quase dez anos organizei uma longa série de conversas na Casa d’ Os dias da água que funcionava no belo palacete na Estefânia onde antes tinham estado os CTT.

Os encontros chamavam-se Múltiplas Percepções  aconteciam aos domingos ao fim da tarde e prolongavam-se pelo tempo da conversa. Cada sessão reunia em torno de um determinado tema um conjunto de vozes diferentes e entre muitos, muitos outros comigo por ali conversaram Eduardo Prado Coelho, Olga Roriz, André Sier, Nuno Grande, Natxo Txeca ou Gonçalo M. Tavares. As conversas eram abertas e verdadeiramente não havia público, no sentido da separação entre intervenientes e espectadores, recordo-me de todos serem igualmente interessados e participativos.

No final as conversas prolongavam-se, com frequência, à mesa de jantar ou num bar no bairro alto na companhia do Francisco Rocha, da Catarina Crespo, dos amigos da Sonda Design e de mais alguém que a nós se juntava.

Na altura, como em certa medida ainda hoje, reconheço que a ideia da estética relacional do Bourriaud me atraía com uma carga afectiva que me retirava lucidez crítica. Na verdade, gosto de construir comunidades, gosto de economias de afectos, gosto da produção imaterial que situações de convivialidade, encontro e conversas, propiciam.

Gosto por isso muito, mesmo não conhecendo muito, das Conversas que a Constança Saraiva e a Mafalda Fernandes vêm suscitando; gosto do que nelas é projecto e do que nelas é projectado; gosto do que elas provocam e promovem; de como motivam e revelam motivações; e também ideias, convicções e interrogações. E gosto muito do projecto editorial que nos transmite o espírito, a forma e o conteúdo, da autoria da excelente Isabel Lucena.

Este tipo de projectos de iniciativa própria tornaram-se frequentes, nos 90’s e no início deste século, em países como a Holanda ou o Reino Unido onde era fácil a iniciativa própria ser financiada pelo estado e ancorada no contexto de uma estrutura independente – estúdio de design ou galeria – quando não mesmo de uma escola. Também na Holanda os corte na cultura têm sido dramáticos, mas ficou a educação para um determinado tipo de projectos culturalmente envolvidos produzidos por designers.

Em Portugal, os apoios sempre foram mínimos e hoje são virtualmente inexistentes. Também por isso projectos de iniciativa própria como estas excelentes Conversas não fazem parte deste país governado pela Troika e que não reserva à cultura sequer um ministério; estes projectos fazem parte de uma realidade alternativa, eles afirmam um outro contexto, apontam para uma outra economia, rasgam uma outra possibilidade de futuro.

Era uma vez um design reader




Há cerca de um ano foi publicado um reader de design que eu organizei. Embora tenha aparecido em alguns escaparates de livrarias, a publicação passou no meio da maior discrição, nenhuma recensão lhe foi feita, nenhuma crítica ou elogio, nenhuma discussão gerou.

Esta antologia de textos, surgiu como um número da Revista de Comunicação e Linguagens que o CECL edita desde 1985. Mais do que formato de revista, os volumes são livros (com cerca de 300 páginas) com ensaios, em regra, densos e estimulantes. Graficamente as RCL são áridas e desinteressantes – textos longos justificados, em Garamond, sem imagens e com notas condensadas no fim do documento – mas não atrapalham a leitura.

A desatenção a que esta obra foi votada merece uma pequena reflexão. O simples facto de surgir, no paupérrimo meio editorial português, um livro de crítica do design deveria suscitar algum interesse, mas na verdade começamos a notar que muitas vozes fazem mais alarido à ausência do que à presença das coisas. Queixamo-nos a alta voz que não existem livros, nem exposições, nem revistas, nem eventos de design mas quando, por fim, eles surgem (e nos últimos tempos têm surgido) as mesmas vozes que se queixavam assobiam para o lado e encontram renovados motivos para se queixar.

Neste caso, a desatenção surpreende-me, por três razões:

Em primeiro lugar, por ser o reader um dos géneros editoriais mais explorados no campo do design na última década e meia. Na verdade, a recente teoria do design assentou na publicação de readers – sobretudo, desde 1994, com a série Looking Closer  - e na forma como se fez o arquivo da produção teórica em design do final do século XIX até à actualidade. Este interesse pelo reader não surpreende, ele permite a designers que trabalham com texto explorarem princípios tipicamente de projecto: edição, montagem, arquivo, etc.

Em segundo lugar, por este ser apenas o segundo livro, dentro deste género, a surgir em Portugal, o primeiro havia sido Design em Aberto (1993) organizado por Ana Alçada, Fernando Mendes e Martins Barata.

Em terceiro lugar, embora advogue em causa própria, pela qualidade da publicação, reunindo um conjunto de textos, na sua grande maioria inéditos, muito importantes para a compreensão de temas e debates que marcaram (marcam) o campo do design contemporâneo.

Organizado em torno de quatro noções-chave – Teoria; História; Ideologia; Tecnologia – reunia um conjunto diversificado de perspectivas críticas de autores como Bernard Stiegler, Andrew Blauvelt, Mark Wigley, Heitor Alvelos ou Andrew Howard.

Talvez este levantar da questão acerca do porquê do livro ter sido um não-acontecimento ainda possa ajudar a que alguma explicação apareça.

Sunday, July 15, 2012

1 + 1 Design Gráfico

http://www.esad.pt/pt/eventos/11-design-grafico-joao-machado-jose-brandao


1.

No prefácio à primeira edição da História do Design Gráfico, Philip B. Meggs evoca uma palavra que não possuí equivalente em português: Zeitgeist. Ela significa o espírito de uma época e refere-se a marcas e tendências que caracterizam um determinado tempo. O carácter imediato e efémero do design gráfico e a sua particular modelação pelo contexto social, tecnológico e económico de uma determinada cultura permite que ele expresse esses sinais do tempo de uma forma mais plena do que, possivelmente, qualquer outra produção humana.

Esta absoluta sintonia com o presente, que geralmente caracteriza o trabalho gráfico e nos permite com ele contactar e dele usufruir quotidianamente – nos cartazes, nos mapas ou nas capas dos discos – associada ao carácter facilmente reprodutível, torna o design, precisamente por essa proximidade, num objecto de estudo específico e difícil, em relação ao qual, de cada vez, é preciso construir o necessário distanciamento crítico.

O método de analisar, arquivar ou expor um objecto artístico, em particular o  modelo monográfico típico da história e da curadoria da arte, não será o mais adequado ao objecto de design na medida em que o design se caracteriza por uma negociação entre produção autoral e adequação ao programa definido pelo cliente, entre funcionalidade e poética, entre imediaticidade e memória, entre liberdade criativa e constrangimentos determinados por prazos, orçamentos, materiais e ferramentas técnicas.

Será a análise comparativa, mostrando-nos como dois designers, num contexto idêntico, resolveram de formas distintas desafios semelhantes, o modelo que melhor permitirá não só evidenciar características processuais específicas do projecto gráfico como destacar a dimensão autoral que lhes está associada, simultaneamente: identificar e diferenciar.



2.

O design gráfico em Portugal não nasceu com Sebastião Rodrigues, mas teve certamente neste autor, na credibilização da profissão que o rigor e sensibilidade do seu trabalho proporcionaram, e no reconhecimento internacional, um momento de viragem que ocorre, também, num período de mudança cultural e política do nosso país.

Ao fazer a transição entre o Portugal do Estado Novo e a realidade gerada com o 25 de Abril de 1974, Sebastião Rodrigues (tal como Victor Palla ou Armando Alves) faz a transição entre duas gerações, aquela que o antecede, a dos pioneiros do design gráfico português (como Fred Kradolfer ou Manuel Rodrigues) e aquela que lhe sucede, a do novo design português onde se destacam José Brandão em Lisboa e João Machado no Porto.

Os ateliers dirigidos por José Brandão e João Machado representaram, sob várias perspectivas incluindo a comercial, a expressão maior da prática do design no contexto do Portugal democrático consolidada num território traduzido, desde logo, nos seus clientes – clientes da grande Lisboa no caso de Brandão do grande Porto no caso de Machado.  No entanto é, sem dúvida, limitador pensar a importância destes dois autores circunscrevendo-os a um contexto regional ou mesmo nacional. Pelo contrário, o que se destaca é a forma como o seu trabalho acompanha as novas linguagens internacionais, como elas dialoga e as interpreta e, como, bem cedo, as representa, nomeadamente Machado cujo trabalho, desde muito cedo, conhece forte visibilidade internacional.

Neste sentido, a exposição 1 + 1 Design Gráfico pode começar por ser vista como uma seleção vasta de trabalhos de dois dos mais importantes designers europeus dos últimos 50 anos.  

Brandão nasceu em Nova York e formou-se em design gráfico em Londres, trabalhou no atelier Joubert em Paris e com Keith Cunningham em Londres, na capital britânica viria a chefiar o gabinete de design da sede do Imperial Group e a leccionar no Hammersmith College of Art and Building. Machado é dos designers contemporâneos mais expostos e publicados internacionalmente, tendo recebido, para além de inúmeras outras distinções,  o Prémio Excelência da Icograda; o seu trabalho foi exposto individualmente na Alemanha, França, Espanha, Canada, México, Brasil, Dinamarca ou Japão, incluindo na DDD Gallery em Osaka e largamente publicado (Design Journal, Creative Edge, Graphis, Print Magazine entre muitas outras).

Sucede serem este dois designers ambos portugueses, e se esse facto não é irrelevante não encerra a sua importância dentro das fronteiras nacionais. Com uma obra vasta, há muito consolidada, inovadora e fortemente autoral, João Machado e José Brandão podem ser colocados na galeria dos maiores designers europeus, a par de nomes como colocar Pierre Bernard, Uwe Loesch, Alan Fletcher, Holger Matthies, Pierre Mendell, Niklaus Troxler ou Leszek Wisniewski.

3.

João Machado (Coimbra, 1942) formou-se em Escultura na Escola de Belas Artes do Porto. O contacto com professores como Lagoa Henriques exercitou-lhe o rigor e precisão do desenho mas seria o contacto com outros universos gráficos (a Pop Art, os cartazes polacos e o design gráfico japonês) e uma insaciável vontade de criação e experimentação que viriam a definir uma linguagem única que se consolidou num processo de evolução formal (desenho; aerógrafo; colagem; design digital) e conceptual não deixando de partir de um conjunto de referências recorrentes (o design vernacular português, com os seus motivos icónico-folclóricos, e um conjunto de influências internacionais (como a técnica de colagem de Tomaszewski) ancoradas num universo autoral próprio.

José Brandão (Nova York, 1944) formou-se em Design Gráfico em Londres (1970) depois de ter passado, muito jovem, pelas Belas Artes e pelo Curso de Design Básico na Bauhaus portuguesa que Daciano da Costa havia imaginado. A expressividade do seu traço e a densidade conceptual do seu universo como ilustrador encontram a síntese num trabalho de design gráfico erudito, tão atento à ilustração como à fotografia, ao lettering como a questões de grelha, indo beber influências ao grafismo britânico e norte-americano (Geoff White, Richard Hollis, Keith Cunningham, Push Pin Studios) quer ao rigor técnico e atenção ao detalhe apreendidos no convívio próximo com Sebastião Rodrigues.

4.

Como descrever, em traços simples, a exposição 1 + 1 Design Gráfico? Podemos começar por pensar duas exposições autónomas, única forma possível de comunicar dois universos criativos distintos.

A Exposição João Machado Design Gráfico parte de um núcleo expositivo central constituído por trabalho recente, desenvolvido ao longo da última década, tendo como suporte preferencial o cartaz mas envolvendo outros suportes e formatos, seja de forma mais recorrente (selos e livros) seja mais ocasional (o design de produto).

Cartazes como os do International Year of Forests (2011) e Japan - From Great Earthquake to Recreation (2011) permitem identificar clientes (na sua maioria internacionais) e temas do trabalho recente, ao mesmo tempo que evidenciam uma impressionante largura sintática e semântica do trabalho: da simplicidade minimal do cartaz Japan, à foça icónica da ilustração digital dos cartazes do Year of Forests ou das Comemorações do 25 de Abril (Almada, 2012), à densidade do desenho no díptico Save the Life/Water for Life. O percurso expositivo que nos faz chegar aqui apresenta-nos um conjunto diversificado de trabalhos, mas também elementos de processo, estudos e artes finais.

Nas ilustrações do final dos anos 70 e início de 80, feitas a Rotering, aguarela ou pastel,  destaca-se uma linguagem Pop no tratamento de temas frequentemente satíricos da realidade social e política. Nos cartazes desse período, sente-se uma vontade de explorar diferentes soluções formais, através de experiências de composição e impressão; as influências externas, como Milton Glaser ou a técnica de serigrafia em íris usada por Peter Max nos seus cartazes do início dos anos 70, manifesta-se em cartazes como o do Ano Internacional da Criança (1979), mas não deixando de revelar um crescente amadurecimento de uma linguagem própria: estilo João Machado, que surge perfeitamente consolidado e, mesmo, depurado nos cartazes dos anos 90 (excelente exemplo o cartaz para a Câmara Municipal de Lamego de 1996).

A Exposição José Brandão Design Gráfico tem como núcleo expositivo o design editorial, selecionando perto de uma centena de livros, de carácter cultural (catálogos de exposição, monografias de artistas, arquitectos e designers) e comercial (relatórios e contas para a Fundação Calouste Gulbenkian ou Portugal Telecom). O livro permite identificar diversos recursos projectuais, explorados neste meio específico, que sob outras formas, mas partindo de uma mesma matriz criativa, encontramos explorados nos cartazes, selos, capas de discos ou desdobráveis. Mais do que colocar o foco neste ou naquele período de tempo, pretendeu-se remeter para um tempo do projecto, que se percepciona através das recorrências que se podem encontrar em trabalho feito em diversas décadas e apoiado em diferentes ferramentas técnicas analógicas ou digitais.
Da capa glaseriana de Por Este Rio Acima (1982), ao belíssimo livro (no qual Sebastião Rodrigues ainda colaborou) comemorativo dos 25 anos da Gulbenkian, Fundação Calouste Gulbenkian 1956-1981 (1983), da subtil lição de história de arte do desdobrável Queda e ascenção da estética clássica (1987) à força da linguagem directa do cartaz Cenas de uma Execução (1997) muitas são as direcções propostas pela obra de Brandão.

Se podemos começar por pensar em duas exposições autónomas, no espaço expositivo elas tendem a resultar numa só. Aqui a intenção curatorial concretiza-se no dispositivo comunicacional. A intenção curatorial parte da convicção, a que já aludimos, de que os mecanismos de display (mesmo associados à história ou à teoria) da história de arte não se adequam a tratar o trabalho de design. O projecto de design resultando de uma criação autoral caracteriza-se pela interferência de conjunto de outros elementos específicos (cliente, constrangimentos técnicos e materiais, prazos etc.) que se evidenciam mais correctamente através de um olhar comparativo.

As duas exposições resultam numa, igualmente, através de um conjunto de princípios comuns,  orientadores da exposição que se traduzem numa certa narrativa assente na reversibilidade entre projecto e processo, público e privado, e na própria reversibilidade entre um tempo lento (que permite a experiência, a produção de várias maquetes, os inúmeros testes de impressão) e um tempo rápido esteja ele ligado à execução do trabalho (o tempo do cliente, do designer e do público), esteja ele ligado à própria efemeridade dos objectos gráficos: flyers, cartazes e economato que deixam de ter função no momento em que a cumprem.




Esta é uma exposição que resulta do cruzamento de caminhos de duas exposições que apresentam trabalhos de dois nomes maiores do design gráfico contemporâneo. Esse cruzamento de caminhos, logo de formas de olhar e de dar a ver, permite situar, enquadrar, problematizar. Identifica e diferencia, numa celebração de dois nomes; numa celebração do design gráfico português.

Saturday, July 14, 2012

Quente/Frio



O próximo número da revista PLI  tem por tema Hot&Cool. Neste confronto entre quente e frio evocam-se uma série de outras polaridades sejam elas ligadas ao contexto disciplinar do design – design quente vs. design frio; design autoral vs. design comercial; design moderno vs. design pós-moderno – sejam elas mais abrangentes – Sul vs. Norte; economia vs. finanças; ética vs. mercados; pobres vs. ricos etc.

Quente e Frio evoca, afinal, a crescente conflitualidade – geracional, corporativa, de classes – e a aparente indefinição do estado de coisas a surgir depois de ultrapassado o estado de crise das coisas.

O design talvez seja coisa menor; talvez perante os números do desemprego, a incompetência dos políticos, a crescente falência do estado, a ausência de formas de mediação forte, não haja razões para se falar de design; talvez temas como social design – assunto tão generalizadamente presente antes de rebentar a bolha – seja entretenimento burguês. Mas creio que não!

Na verdade, penso que hoje começa a existir em Portugal uma efectiva cultura do design que, mesmo que em doses variáveis, revela a existência de designers notáveis, de público, de alguns empreendedores e de alguma crítica. Em termos de mercado a situação é seguramente muito difícil. Se há uma ou duas décadas atrás existiam alguns bons clientes e muitos maus clientes, hoje simplesmente não existem clientes; o que não impede de haver bom design e isso é sintoma da força da disciplina malgrado a crise.

Para esta afirmação de uma cultura do design mais do que um protagonista deve ser evocado.
Em primeiro lugar, os designers. Hoje coexistem três, talvez mesmo quatro, gerações de designers com trabalho de muita qualidade; sobretudo no design gráfico, onde os projectos de iniciativa própria ou design pro bono surgem com mais facilidade, é estimulante perceber esta contemporaneidade de José Brandão e João Machado, de Jorge Silva e Pedro Albuquerque, dos R2 e de Pedro Falcão, de Joana&Mariana e de Sérgio Alves. O sucesso do evento World Graphics Day que organizo há três anos, tem comprovado essa qualidade.

Em segundo lugar, as escolas. Dou aulas de design há cerca de 15 anos; já leccionei ou colaborei com quase todas as escolas de design em Portugal – do Politécnico de Viana do Castelo à Universidade da Madeira, passando pelas Belas Artes de Lisboa e do Porto – e não tenho dúvidas da elevada qualidade, muito superior à que existia há uma década, de muitos cursos de design (ESAD, ESAD-CR, Politécnico de Tomar, Belas Artes de Lisboa entre outros).

Em terceiro lugar, a existência de prática crítica; traduza-se ela em projectos editoriais, curatoriais ou outros. Da Coleção D às Jornadas Cantianas diversas têm sido as iniciativas de valor que excelentes designers (como Jorge Silva e António Silveira Gomes) promovem à margem do seu trabalho de atelier.

Pela minha parte, tenho estado, igualmente, empenhado nesse esforço de fazer coisas em design. Em 2007, publiquei aqui no Reactor quase 200 posts; nos últimos dois anos publiquei, com este, apenas 20. Há para este facto mais do que uma razão,  sentir ser hoje menos importante a blogosfera como fórum democrático de divulgação, discussão e crítica – as redes sociais, por um lado, e novas formas de trabalhar os media tradicionais (livros, revistas) por outro, esvaziaram parte da utilidade dos blogues – mas sobretudo por estar, como talvez nunca, ocupado a fazer: exposições, publicações, workshops, uma série de projectos envolvendo velhos e novos amigos, catalisando interesses, explorando uma crescente economia de afectos.

Organizei o último número da PLI  em torno no mote do entusiasmo; no que ele envolve de ideológico e de emotivo, permaneço entusiasmado, ou se preferirem, inconformado; e como eu, muitos outros no campo do design em Portugal.

PERFIL

REACTOR é um blogue sobre cultura do design de José Bártolo (CV). Facebook. e-mail: reactor.blog@gmail.com