Sunday, September 30, 2007

O DESIGN SOCIAL EM QUESTÃO: ENTREVISTA COM JOANA BÉRTHOLO


Joana Bértholo é actualmente responsável pela pesquisa e coordenação do projecto Social Design Site, sediado em Berlim. Formada em Design de Comunicação pelas Belas-Artes de Lisboa, o seu trabalho de final de curso sobre produção gráfica sustentável parece ter-lhe definido o rumo. A causa de um design socialmente mais empenhado é actualmente central no seu trabalho e na sua vida.




REACTOR: No final da década de 90 assistimos ao ressurgir do discurso na sua forma mais comprometida com a acção – o manifesto. A publicação de uma nova versão do Manifesto First Things Firts em 1999 parecia encontrar, nessa viragem do século, espaço de recepção entre designers (teoricamente preparados pelo criticismo norte-americano e crescentemente identificados com os processos de acção directa de estruturas como os Adbusters ou os Cactus Network) impondo uma “agenda social e política” associada ao trabalho dos designers. Que leitura faz desse processo e o que lhe parece ter sido construído a partir daí?

JOANA BÉRTHOLO: No essencial, penso que as coisas não mudaram muito.
A comunidade de designers é ainda qualquer coisa de plural, e é bom que assim seja. Mas julgo que estamos ainda longe de uma unidade no que toca a percepção do nosso papel como agentes sociais. Há ainda uma larga maioria de designers para quem estas questões não são sequer ponderadas. Ou que se sentem de tal forma limitados por uma instituição, um cliente, ou um mercado, que transferem a ideia de uma agenda social e politica permanente, para um plano utópico, ou teórico, muito além da sua zona de actuação.
Se em 64 eram umas quatro centenas de visionários, em 99 seriam só uma pequena elite, mas representando muitos mais; Em 2007 somos já uma rede, altamente activa, altamente motivada, altamente dedicada. Mas, arrisco: ainda em minoria?
A verdade é que ainda se discutem as consequências e competências sociais do design como se fosse qualquer coisa a integrar, a anexar, ao processo. Como se não fosse algo de intrínseco à actividade de qualquer designer: quer ele esteja consciente disso ou não.
Indubitavelmente, esse nível de consciência aumentou, ou generalizou-se. E até a uma velocidade considerável, neste último par de anos, com o surgimento do “verde” e do “sustentável” como algo em moda.
Hoje, fechado ou não num fenómeno de moda, o design social e ambientalmente responsável tornou-se uma tendência tão forte e contagiante, que enfrentamos uma quase-saturação de networks e contactologia, sobretudo promovidas pela net. Todos os dias surgem recursos e plataformas novas ao serviço do designer bem intencionado. A oferta não aumentou só a nível do tamanho dessa (talvez) minoria, como também na sua complexidade. Cada vez mais, os designers a encontram lugar dentro de equipas multidisciplinares, e são chamados a responder problemas de pertinência global, de redesign de atitudes e paradigmas, muito para lá dos objectos e das mensagens.
Na base de qualquer discurso sobre Design Socialmente Responsável tenho de clarificar que não sou adepta da ideia do designer-todo-poderoso que vem salvar o mundo. Acredito que os designers têm de assumir o poder (papel?) que lhes possa caber, como iniciadores, como promotores, como catalistas ou como mediadores, entre uma lógica de consumo e uma lógica de informação. Mas não está só nas nossas mãos. Temos de saber é dar as mãos às pessoas certas…Entenda-se: quero com isto dizer, cooperação, colaboração e multidisciplinaridade.


R: Um célebre editorial de Vicente Jorge Silva no Público classificava, em meados dos anos 90, uma geração de estudantes universitários e pré-universitários portugueses de "geração rasca". O que, então, se questionava era a existência ou não de causas associadas a uma determinada luta. Também no Design, o empenho e a responsabilidade social parece só agora surgir definida depois de oscilar entre um “discurso de oposição” e um “discurso de alternativa”. Ter-se-á evoluído do designer como “agitador” para o designer como “catalizador” social?

J.B.: Tenho algumas reservas em relação a esta ideia de evolução: há aqui alguma avaliação qualitativa do designer como catalisador em relação ao designer como agitador? Não será que na maioria dos casos uma e outra coisa andem de mãos dadas?
Acredito sobretudo na força de uma pluralidade de tipologias, sempre dentro de um entendimento comum do papel social do designer. Há tantos papeis e tantos contextos a preencher, que generalizar seria colocar as largas possibilidades da actividade do design dentro de um compartimento demasiado cerrado.
Nem todos os designers estão interessados em trabalhar à margem de um sistema, ou em oposição a este. A maioria nem acha isso exequível. Nem tudo se reduz a um questionar do “status-quo”, mesmo quando manter o espírito crítico seja condição incontornável.
Fazer perguntas. Pensar fora da caixa. Alternativa, ou oposição…
Dentro de uma ideia maior de design socialmente consciente, há diversas abordagens, do designer como agitador, como reivindicador, mas também do designer como iniciador de novas tendências, como promotor, como facilitador, ou acelerador/catalisador…
Há também um novo espaço de actuação em definição gradual, que pessoalmente acredito irá dominar a actividade do designer em futuros próximos. Esta tem a ver com a ideia do designer como maestro, como aquele que desenha as ferramentas ou lança as estruturas sobre as quais ou com as quais todos os outros podem desenhar também. As ilustrações mais expressivas desta tipologia são todos os tipos de software e jogos “open-source”, ou o Second Life. Através desta lógica, o designer pode tornar-se um agente extremamente importante na criação de formas de participação social, de cidadania, de debate público.
Não acho que haja evolução. Talvez, complexificação ?


R: Parece claro que a acção que não é orientada por um “programa” é tendencialmente estéril. A Exposição Catalysts que o Max Bruinsma comissariou para o CCB (integrada na Experimenta) era, em meu entender, desastrosa porque, retirando os trabalhos ao contexto crítico da sua produção, apresentava aos visitantes simples exercícios formais. Parece-me que os “culture jammers” tiveram o mérito de dar visibilidade mediática à ideia de que o design é uma ferramenta social, política e económica, ideia esta que recebeu a necessária sustentação teórica e programática em obras como o Citizen Designer do Heller e da Vienne . Este enquadramento programático e a sua crescente divulgação – em conferências, revistas e mais recentemente blogs – permitiu o ressurgimento de projectos colectivos com lógicas fortes de aplicação social do design, algo que desaparecera com o fim dos projectos-escola (a Bauhaus, Ulm e finalmente Cranbrook) e que em termos de design estava ausente das preocupações dominantes das ONG’S dos anos 80 e início de 90. Um exemplo, a globalização. Embora encontremos reflexões sobre a globalização e o global design a partir do final dos anos 70 (Papanek; Christopher Lorenz) verdadeiramente só com o Massive Change do Bruce Mau é que o tema encontra centralidade na cultura do design contemporânea…

J.B.: Precisava de perceber primeiro o que se entende aqui por “programa”. Se tem a ver com a ideia de “causa” então, para mim, a esterilidade da acção está muito mais no sujeito, na profundidade dele nessa entrega ou conhecimento do “programa”, do que na ideologia em si. Pode ser mais relevante o abraçar de uma causa, do que a causa em si. Há eterna dicotomia dos meios em relação aos fins, do processo em relação ao resultado. Mas fico sem perceber em que bases a primeira afirmação é feita.

No que concerne a Catalysts, receio discordar. Não a li como uma superficial justaposição de exercícios formais. Bem, até o Muro de Berlim, ao longo do qual pedalo todas as manhãs para chegar ao escritório, se olhar para ele objectivamente, é um troço de cimento com 3 metros de altura. Mas que ideologias (Programas? Causas?) estão subjacentes a estes destroços? Que mudanças de percepção estavam sugeridas em cada um daqueles cartazes no CCB?
Achei a exposição pertinente como iniciadora do discurso. Como ponto de partida, e como ponto de encontro. Até que ponto um trabalho tem de ser contextualizado quando se abordam questões como a fome, a inclusão social, desequilíbrios económicos, ainda hoje tão prementes? Nesse sentido, é interessante explorar uma intemporalidade…
Sim, o Massive Change traz finalmente uma proposta explícita e bem colocada de uma consciência global, holística, interconectada. É feliz em ajudar-nos a ver de uma forma macro, sem esquecer um compromisso especifico a um contexto local. "Good design is good citizenship", lá dizia o Milton Glaser …


R.: Falemos agora do Social Design Site, como caracteriza esta estrutura e como se deu a sua integração no projecto?

J.B.: Integrei o projecto na qualidade de estagiária, pouco depois de me licenciar em Design de Comunicação pelas Belas-Artes de Lisboa. Procurava experiência “de campo” nesta área. Por este projecto passam muitos outros, e foi isso que me atraiu. Acabei por ficar responsável pela criação da nova plataforma, on-line no início de Outubro próximo. O que existe on-line hoje, no momento desta entrevista, desaparecerá em breve. Sobre esta nova fase, é prematuro desenhar conclusões.
O intuito do Social Design Site é primeiramente promover debate em volta do tema. Nesta segunda fase, procurou-se partir de uma participação passiva (a exposição on-line como existe hoje) para uma construção participativa horizontal. Não é uma lógica em si nada original: basta olhar no que está a brotar pela net em todo o lado. Os fenómenos 2.0 todos - mas não uso esse termo porque de repente parece uma carapuça onde se enfia de tudo.
Todos os dias surgem uma panóplia de estruturas próximas, orientadas para o “empreendedor social” – que eu espero que seja um sinónimo de “todos nós” - ou para o designer, redes de networking, partilha de recursos, portais de informação, tudo em volta deste mesmo tema (considerando as variantes, claro, pois até dentro da denominação “Social Design” se encontram coisas em nada relacionadas…).
Posso mencionar WiserEarth, Idealists.org, DesignCanChange, ou Design21 como algumas das melhor conseguidas. Mas sei que a próxima vez que me sentar ao computador surgem mais umas quantas… O Social Design Site pode bem ser só mais um. Ou não. Estou muito curiosa acerca do que vai acontecer depois do re-lançamento do site.
Naturalmente, aprendi já imenso com esta experiência. Construi uma percepção do Design Social bastante diferente daquela com que saí da Faculdade. As coisas estão a acontecer a uma velocidade galopante, e há uma centralização de recursos na net, de tal maneira intensa, que é difícil manter uma macro-visão. Mas há muito movimento. Muito vento, também… muito discurso, muito manifesto – pouca acção. Ou, para ser justa, menos acção do que poderia haver. Idealmente. Mas estamos no bom caminho…


R.: Com a insistência crescente no tema da responsabilidade social do design (sucedem-se os eventos, as exposições e o aparecimento de estruturas desde as mais “pesadas” como o Design21 às unipessoais) não se corre o perigo do “design social” ser um termo que se pode banalizar (tornar-se um slogan) no interior de um contexto “politicamente correcto”, ou seja, não há o risco da “utopia” de transformação social (tendencialmente revolucionária) se tornar numa ideologia consensual (tendencialmente conservadora)?

J.B.: Sim, há. Será isso necessariamente mau?
Sinto que já respondi a esta pergunta em todas as outras anteriores, mas posso reafirmar: Na realidade, não sei. Enquanto estas iniciativas existirem à margem da sociedade não vão realmente gerar uma mudança significativa. Há um nível de “banalização” que é desejável, a nível da consciência comum, ao que eu chamaria eufemisticamente, “mudança de paradigma”. No dia em que a ideia de um Design Socialmente Responsável se tornar de tal forma ubíqua e enraizada em qualquer projecto de design em qualquer sítio do mundo, que falar de Design Socialmente Responsável se torne um pleonasmo, falamos finalmente de Design. Ponto.
Sobre a forma como o sistema (e só esta ideia de sistema como algo alheio a nós já nos conduz a toda uma visão “desempoderante” e desresponsabilizante da situação) tende a assimilar as expressões marginais ou anti-sistema, ou meta-sistema, ou –
Bem, sobre isso admito que não tenho uma opinião linear. De repente, chocam–me coisas como o Tesla Roadster ter sido premiado com 100.000 euros pelo maior prémio internacional de Design Socialmente Responsável (INDEX awards, Copenhaga). Mas por outro lado, o argumento acerca do seu público-alvo especifico, celebridades e milionários, e como estes se tornarão veículos de promoção de um novo estilo de vida – esse argumento é muito válido. Numa sociedade onde extensivamente se emula e reproduzem comportamentos desta minoria famosa, pode até vir a ser um gesto altamente compensador em termos de benefícios e mudança de comportamentos.
Ainda não encontrei um projecto que não estivesse de alguma forma minado por contradições. O que não significa que o nosso nível de exigência deva baixar ou que devamos encolher os ombros perante estes dilemas éticos e morais. E manter o espírito crítico.
Como nota final, não acredito que uma ideologia consensual seja necessariamente conservadora. Nem que a transformação social seja necessariamente revolucionária…


R.: A Joana Bértholo regressou há poucos dias do INDEX, tendo escrito um excelente artigo de opinião sobre o evento, o que destacaria do que viu e em que medida o que viu lhe permite acreditar na capacidade de transformação social do design?

J.B.: Como disse acima, muita contradição. Posso acrescentar, numa nota de optimismo: muita saudável contradição. Indubitavelmente, os critérios de atribuição dos 5 prémios (body, home, play, community, work) deveriam ser mais explícitos. Não podemos continuar a premiar projectos que não sejam eximiamente exigentes consigo mesmos. E este espírito critico, esta capacidade de todos nós levantarmos questões e duvidarmos das coisas, é crucial no que toca aos nossos gestos mais básicos de consumo. Muitos daqueles projectos, para mim, levantavam questões de sustentabilidade e impacto social, que ficaram por responder.
Mas foi incrivelmente inspirador. Sobretudo as conferências. O painel era diverso o suficiente para uma estimulante convergência de pontos de vista, e esteve longe de ser dominado por designers. Diferentemente de outras conferências de design, não existiu em torno de imagens projectadas, em torno de objectos produzidos, mas em torno de ideias. Nesse sentido, foi muito etéreo. Muito motivante.
Realço particularmente a insistência numa mudança de percepção em que se representa o designer vindo dos países mais desenvolvidos e ricos como salvador ou missionário dos países em vias de desenvolvimento, para a percepção de que há imenso a aprender destes países – e de que a palavra chave é cooperação.
Em que medida é que tudo isto me permite acreditar na capacidade de transformação social do design? Bem, eu venho de um projecto que clama “WE CANNOT NOT CHANGE THE WORLD” portanto para mim a questão não se põe, é um dado adquirido. Ou, parafraseando, em que medida isto me permite tomar consciência da incapacidade de não-transformação social através do design?

É a diferença entre: Se pudéssemos, o que faríamos?
e: Agora que podemos, o que vamos fazer?

Friday, September 28, 2007



designer: Ron Costley
título: Design For Society
autor: Nigel Whiteley
editor: Reaktion Books, 1993
disponível em Amazon.com




No ensaio “Can Design be socially responsible?” publicado em 1992 no AIGA Journal, Michael Rock afirma, de um modo muito lúcido, que “Responsibility is the design buzz word of the nineties”. Esta insistência no tópico da “responsabilidade social” do design, explícita das conferências da AIGA, num número significativo de publicações e que desemboca, simbolicamente, na (re)edição em 1999 do Manifesto First Things First, publicado originalmente por Ken Garland em 1964, atravessa efectivamente os anos de 1990 coincidindo, por um lado, com a “politização” do discurso dos professores de design e dos designers e, por outro lado, com uma nova requisição ideológica do design não apenas por instituições e ONG’s mas, igualmente, por empresas comerciais.

Se, na esteira de Victor Papanek, Michael Rock afirma que “the designer’s social responsibility is a responsibility for creating meaningful forms”, devemos considerar que os processos que produzem formas de legitimação de sentido são sempre discutíveis. Certo é, que não havendo neutralidade em design – a prática projectual serve sempre alguma forma de poder – a consciência crítica do designer manifesta-se decisiva pois, em última análise, a responsabilidade coincide com o capacidade de assumir e justificar as opcções tomadas.

Em torno dessa “buzz word” da responsabilidade social se desenvolve este livro de Nigel Whiteley, o autor de "Pop Design" (1987), “Design For Society”. No Prefácio da obra, Whiteley esclarece qual o seu objectivo “Design For Society seeks to examine the ideology of design in our society”, análise ideological esta que, Segundo o autor, recuperaria uma preocupação teórica associada ao design que remonta ao Século XIX e autores como A. Pugin e John Ruskin e que, já no Século XX, encontra em Papanek um dos autores seminais.

As transformações radicais que marcam o design durante a década de 1980 – “a frantic period of design” – e a consequente indefinição acerca das competencies, valores e lógicas de intervenção disciplinar que daí resultam marcam o enquadramento social do qual parte “Design For Society”. De algum modo, “Design For Society”, procura analisar do ponto de vista ideológico aquilo que, de uma forma mais analítica, é analisado no excepcional Design After Modernism editado por John Thackara: a falência do projecto moderno e a necessária construção de um novo modelo axiológico e epistemológico em design.

Organizado em cinco capítulos – “Consumer-led design”; “Green Design”; “Responsible Design and Ethical Consuming”; “Feminist Perspectives” e “The Way Forward?” – esta obra de Nigel Whiteley possibilita um confronto lúcido e pertinente com as grandes questões associadas ao Design Social.

Segundo as palavras de Whitley, “Design For Society reflects the current debate about quality of life. Inevitably, when one is addressing such an issue, one is engaging in a debate about values, and it is not only healthy but crucial that values are discussed explicity rather than implicity. This has not happened nearly enough in the design profession or design press. Values must be translated into standards and criteria, and inevitably lead back to the fundamental question ‘What is good design?’”.
O DISCO DO DIA



autor: Beirut
título: Flying Club Cup
editora: 4AD/BA DA BING, 2007



A imagem gráfica, reproduzindo uma fotografia anónima da década de 1920, talvez não seja tão entusiasmante quanto a "cover" desenhada por Jon Wozencroft para "Elephant Gun" embora não deslustre. Além do mais, tudo o resto brilha alto, das orquestrações fabulosas ao magnífico site desenvolvido como a ajuda de Chryde da La Blogothèque.

Thursday, September 27, 2007

O LIVRO DO DIA



designer: Jon Gray/Gray 318
título: Extremely Loud and Incredibly Close
autor: Jonathan Safran Foer
editor: Houghton Mifflin, 2005
disponível em Amazon.com

Wednesday, September 26, 2007

ACTUAL



'Arrow Catcher' de Peter Wiehl
1978, 11', cor, 16mm transferido para DVD
Projecto Gráfico Barbara Says
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Peter Wiehl é um artista nova Iroquino que no final dos 70 e princípio dos anos 80 realizou
pequenos filmes experimentais ligados à performance. 'Arrow Catcher' foi filmado com uma
câmara militar de alta velocidade, mostra o artista a atirar setas para um sistema complexo
de acrílico. Esta estrutura captura as setas em pleno movimento suspendendo-as numa
composição abstracta.
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"A triumph of authenticity." Alexandre Estrela
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Sábado 29 de Setembro - 22h30 - entrada pelo Noobai - Miradouro de Santa Catarina.
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Cç. Salvador Correia de Sá 42. 2° Frente.
entrada pelo Noobai - Miradouro de Santa Catarina.
1200-399 Lisboa. Portugal. tel:++351 93 4859154.
www.oportolisboa.blogspot.com

Sunday, September 23, 2007

BREVES

- A importância da D&AD recordada por Johnson Banks
através da análise de 45 anos de "cover design" da publicação.





- Steven Heller entrevista o decisivo S. Neil Fujita antido Director de Arte da CBS Records e para sempre conhecido como o criador da "imagem gráfica" do filme Godfather.



- Entrevista e apresentação do interessante trabalho desenvolvido por Christopher Junge&Tobias Wenig.



- Dinâmica discussão na Brand New sobre a "identidade gráfica" da Casa da Música projectada por Sagmeister.



Wednesday, September 19, 2007

DESIGN - O ESTADO DAS COISAS: ENTREVISTA COM GUTA MOURA GUEDES




A EXD'07teria inaugurado no passado dia 12 de Setembro. As razões do cancelamento são públicas. Nesta entrevista com a directora da Experimenta, mais do que dissecar essas razões (e por mais difícil que elas sejam de aceitar), procura-se pensar o próximo futuro da ExperimentaDesign conscientes de que a existência, em Portugal, de uma cultura do design dinâmica e visível está indissociável da existência do seu maior evento.


REACTOR: A ExperimentaDesign’07 teria o seu início no passado dia 12 de Setembro. Quando apoios fundamentais falharam o evento estava já definido. O que poderia ter sido esta Bienal?

GUTA MOURA GUEDES: Esta teria sido a quinta edição da ExperimentaDesign – Bienal de Lisboa, logo a seguir a ter sido considerada o evento de design mais interessante da Europa em 2005 pelos media internacionais... A bienal tinha atingido um patamar muito importante, a expectativa para 2007 era enorme e o nosso entusiasmo também. Portanto o investimento que nela foi feito foi grande, quer do ponto de vista conceptual, quer do ponto de vista estratégico. Mas preferia não adiantar muito, porque a bienal está desenhada e pronta a acontecer... e ainda não passou de prazo, pelo contrário.

R.: O trabalho da Experimenta marca, claramente, uma transformação profunda na “cultura do design” em Portugal, permitindo a existência de um fórum no qual esta cultura do projecto encontrou um espaço de divulgação, promoção e discussão nacional e internacional. Actualmente, perante a inexistência de um evento de dimensão internacional, de um projecto editorial de referência, perante uma certa incapacidade de afirmação corporativa, o que lhe sugere falar-se em “cultura do design” em Portugal?

G.M.G.: Pois parece voltar tudo há uns anos atrás, onde a fragmentação era enorme, onde não se verificava uma ideia de um todo dinâmico e eficaz. É claro que o que se conquistou em termos de cultura de design entre 1999 e 2006 não se perde assim de um momento para o outro. A actividade e a energia de muitos dos designers, arquitectos e criadores portugueses é muito grande e está aí. O mesmo se passa com as escolas e alguma da nossa industria. Agora perdeu-se visibilidade, difusão, estímulo, o desafio constante que uma plataforma como a ExperimentaDesign criava. O que se passa agora? Pois não sei, confesso que me foi necessário algum distanciamento de tudo isto, um afastamento, um período que me permitisse recuperar forças e vontade de continuar a fazer coisas por cá.


R:Parece-me faltar, em Portugal, uma “educação curatorial”. Creio (e a ExperimentaDesign provou-o) que existe público, no entanto as principais instituições continuam a não revelar capacidade para garantir uma programação regular de exposições de Design. Onde aparece o design na nossa política cultural?

G.M.G.: É absolutamente verdade o que diz. Não há programação regular, não há investimento regular, nem nos públicos, nem nos profissionais, nem na indústria, não há uma divulgação consistente e coerente. Não era por acaso que desde 1999 muitos designers, gestores, industriais, professores, nos pediam para nos tornarmos uma espécie de centro português de design. A Experimenta e a ExperimentaDesign tinham, de forma inequívoca, um papel fundamental neste processo. O design ainda aparece pouco na nossa politica, cultural e económica e nós representávamos um catalisador contínuo e independente que teve durante muito tempo o mérito de investir no design português e em Portugal e de trazer muita informação para cá, que é essencial para estimular a nossa competitividade. E em muitas frentes, não só com a bienal, basta ver o nosso site. No entanto a Experimenta nunca teve problemas de maior no seu relacionamento com o Estado, quer com o Ministério da Economia, cuja interacção se tornou progressiva e francamente interessante em 2005, quer com Ministério da Cultura, connosco desde a primeira edição.


R.: Um dos méritos da Experimenta foi o de garantir interacções entre diferentes agentes (institucionais e não institucionais) ligados ao Design, nomeadamente a participação das Escolas. Sem a realização da Bienal, como pode essa acção catalizadora sobre o design português (e entre o design português e o design internacional) ser feita?

G.M.G.: Sem a ExperimentaDesign a promoção do design português e das escolas de design em Portugal, e as relações que a partir daí nasceram com a cena internacional, com a industria e com o público, perdem imenso. A título de exemplo posso dizer-lhe que o projecto S*Cool tinha um plano de desenvolvimento para 2007 muito interessante, que para além das escolas em Portugal e em Espanha iria envolver a América Latina também. A rede de colaborações e interacções que formámos, nacional e internacionalmente, estava no seu ponto alto, ao fim de 8 anos de trabalho. O que pode acontecer sem a bienal em Portugal? Pois não sei. O que me dizem cá fora (estou a responder-lhe de Londres, onde estou para o London design festival e para participar na conferencia de imprensa de lançamento de Torino 2008 World Design Capital) é que sem a ExperimentaDesign Portugal deixa de ter um lugar consistente e regular no mapa internacional do design...


R.: A dois anos de distância de uma possível ExperimentaDesign’09 o que é necessário que aconteça (e o que está a acontecer) para que ela se torne uma realidade?

G.M.G.: Nunca quisemos tomar nenhuma atitude precipitada. Apenas cancelámos a edição de 2007 e ficámos a observar que desenho as coisas tomavam, que rumos e que movimentos se definiam, cá e lá fora. O que posso dizer - neste preciso momento em que escrevo - é que muita coisa importante está a acontecer desde fim de Julho passado, que temos muito boas novidades para comunicar e que, se tudo correr como se prevê, algumas delas serão bem surpreendentes... É uma questão de tempo.

Tuesday, September 18, 2007

FIRST THINGS FIRST

A imagem que se segue é da versão original, escrita em 1964 por Ken Garland, do manifesto First Things First. O manifesto tornou-se, sobretudo graças à sua revalorização no final da década de 90 (que levaria à publicação do FTF2000) um ícone do design crítico. Esta dimensão icónica não deixa de se revelar perturbante. O texto de Garland tornou-se, progressivamente, uma "imagem", configuração acabada, que pode ser agitada e exibida sem exigir uma cuidada reflexão. Que o manifesto FTF permanece absolutamente actual é uma verdade que, em alguns círculos, se tornou um "slogan" e, assim, a verdade foi privada do seu fundamento. Nenhum "objecto" é actual em si. Qualquer objecto exige "actualização". A única forma de tornar o FTF nosso contemporâneo é pensando-o à luz da actual prática do design, ora esta reflexão, oito anos após o FTF2000, parece ter sido abandonada. Perdem-se as ideias, ficam os ícones que as cristalizam.

BREVES (PT)




A Galeria ZDB organiza nos dias 20-21 de Setembro um ciclo de "Discussões a propósito de política e design". O tema, absolutamente pertinente, não havia tido até agora em Portugal o devido tratamento. Convém recordar, aliás, a importância que, desde os tempos do Festival Atlântico, Natxo Checa vem tendo na abertura de novas perspectivas de reflexão sobre a prática do design.



É hoje o último dia para visitar a exposição Jovem Criadores 2007 a decorrer no Centro de Congressos de Lisboa.



No Mercado Negro, em Aveiro, está aberta ao público uma interessante exposição sobre poesia na blogosfera (o cartaz é da Menina Limão).

Estão já disponíveis on-line os Working Papers, publicação electrónica do CECL, muito recomendável.



Já se encontra disponível o número #3 dos CADERNOS DE TIPOGRAFIA. A publicação coordenada por Paulo Heitlinger tem evoluído qualitativa e quantitativamente de número para número impondo-se como a publicação de língua portuguesa, sobre design de tipos e tipografia, de referência.

Monday, September 17, 2007

ENTREVISTA COM TIBOR KALMAN

Tibor Kalman, designer gráfico de origem húngara falecido em 1999 com 43 anos, foi o maior protagonista do design de comunicação do final da década de 1980 e da década de 1990.

Fundador da M&Co, director de arte da ART FORUM (1987-88) e da Interview (1989-91); editor da Colors (1991-95), trouxe uma nova consciência crítica para a prática profissional do design, bem exemplificada na iniciativa de reeditar o Manifesto First Things First de Ken Garland e reflectir colectivamente sobre a sua actualidade.

Segue-se uma das suas últimas entrevistas.


Thursday, September 13, 2007

REACTOR | BREVES

O último número da Wallpaper envolve três "guest editors" notáveis: Jeff Koons; Hedi Slimane e Dieter Rams. Podia ser sempre assim.

Charles e Ray Eames apresentam na NBC, pela primeira vez, a sua Lounge Chair e discutem o seu processo de trabalho, decorria o ano de 1956. A televisão era diferente e o design também.

O BLDGBLOG publicou uma interessante entrevista com Mary Beard que dirige uma das colecções de maior fôlego da actualidade, a colecção "Wonders of the World" para a Harvard University Press.

A irónica pergunta "Porque não é a teoria mais como a prática?" serve de pretexto para uma pertinente e actualissíma reflexão de Mário Moura expondo a nú as incongruências de muitos designers portugueses.

Joana Bértholo esteve nos importantes prémios INDEX, em Copenhaga, e dá-nos um bom retrato do design contemporâneo e dos seus prémios.

A questão já não é nova mas as velhas questões estão longe de estar resolvidas, daí fazer sentido que Javier Solar volte à carga questionando o design no artigo "Arte, estética ou ideologia?" .

No 25 aniversário de "From Bauhaus to Our House", Tom Wolfe juntou-se a Peter Eisenman para discutir a noção de "inovação" no design e na arquitectura.
REACTOR ENTREVISTA RUI TENREIRO

CCC ECHIBITION | CIDADE DO CABO


Mais conhecido na Escandinávia do que em Portugal, Rui Tenreiro é um bom exemplo de um “designer internacional” que, como criador e produtor, tem desenvolvido um sólido percurso onde a “alma” Latina se encontra, frequentemente, com a “razão” Nórdica. O REACTOR conversou com ele:

REACTOR: Sobretudo desde 2005, o Rui Tenreiro tem-se dividido em vários projectos, destacando-se dois - Soyfriends e The Culture Front - que lhe pedia que apresentasse.

RUI TENREIRO: The Culture Front é o meu site pessoal. Aqui apresento trabalhos feitos por mim para clientes. Aqui os projectos podem ser comerciais ou não comerciais. Ao criar o site pensei em dividi-lo em partes para que melhor se pudesse separar mentalmente o tipo de trabalhos. Mas à medida que o desenvolvi achei que não faria sentido, pois os trabalhos são todos parte do mesmo mundo, simplesmente apresentado de maneiras
diferentes. O site The Culture Front vai ser destinado a apresentar esse leque de ilustrações que constrói esse mundo. Há medida que vou encontrando as técnicas de trabalho que mais me agradam, é natural que este 'mundo' de imagens se desenvolva naturalmente, tornando-se assim as imagens mais próximas visualmente umas das outras.

Soyfriends é uma mini-editora que foi criada porque me apercebi que a nível da Noruega e Suécia havia uma certa tendência em ilustração e desenho que era bastante diferente do que se passava noutros lados, tal como em Londres, Estados Unidos, África do Sul, etc. E portanto a Soyfriends foi criada para servir de 'showcase' para esses artistas. A Soyfriends foi também uma oportunidade de trabalhar com artistas cujo trabalho admiro.
Por vezes achei que havia falta de uma editora deste género a nível Escandinavo. Portanto na Soyfriends o meu trabalho é como editor e produtor, maioritariamente - e por vezes como artista. Como só faço neste momento 50 (e, em casos raros, 100) cópias de cada fanzine, os distribuidores têm de ser seleccionados com cuidado, de maneira a não desvalorizar os livros e de maneira a manter um balanço positivo mínimo. No entanto, a Soyfriends ainda é, mais que nada, um 'hobby'.

Ilustrações | Páginas Interiores de "Le Merle"


R: Entre os seus trabalhos, encontramos colaborações com a VRENG (a versão norueguesa da Adbusters) e trabalho de Branding para multinacionais. Como concilia uma abordagem mais pessoal (próximo de um no-brief design) para clientes "culturais" com trabalhos assumidamente "comerciais"?

R.T.: Isto resultou de uma mudança de atitude a certa altura. Durante muito tempo trabalhei a partir de um estúdio de ilustração em Oslo que fazia maior parte das decisões em conjunto. Não havia regras para o tipo de trabalhos que cada pessoa deveria colocar no site do grupo, mas havia bastante pressão a pôr trabalhos de prestígio (mesmo que não fossem os preferidos de cada pessoa do grupo) ou de 'briefs' que viessem de editoras mais tradicionais, que fazem livros escolares ou livros para crianças. Isto confundia-me porque a minha intenção sempre foi criar livros para adultos. Portanto, quando criei o meu site individual - e isto é um conselho que daria a todos os ilustradores que se consideram mais como 'artistas' do que 'designers de imagens' - decidi não pôr nada que não gostasse. Mesmo se o trabalho fosse feito para a Playstation, Mtv ou para a Pepsi, decidi não pôr nada que não gostasse. Ponho somente trabalhos que gosto. Assim isto mostra somente, através do único meio de comunicação que controlo, o meu site pessoal, o produto de trabalhos meus, ao invés de um produto da minha decisão e da do cliente, que resulta em algo diluído. Esta base dá ao cliente, portanto, uma escolha limitada. Mesmo assim até agora não houve risco de me começar a repetir pois os cliente têm trabalhos e pedidos bastante diferentes. E posso sempre decidir retirar do site um trabalho que acho estar a dar a impressão de ser repetitivo. O resultado é de a maior parte dos trabalho não são incluídos no site. Isto é a maneira que encontrei e que funciona para mim.


R: O Rui Tenreiro é um ilustrador e designer "norwegian-based", como olha, a partir daí, para o design português e para a nossa "cultura do design"?

R. T.: Infelizmente não estou a par do design português neste momento. Na verdade não tenho procurado rodear-me de imagens e exemplos de design e ilustração ultimamente. Há sempre uma enorme quantidade de imagens a ser criadas todos os dias e às vezes é importante parar e olhar para dentro, e tentar ignorar até certo ponto o que se passa à nossa volta. Isto tem durado mais de uma ano e, como muito pode acontecer no espaço de um ano em termos de design e ilustração, prefiro não dar a minha opinião sobre a pergunta desta vez.

"Canvas Bag" | Soyfriends


R: Finalmente, pode-nos falar dos seus projectos paralelos e futuros projectos?

R.T.: Há vários projectos a desenvolverem-se neste momento. Acabei de organizar uma exposição de 'artists books' e fanzines na galeria Bell-Roberts, na Cidade do Cabo. E estou a acabar a minha próxima BD, que vai ter mais de 100 páginas. Estou também a desenvolver uma outra BD em conjunto com um amigo, Tiago Correia Paulo, em que ele vai produzir uma banda sonora para a história. Comecei esta semana a imprimir os meus trabalhos em serigrafia, que é um processo bastante fácil e que dá óptimos resultados. Estou a contribuir, a convite do Frederico Duarte, para o livro 'Fabrico Próprio', um livro sobre pastelaria portuguesa vendida em todo o mundo. Escolhi ilustrar sobre o Palmier. Estou também há procura de uma editora que esteja disposta a fazer uma compilação de algumas das fanzines da Soyfriends num livro de ilustração/arte. Acho que por enquanto é tudo. Terei também t-shirts à venda na loja Graniph, em Tóquio, que também podem ser obtidas on-line.

Tuesday, September 11, 2007

11 DE STEMBRO

Reflectir sobre o 11/9, seis anos após o ataque terrorista às Torres Gémeas, é um exercício que se presta a ser manipulador e tendencialmente maniqueista. A dimensão política das imagens foi explorada até ao limite: esse limite em que a imagem deixa de valer pelo seu significado e passa a valer enquanto significante. As imagens são esvaziadas do seu conteúdo representativo - que exige reflexão para que esse conteúdo possa ser "lido" - e "esteticizam-se" passando a valer "por si próprias". A este processo poder-se-ia chamar (fazendo uso da mais distorcida utilização da palavra "design") de conversão da "representação" em "design". Uma coisa é certa, a leitura que fazemos das imagens que vemos resulta, em grande medida, do modo como essas imagens são "montadas". Esse trabalho de montagem é definitivamente político, e nesse trabalho de montagem o Design está cada vez mais envolvido.

Entretanto, as imagens permanecem "testemunhas", aparentemente mais vivas do que nós próprios.






Sunday, September 09, 2007

HETERODOXIAS (de um design blogger)




A questão surgiu-me assim: “Porquê designers em tempo de aflição?”. Já falámos sobre isto antes, não se trata de encontrar a solução mas, antes, de enunciar o problema. Em design, trata-se sempre de jogar com o invisível, de procurar figurar o que insiste em se esconder e permanecer entre nós “não dito” e importa saber que nunca ficará definitivamente dito. Dizias-me que “fazer design” é trabalhar nas margens (tecer as margens), composição a partir de elementos residuais – residual em todos os sentidos.

Defina-se o contexto da nossa conversa: noite quente (“que Setembro este”, comentávamos); bebemos chá de menta frio e tu fumas-te, de seguida, vários cigarros indianos.

Não há pura abstracção, mesmo quando se procura concretiza-la, este é um bom exemplo. Quando te dizia que o trabalho do Christopher David Ryan tende para uma crescente abstracção, não estava apenas a referir-me a ausência de uma preocupação figurativa mas como essa ausência torna presente uma linguagem gráfica que concretiza uma espécie de exercício de montagem de referências (vindas da pintura, da tipografia, do design gráfico dos anos 70) que inclui o próprio título do trabalho.

Christopher David Ryan | The Solar System

Christopher David Ryan | You Don't Listen


Não te respondi à tua primeira questão – sobre o design numérico – mas espero ter sido claro na resposta à segunda: parece-me evidente que o facto de um trabalho usar uma comunicação (e uma estratégia comunicativa) mais directa, não o torna, por esse facto, nem mais nem menos politico.

Joana Baptista Costa & Mariana Leão | Manifesto Contra!

Há um trabalho de citação em todo o design gráfico que hoje é feito. Porque te dizia eu, então, que isso não lhe retira originalidade? Porque a autêntica originalidade tem sempre a ver com um exercício de repetição: fazer de novo. Há aquela ideia do Harold Bloom sobre a “ansiedade da influência”: a lei da criação coincide com a da circulação e da metamorfose. O exemplo do trabalho de Street Value está longe de ser o melhor mas confirma as ideias que introduzi no post sobre o design gráfico norte-americano.

StreetValue

“A linguagem tem em si mesma o seu princípio interior de proliferação” defendia Foucault. O original nunca é imóvel. O que se chama “original” não chega a ter existência própria enquanto tal; o que há são sistemas de virtualidades de sentido, que requerem mediação, leitura, comentário, tradução. Também em design não há “arquitexto” mas, fundamentalmente “pré-texto”.

Matthew Wahl | Don't Believe the Type

Vivemos num mundo onde a análise tende a ser substituída pelo “slogan”. Não admira que mesmo comentários que se pretendem “sérios” possam terminar numa colecção de disparates. Mas em relação aos conselhos para os professores de design do Chochinov no Core77 (é nisso que penso) vou-me ocupar num outro post.

As reflexões orwellianas voltaram. Ainda bem.




Aqui estamos de acordo (ambos gostamos do trabalho da Nakakobooks). Aqui também estamos de acordo: a recente entrevista do Wim Crouwel fornece-nos um olhar privilegiado sobre a história recente do design gráfico.




Não se pode falar de uma língua senão noutra língua. Continuamos noutra altura.

Friday, September 07, 2007

ALGUNS DOS MELHORES MOTION LOGOS

DELETED IMAGES/IMAGENS ELIMINADAS




Desfocadas, tremidas ou disparadas acidentalmente, uma série de imagens são permanentemente apagadas viajando para essa espécie de "ciber-vala comum" que é a caixa de Trash dos computadores. A "vida" das imagens não depende, apenas, da sua produção mas, fundamentalmente, da sua recepcção, do modo como as imagens são "vivenciadas" no campo da nossa vida individual ou colectiva.





A atenção às imagens "perdidas" - muitas vezes paralela à reflexão sobre a "perdição" das e nas imagens - está longe de ser uma descoberta dos nossos dias, porém, há na contemporaneidade uma crescente preocupação em pensar a imagem falhada, bastarda, acidental e o modo como as novas tecnologias possibilitam a produção de novas possibilidades de "acidentes" e de "selecções" entre a imagem "correcta" e a imagem "falhada".

No 4o Capítulo de "Each Wild Idea", intitulado "Taking and Making", Geoffrey Batchen trabalha os processos de produção e de recepcção que definem sobre o "acerto" e a "falha" das imagens, tema igualmente trabalhado no Capítulo sobre a "fotografia vernacular", a questão aí colocada é a seguinte: "How can photography be restored to its own history?". As imagens de DELETED IMAGES são imagens resgatadas ao seu curso, recuperadas para uma nova vida e integradas num contexto no qual a "falha" - essa mesma falha que as condenou à morte - se torna o elemento distintivo que as valoriza e, assim, as reabilita para a vida.

DELETED IMAGES. THE JUNKYARD OF ART é um arquivo que recupera inúmeras dessas imagens condenadas a desaparecer e glorificando o erro, valorizando o acidente, re-apresenta-as como exemplos de "junkard of art". Contemporâneo? Sem dúvida, ainda que com tiques pós-modernos como essa vontade de impor um estílo (junkyard of art) revela.



Monday, September 03, 2007



It is no secret that the real world in which the designer functions is not the world of art, but the world of buying and selling. For sales, and not design are the “raison d'être” of any business organization. Unlike the salesman, however, the designer's overriding motivation is art: art in the service of business, art that enhances the quality of life and deepens appreciation of the familiar world.

Design is a problem-solving activity. It provides a means of clarifying, synthesizing, and dramatizing a word, a picture, a product, or an event. A serious barrier to the realization of good design, however, are the layers of management inherent in any bureaucratic structure. For aside from the sheer prejudice or simple unawareness, one is apt to encounter such absurdities as second guessing, kow-towing, posturing, nit-picking, and jockeying for position, let alone such buck-passing institutions as the committee meeting and the task force. At issue, it seems, is neither malevolence nor stupidity, but human frailty.

The smooth functioning of the design process may be thwarted in other ways, by the imperceptive executive, who in matters of design understands neither his proper role nor that of the designer; by the eager but cautious advertising man whose principal concern is pleasing his client; and by the insecure client who depends on informal office surveys and pseudo-scientific research to deal with questions that are unanswerable and answers that are questionable.

Unless the design function in business bureaucracy is so structured that direct access to the ultimate decision-maker is possible, trying to produce good work is very often an exercise in futility. Ignorance of the history and methodology of design -- how work is conceived, produced, and reproduced -- adds to the difficulties and misunderstandings. Design is a way of life, a point of view. It involves the whole complex of visual communication: talent, creative ability, manual skill, and technical knowledge. Aesthetics and economics, technology and psychology are intrinsically relate to the process.

One of the more common problems which tends to create doubt and confusion is caused by the inexperienced and anxious executive who innocently expects, or even demands, to see not one but many solutions to a problem. These may include a number of visual and/or verbal concepts, an assortment of layouts, a variety of pictures and color schemes, as well as a choice of type styles. He needs the reassurance of numbers and the opportunity to exercise his personal preferences. He is also most likely to be the one to insist on endless revisions with unrealistic deadlines, adding to an already wasteful and time-consuming ritual. Theoretically, a great number of ideas assures a great number of choices, but such choices are essentially quantitative. This practice is as bewildering as it is wasteful. It discourages spontaneity, encourages indifference, and more often than not produces results which are neither distinguished, interesting, nor effective. In short, good ideas rarely come in bunches.

The designer who voluntarily presents his client with a batch of layouts does so not out prolificacy, but out of uncertainty or fear. He thus encourages the client to assume the role of referee. In the event of genuine need, however, the skillful designer is able to produce a reasonable number of good ideas. But quantity by demand is quite different than quantity by choice. Design is a time-consuming occupation. Whatever his working habits, the designer fills many a wastebasket in order to produce one good idea. Advertising agencies can be especially guilty in this numbers game. Bent on impressing the client with their ardor, they present a welter of layouts, many of which are superficial interpretations of potentially good ideas, or slick renderings of trite ones.

Frequent job reassignments within an active business are additional impediments about which management is often unaware. Persons unqualified to make design judgments are frequently shifted into design-sensitive positions. The position of authority is then used as evidence of expertise. While most people will graciously accept and appreciate criticism when it comes from a knowledgeable source, they will resent it (openly or otherwise) when it derives solely from a power position, even though the manager may be highly intelligent or have self-professed "good taste." At issue is not the right, or even the duty, to question, but the right to make design judgment. Such misuse of privilege is a disservice to management and counterproductive to good design. Expertise in business administration, journalism, accounting, or selling, though necessary in its place, is not expertise in problems dealing with visual appearance. The salesman who can sell you the most sophisticated computer typesetting equipment is rarely one who appreciates fine typography or elegant proportions. Actually, the plethora of bad design that we see all around us can probably be attributed as much to good salesmanship as to bad taste.

Deeply concerned with every aspect of the production process, the designer must often contend with inexperienced production personnel and time-consuming purchasing procedures, which stifle enthusiasm, instinct, and creativity. Though peripherally involved in making aesthetic judgments (choosing printers, papermakers, typesetters and other suppliers), purchasing agents are for the most part ignorant of design practices, insensitive to subtleties that mean quality, and unaware of marketing needs. Primarily and rightly concerned with cost- cutting, they mistakenly equate elegance with extravagance and parsimony with wise business judgement.

These problems are by no means confined to the bureaucratic corporation. Artists, writers, and others in the fields of communication and visual arts, in government or private industry, in schools or churches, must constantly cope with those who do not understand and are therefore unsympathetic to their ideas. The designer is especially vulnerable because design is grist for anybody's mill. "I know what I like" is all the authority one needs to support one's critical aspirations.
Like the businessman, the designer is amply supplied with his own frailties. But unlike him, he is often inarticulate, a serious problem in an arena in which semantic difficulties so often arise.

This is more pertinent in graphic design than in the industrial or architectural fields, because graphic design is more open to aesthetic than to functional preferences.Stubborness may be one of the designer's admirable or notorious qualities (depending on one's point of view) -- a principled refusal to compromise, or a means to camouflage inadequacy. Design cliches, meaningless patterns, stylish illustrations, and predetermined solutions are signs of such weakness. An understanding of the significance of modernism and familiarity with the history of design, painting, architecture, and other disciplines, which distinguish the educated designer and make his role more meaningful, are not every designer's strong points.

The designer, however, needs all the support he can muster, for his is a unique but unenviable position. His work is subject to every imaginable interpretation and to every piddling piece of fact- finding. Ironically, he seeks not only the applause of the connoisseur, but the approbation of the crowd.A salutary working relationship is not only possible but essential.

Designers are not always intransigent, nor are all purchasing agents blind to quality. Many responsible advertising agencies are not unaware of the role that design plays as a communication force. As for the person who pays the piper, the businessman who is sympathetic and understanding is not altogether illusory. He is professional, objective, and alert to new ideas. He places responsibility where it belongs and does not feel insecure enough to see himself as an expert in a field other than his own. He is, moreover, able to provide a harmonious environment in which goodwill, understanding, spontaneity, and mutual trust -- qualities so essential to the accomplishment of creative work -- may flourish.

Similarly, the skilled graphic designer is a professional whose world is divided between lyricism and pragmatism. He is able to distinguish between trendiness and innovation, between obscurity and originality.He uses freedom of expression not as a license for abstruse ideas, and tenacity not as bullheadedness but as evidence of his own convictions. His is an independent spirit guided more by an "inner artistic standard of excellence" than by some external influence.

At the same time as he realizes that good design must withstand the rigors of the marketplace, he believes that without good design the marketplace is a showcase of visual vulgarity.The creative arts have always labored under adverse conditions.
Subjectivity emotion, and opinion seem to be concomitants of artistic questions. The layman feels insecure and awkward about making design judgments, even though he pretends to make them with a certain measure of know-how. But, like it or not, business conditions compel many to get inextricably involved with problems in which design plays some role.
For the most part, the creation or effects of design, unlike science, are neither measurable nor predictable, nor are the results necessarily repeatable. If there is any assurance, besides faith, a businessman can have, it is in choosing talented, competent, and experienced designers.

Meaningful design, design of quality and wit, is no small achievement, even in an environment in which good design is understood, appreciated, and ardently accepted, and in which profit is not the only motive. At best, work that has any claim to distinction is the exception, even under the most ideal circumstances. After all, our epoch can boast of only one A.M.
Cassandre.

Paul Rand, Excerto de A Designer's Art.

Saturday, September 01, 2007



Entre os dias 6 e 8 de Setembro, terá lugar na Universidade do Minho, em Braga, a 5a SOPCOM desta vez dedicada ao pertinente tema “Comunicação e Cidadania”.

A reflexão sobre o design e a suas declinações sociais e politicas acontecerá em diversas comunicações distribuidas por várias sessões temáticas. Destaque para a Sessão “Estética, Arte e Design”, coordenada por Bernardo Pinto de Almeida e Jorge Bacelar e onde terão lugar as comunicações de Catarina Moura ou de Pedro Andrade.

Justificam, igualmente, interesse, as Sessões “Tecnologia, Linguagem e Cidadania” (coordenada por Graça Simões
 e António Machuco Rosa); “Sociologia da Comunicação” ( José Luís Garcia e Rogério Santos); “Comunicação Multimédia e Jogos Electrónicos”( Óscar Mealha e Manuel José Damásio) ; “Comunicação e Ciência” (José Azevedo e Anabela Carvalho) ; “Teoria e história da Imagem” (Maria Augusta Babo e Bragança de Miranda) ou “Comunicação Politica” onde será apresentada a minha comunicação intitulada “Artes e Design: Figuras de autoridade”.

Uma última referência para destacar a prometedora presença de Divina Frau-Meigs, conhecida investigadora dos Media e vice-presidente da International Association for Media and Communication Research.

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REACTOR é um blogue sobre cultura do design de José Bártolo (CV). Facebook. e-mail: reactor.blog@gmail.com