Wednesday, March 25, 2009




SOMETIMES I WONDER
por John Getz


No final do ano de 1990, a revista BUZZ pediu-me para fazer uma lista comentada das neo-novidades de L.A para ser publicada no primeiro número de 1991. Porque L.A. is my city lá avancei, no que não pretendia ser mais do que uma expressão do “the talk of Los Angeles”.

A sensação era a de que tudo estava a acontecer em L.A. – e o que não acontecia ali, estava a acontecer em Atlanta. Nova York parecia-nos então coisa para nova-yorkinos, interessante mas sem nada de novo interesse, ao contrário de L.A onde – tirando Holyfield – tudo estava e tudo acontecia. Mesmo as coisas menos desejáveis, como o Predador 2 à solta, promovido com o infeliz tyser: "He’s in town With a Few Days to Kill”.

Em contrapartida, tínhamos policias de bicicleta patrulhando as zonas East e South-east; tínhamos Lena Olin, mesmo que ela confessasse detestar Los Angeles; Lauren Hutton melhor que nunca; tínhamos a Victoria’s Secret e a Julie Cruise que depois de participar em quase todas as bandas sonoras para filmes de David Lynch lançara finalmente um álbum só dela, o extraordinário Floating into the night. Só em 90, depois de alguns desencontros, consegui assistir a um primeiro concerto de Julie Cruise, numa pequena sala da zona east. Recordo-me que foi uma experiência verdadeiramente extraordinária e tenho ainda bem presente essa sensação de levitar que senti ao ouvir The World Spins – embora estivesse prostrado numa cadeira de veludo, com um copo de mescal na mão.





Creio que aquela lista retratava não apenas o espírito do convite – e da própria revista BUZZ que conseguia, com toda a naturalidade, falar num mesmo número de Carrie Fisher, Marc Reisner e Preston Sturges – mas também o meu próprio espírito e o da cidade: e ali coexistiam o designer trendy Dakota Jackson, referências aos melhores sítios para beber em L.A. o melhor vinho californiano, gravatas garridas e John Updike.

Muito do que ali se falava mudou, alguma coisa desapareceu, mas por vezes sinto que ali consigo voltar, que algures ainda existe aquela cidade – que nunca deixou de ser inventada – e que, afinal, ela precisa tanto de nós como nós dela.

Friday, March 20, 2009




Neste final de semana era aqui que eu queria ter estado. Acabei por ficar por cá numa semana mais vazia depois do, tão talentoso como simpático, James Sturm ter regressado a casa. Ficaram, da semana que agora termina, sobretudo leituras. A começar por um interessante artigo em que Rick Poynor trabalha a noção de relational aesthetics de Bourriaud.

Curiosamente, só li o texto depois depois de ter começado a trabalhar o Nicolas Bourriaud com os meus alunos de Mestrado em Design. Refira-se que o texto de Rick Poynor parte de um outro interessante texto publicado por Andrew Blauvelt no Design Observer.

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Entre as leituras, recomendo também a entrevista, publicada no Grain Edit com o ilustrador norte-americano Frank Chimero numa interessante conversa sobre as referências, as influências e o processo de trabalho de Chimero.



Na quarta-feira estive a rever uma boa parte das Stock Exchange Visions e com particular atenção às das Bruce Mau. As Stock Exchange Visions eram a par das Brief Message (criadas por Khoi Vinh e Liz Danzico) dois dos meus projectos alojados na internet favoritos. Extinguiram-se os dois há cerca de um ano e a reflexão (mesmo que nesse registo de statement) sobre design ficou menos dinâmica.

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Ontem, encomendei na Amazon o livro Paul Renner: The Art of Typography, usado (mas quase novo, garantem) o livro ficou muito, muito barato, paguei sobretudo portes de correio para ficar melhor documentado sobre do criador da Futura.


Por estes dias andei a ouvir o novo Beware (forte capa!) de Bonnie “Prince” Billy que não me desagradou mas também não entusiasmou. No topo das mais ouvidas devem ter estado, no entanto, DLZ dos TV On The Radio e a velhinha Please let me get What I Want dos Smiths.

Ontem vi na 2 um episódio da série Fringe que creio ser dos mesmos produtores de Lost, pelo menos a “receita” J.J. Abrams está lá explorando um inverosímil realismo que possibilita praticamente tudo (modelo narrativo que julgo ter sido criado, para televisão, com o Twin Peaks de Lynch).

Com consciência pesada por ter perdido a exposição da Filipa César na galeria Cristina Guerra, amanhã é dia para ir ver exposições. Umas horas estão guardadas para ver a exposição Arquivo Universal, provavelmente logo de manhã depois de um passeio pela feira de alfarrabistas no Chiado.

Falando em exposições, consta que o Silo do Nortshopping vai deixar de acolher exposições. A ser verdade, encerra assim o espaço que Andrew Howard conseguiu tornar atractivo com as excelentes exposições da série Idiomas, espaço que afinal era o único em Portugal a acolher regularmente exposições de design.

Tuesday, March 17, 2009



Haverá ainda espaço para o design? Francamente, ele é muito reduzido. A enorme complexidade dos problemas do nosso ambiente obriga-nos a tentar resolvê-los tecnicamente e já vimos, quando discutimos a teoria de Buckminster Fuller, a que grau de abstracção pode chegar a imaginação tecnológica abandonada ao livre jogo das suas infinitas possibilidades e, sobretudo, sem o auxiliar da imaginação social.

(...) Pela primeira vez vivemos a ilusão da impunidade absoluta: quer dizer que, pela primeira vez, se nos torna possível desencadear acções sem nos preocuparmos com os seus eventuais efeitos. Fala-se muito em inovação (e ainda mais frequentemente de revolução), mas não se quer saber quais os riscos que daí poderiam provir; recusa-se admitir que, em cada domínio, o comportamento inovador é um acto de gestão, de gestão destinada a controlar o risco e a medir as consequências.

Neste sentido, comportamento inovador e comportamento projectual são muito semelhantes: os dois agem na mesma frente, quer dizer, tentam probabilizar o risco implícito em cada incerteza, identificar o maior risco que possa imaginar.

Tomás Maldonado, Meio Ambiente e Ideologia (1970).

Tuesday, March 10, 2009

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O meu primeiro contacto com o trabalho de Barney Bubbles terá acontecido há uns bons 20 anos, através de um disco dos Tanz Der Youth. Os discos eram então um meio que conduzia a inúmeras descobertas, acerca dos músicos, dos géneros, das editoras, dos produtores e, claro, dos designers que criavam as capas dos discos. Nessa altura o “meu” designer era Vaughan Oliver muito por culpa dos This Mortal Coil, das Throwing Muses, dos Cocteau Twins e de uma série de outras bandas da 4 AD que eu acompanhava – dentro do espírito da editora – religiosamente. Só depois de Oliver vinham os “outros”, de Peter Anderson da Rough Trade a Peter Saville da Factory e, entre eles, Barney Bubbles. Só mais tarde fiquei a conhecer um pouco melhor a inqualificável obra e atormentada vida de Barney Bubbles.

Recentemente, Paul Gorman dedicou-lhe um livro prestando a devida homenagem e contribuindo para o reconhecimento da importância da grande produção gráfica desenvolvida por Bubbles sobretudo na década de 1970.

A par do livro foi criado um blogue, no qual muito material inédito vem sendo tornado público. Gorman entendeu dever colocar o Reactor nos links do blogue dedicado a Barney Bubbles. Mais do que lisonjeado, senti-me nostálgico. Voltei a ter 15 anos e a ver pela primeira vez o nome “Barney Bubbles” impresso na capa do disco “I’M Sorry, I’M Sorry” dos Tanz Der Youth.

Tuesday, March 03, 2009




Três notas, em fastforward, sobre um texto lido, um texto escrito e um texto a escrever.

O texto lido intitula-se Notas sobre projectos, espaços e vivências foi escrito pelos R2 e publicado na Arte Capital.

Excelente texto sobre as contingências (os encontros, os acidentes, as demandas) e as intenções dos projectos, projectos que, na interpretação dos R2, “constroem-se sobre diálogos permanentes que reenviam sistematicamente ao olhar crítico do outro.”


O texto escrito tem por título Design: a revolução inacabada e foi publicado, ali ao lado, no Ensaio.

Trata-se de uma análise crítica da obra de Paolo Deganello, das propostas das neo-vanguardas nos anos 70 e da sua actualidade.


O texto a escrever é sobre o mais recente trabalho do fotógrafo Simon Hoegsberg, intitulado We’re All Gonna Die – 100 Meters of Existence.

Hoegsberg cria uma impressionante narrativa visual, onde cada personagem surge, a um tempo, isolada e integrada, no meio de outros e na sua radical solidão.

Trata-se provavelmente da maior fotografia publicada, com mais de 100 metros de comprimento (100mx78cm) construída a partir da montagem de 178 retratos de pessoas a andarem sob um céu azul.

PERFIL

REACTOR é um blogue sobre cultura do design de José Bártolo (CV). Facebook. e-mail: reactor.blog@gmail.com