O artigo que o
Ípsilon hoje publica, antevisão possível do panorama cultural português em
2012, questiona, sob o título d’”O ano de todos os perigos”: E se não houver
IndieLisboa? E se o teatro e a dança independente se desprofissionalizarem? E
se o cinema português acabar no “era uma vez”? E se Paulo Furtado só tiver o
estrangeiro? E se a FNAC sair de Portugal? E se o Teatro Viriato deixar de ser
do mundo para voltar a ser da província? E se a cultura portuguesa estiver
condenada a ser “low-cost” para sempre?
O ano de 2011
torna crível qualquer cenário. Em ano de recessão e protesto, de disforia e
inquietação, o contexto do design não deixou de reflectir a conjuntura, sinais
positivos surgiram em paralelo a outros mais preocupantes.
Souto Moura
ganhou o Pritzer e no dia em que recebeu o prémio das mãos do Presidente dos
Estados Unidos disse que “Hoje, como ontem, a solução para a arquitectura
portuguesa é emigrar.” À falta de melhores políticas, Passos Coelho pegou na
deixa. Centenas de designers, na sua maioria recém-licenciados perceberam a
ausência de alternativas e deixaram Portugal.
Os melhores
livros (O Retorno de Dulce Maria Cardoso) e filmes (Sangue do Meu Sangue de
João Canijo) que surgiram neste ano não deixavam de andar em torno desta pesada
realidade de sempre, que há força de se repetir se torna condição ontológica da
nossa identidade.
Entre pedido de
ajuda externa e extinção do Ministério da Cultura, relegado a Secretaria
dirigida por um pouco entusiasmante secretário de estado, a palavra mais ouvida
nos últimos 12 meses sentiu-se em particular na produção dos estúdios de
design. Olhando para o que foi produzido o ano não foi particularmente
estimulante, notando-se uma menor visibilidade de João Faria e trabalhos
interessantes dos suspeitos do costume, Martino&Jaña especialmente.
As conversas
corporativas andaram ocupadas com a possibilidade de criação de uma Ordem dos
Designers, ideia que, até prova em contrário, não me suscita grande entusiasmo.
Ao mesmo tempo, por culpas várias, a crise do CPD acentuou-se, 2012 poderá
marcar a sua extinção ou profunda remodelação.
Com o passar dos
meses Guimarães 2012 foi confirmando as piores expectativas, desorganização, gestão
duvidosa, pouca capacidade de envolvimento de criadores e programadores
nacionais. Da anunciada Bienal de Viana do Castelo mais nada se ouviu. De
destinos menos prováveis como Paredes e S. Tirso chegaram, enfim, boas
surpresas.
Guta Moura Guedes
assumiu algum protagonismo mediático na defesa da economia criativa e das
potencialidades do design em tempos de crise. Mas terão sido mais as vozes que
as nozes. Mostrando habilidade em entender os sinais dos tempos (e dos
mercados) empresas como A Boca do Lobo consolidaram a sua presença
internacional, através de projectos elitistas e extravagantes como o polémico
cofre em ouro.
Na viragem para a
segunda década do século, dois dos principais leitmotivs da década anterior – o
design social e a crítica do design – perderam claramente força.
A crítica do
design que havia sido impulsionada pela energia da blogosfera vinha mostrando
sinais menor competência que se evidenciaram em 2011, através da degradação do
Design Observer ou na anunciada extinção do MA em Design Writing and Criticism da London College of Communication.
Face à crise dos
blogues de design, uma clara excepção: a energia manifestada por Mário Moura no
seu Ressabiator.
Em ano de
Experimentadesign, 2011 parece-me ter tido três protagonistas: Fernando Brízio
consagrado na boa exposição Desenho Habitado; Jorge Silva responsável pela
Coleção D (um dos
projectos editoriais do ano) e o já referido Mário Moura pela produção dentro e
fora (nomeadamente o ciclo de conferências na Culturgest) do seu blogue.
Mais do que os
estúdios de design, foram as escolas a contribuir para alguma actividade. O
Politécnico de Tomar revelou a existência de massa crítica com uma óptima
edição do ARTEC, de Coimbra e de Aveiro vieram, igualmente, boas intenções. No
Porto, a ESAD prosseguiu uma programação ambiciosa, enquanto das Belas Artes
eventos como a Feira de Publicação Independente ou a segunda edição do Close Up
consolidavam méritos de jovens designers-editores-curadores como Ana Simões ou
Márcia Novais.
Mesmo
arriscando-me a ser juiz em causa própria, diria que outros destaques do ano
passam, necessariamente, pela abertura da Galeria Quadra, espaço de referência
para a programação de design, onde se exibiram já três excelentes exposições
(Isidro Ferrer, David Carson e Maria Gambina) e para um conjunto de novos
eventos produzidos pela ESAD em particular o Books Make Friends e a maratona de
excelentes apresentações do World Graphics Day, talvez o evento nacional do ano.
Num ano marcado
por uma certa euforia em torno da edição, tendência que vinha de anos
anteriores, foram acontecendo feiras em Lisboa e Porto e surgiu, finalmente,
uma revista de design, a Pli Arte&Design cujo segundo número será lançado no início de Janeiro.
Para além da já
referida Coleção D, cujo volume dedicado a Pedro Falcão será publicado em
breve, referencia também para a Coleção Arquitectos Portugueses que a QuidNovi
publicou com o Público.
O ano permitiu
ainda ver algumas boas conferências como a de Gillo Dorfles no IADE (em
Outubro) ou George Hardie a fechar o ano na ESAD, mas sem a mesma energia de
anos anteriores (sente-se a falta dos Personal Views).
O próximo ano
promete ser ainda marcado por alguma dinâmica editorial e curatorial. Ao
protagonismo de alguns curadores portugueses (Miguel Amado na TATE e a notícia,
a fechar o ano, de Pedro Gadanho no MoMA) associar-se-á no início do ano o
primeiro curso de Curadoria Contemporânea promovido pela ESAD em colaboração
com Serralves e a Experimentadesign do qual se esperam bons resultados.
O ano promete
arrancar forte com a conferência de Charlotte Cheetham do Manystuff no próximo dia
13 na ESAD.
Que seja o
prenúncio de um ano de forte reacção à crise!
1 comment:
É sem dúvida bastante desesperante quando há designers com qualidade a quererem trabalhar e as oportunidades não surgem. E claro, quando se vê casos em que designers de renome começam também a ter certas dificuldades, a expectativa para quem está agora a começar não é muita.
Mas que trabalho existe existe, vivemos numa sociedade de imagens e publicidade na qual obviamente o papel do designer gráfico é mais que essencial. A grande questão que talvez se ponha é a forma como os clientes chegam ao designers. Muitas vezes os próprios clientes não sabem que precisam de um, e se sabem, não sabem como hão-de chegar a ele. Vai quase sempre por intermédio de um amigo ou conhecido. Se eu preciso de um médico sei onde o ir procurar, se preciso de um informático sei onde ir, de preciso de um designer… pois, já é mais complicado. Teremos então nós, designers, uma certa culpa no que toca à forma como nos promovemos? Não sei, mas parece-me que esta questão já deve ter sido discutida e posta em cima com a necessidade de criar uma Ordem dos Designers.
Há que ir à luta…
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