Tuesday, February 28, 2012

Manifesto pela Grécia




Num momento em que um em cada dois jovens gregos está desempregado, onde 25 000 sem-abrigo vagueiam pelas ruas de Atenas, onde 30% da população desceu abaixo da linha de pobreza, onde milhares de famílias são forçadas a dar os seus filhos para que estes não morram de fome e frio, onde novos pobres e refugiados disputam o lixo nos aterros sanitários, os “salvadores” da Grécia, sob o pretexto de que os “Gregos” não fazem um “esforço suficiente” impõem um novo plano de ajuda que duplica a dose letal administrada. Um plano que elimina o direito ao trabalho, e que reduz os pobres à miséria extrema, tudo isto fazendo desaparecer do cenário as classes médias.
O objetivo não deve ser o "resgate" da Grécia: sobre este ponto, todos os economistas dignos desse nome estão de acordo. Trata-se de ganhar tempo para salvar os credores conduzindo o país a uma falência em diferido. Trata-se sobretudo de fazer da Grécia um laboratório de mudança social que, num segundo momento, se generalizará a toda a Europa. O modelo experimentado nos Gregos é o de uma sociedade sem serviços públicos, onde as escolas, hospitais e centros de saúde caem em ruína, onde a saúde passa a ser um privilégio dos ricos, onde as populações vulneráveis são condenadas a uma eliminação programada, enquanto que aqueles que ainda trabalham são condenados a formas extremas de empobrecimento e precariedade.
Mas para que esta ofensiva do neo-liberalismo possa alcançar os seus objetivos, será necessário instaurar um regime que faça a economia dos direitos democráticos mais elementares. Sob a exigência dos salvadores, vemos instalar-se na Europa um governo de tecnocratas que desrespeita a soberania popular. Trata-se de um momento de viragem nos regimes parlamentares, onde vemos os "representantes do povo" dar carta branca aos especialistas e aos banqueiros, abdicando do seu suposto poder de decisão. De uma certa forma, trata-se de um golpe de Estado, que faz também apelo a um arsenal repressivo amplificado face aos protestos populares. Assim, quando os membros ratificaram a convenção ditada pela troika (União Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional), diametralmente oposta ao mandato que estes tinham recebido, um poder desprovido de legitimidade democrática terá comprometido o futuro do país por trinta ou quarenta anos.
Paralelamente, a União Europeia prepara-se para constituir uma conta bloqueada para onde será transferida diretamente a ajuda financeira à Grécia, para que esta seja usada unicamente ao serviço da dívida. As receitas do país devem ser consagradas como “prioridade absoluta” ao reembolso dos credores e, se necessário, pagas diretamente nessa conta criada pela União Europeia. A convenção estipula que todas as novas obrigações emitidas dentro deste quadro serão regidas pela lei inglesa, que envolve garantias materiais, enquanto que os diferendos serão julgados pelo tribunal do Luxemburgo, tendo a Grécia renunciado à partida qualquer direito de recurso contra uma tomada determinada pelos seus credores. Para completar o cenário, as privatizações serão confiadas a um fundo gerado pela troika, onde serão depositados os títulos de propriedade dos bens públicos. Em suma, é a pilhagem generalizada, característica própria do capitalismo financeiro que oferece aqui uma bela consagração institucional. Na medida em que vendedores e compradores se sentarão no mesmo lado da mesa, não duvidamos que esta tarefa de privatização seja um verdadeiro festim para os compradores.
Todas as medidas tomadas até agora não fizeram mais do que afundar a dívida soberana grega e, com o auxílio dos salvadores que emprestam a taxas exorbitantes, esta, literalmente, explodiu aproximando-se dos 170% de um PIB em queda livre, enquanto que em 2009 representava somente 120%. É provável que este grupo de resgate – sempre apresentado como “final” – não tenha outro propósito que o de enfraquecer ainda mais a posição da Grécia, de forma a que, privada de toda a possibilidade de propor ela mesma termos de uma reestruturação, seja reduzida a ceder tudo aos seus credores sob a chantagem de “a catástrofe ou a austeridade”.
O agravamento artificial e coercivo do problema da dívida foi utilizado como uma arma para tomar de assalto uma sociedade inteira. É com sabedoria que usamos aqui termos relevantes do domínio militar: trata-se de facto de uma guerra conduzida pelos meios da finança, da política e do direito, uma guerra de classe contra a sociedade inteira. E o espólio que a classe financeira conta arrebatar ao “inimigo”, são os privilégios sociais e os direitos democráticos, mas em última análise, é a possibilidade mesma de uma vida humana. A vida daqueles que não produzem nem consomem o suficiente, ao olhar das estratégias de maximização de lucro, não devem ser conservadas. Assim, a fragilidade de um país apanhado entre a especulação sem limites e os planos de resgate devastadores, torna-se na porta de saída por onde irrompe um novo modelo de sociedade adequado às exigências do fundamentalismo neoliberal. Modelo destinado a toda a Europa, e talvez até mais. Esta é a verdadeira questão e é por isso que defender o povo grego não se reduz a um gesto de solidariedade ou de humanidade abstrata: o futuro da democracia e o destino dos povos europeus estão em questão. Por todo o lado a “necessidade imperiosa” de uma austeridade “dolorosa, mas salutar” vai nos ser apresentada como o meio de escapar ao destino grego, enquanto esta por aí avança sempre em frente.
Perante este ataque persistente contra a sociedade, perante a destruição das últimas ilhotas da democracia, nós apelamos aos nossos concidadãos, nossos amigos franceses e europeus a exprimirem-se alto e forte. Não podemos deixar o monopólio da palavra aos especialistas e aos políticos. O facto de a pedido dos dirigentes alemães e franceses em particular a Grécia seja de agora em diante interdita de eleições pode deixar-nos indiferentes? A estigmatização e o denegrir sistemático de um povo europeu não merece uma resposta? Será possível não elevar a voz contra o assassinato institucional do povo grego? E poderemos nós permanecer silenciosos perante a instauração forçada de um sistema que proíbe a própria ideia de solidariedade social?
Nós estamos no ponto de não retorno. É urgente lutar contra a batalha dos números e a guerra das palavras para conter a retórica ultra-liberal do medo e da desinformação. É urgente desconstruir as lições de moral que ocultam o processo real posto em prática na sociedade. Torna-se mais do que urgente desmistificar a insistência racista sobre a “especificidade grega”, que pretende fazer do suposto caráter nacional de um povo (preguiça e astúcia à vontade) a causa primeira de uma crise, na realidade, mundial. O que conta hoje não são as particularidades reais ou imaginárias, mas as comuns: o destino de um povo que afetará todos os outros.
Muitas soluções técnicas têm sido propostas para sair da alternativa “ou a destruição da sociedade ou a falência” (que quer dizer, vemo-lo hoje: “e a destruição e a falência”). Tudo deve ser tido em conta como elemento de reflexão para a construção de uma outra Europa. Mas primeiro, é necessário denunciar o crime, trazer à luz do dia a situação onde se encontra o povo grego devido aos “planos de ajuda” concebidos por e para os especuladores e os credores. Num momento em que um movimento de apoio se tece em todo o mundo, onde as redes sociais emitem iniciativas de solidariedade, serão os inteletuais franceses os últimos a elevar a sua voz pela Grécia? Sem mais demora, vamos multiplicar os artigos, as intervenções nos media, os debates, as petições, as manifestações. Porque toda a iniciativa é bem-vinda, toda a iniciativa é urgente.
De nossa parte, eis o que propomos: formar rapidamente um comité europeu de intelectuais e artistas pela solidariedade com o povo grego que resiste. Se não formos nós, quem será? Se não for agora, será quando?
Vicky Skoumbi, editora chefe da revista «Alètheia», Athènes, Michel Surya, diretor da revista «Lignes», Paris, Dimitris Vergetis, diretor da revista «Alètheia», Athènes. E: Daniel Alvara, Alain Badiou, Jean-Christophe Bailly, Etienne Balibar, Fernanda Bernardo, Barbara Cassin, Bruno Clément, Danielle Cohen-Levinas, Yannick Courtel, Claire Denis, Georges Didi-Huberman, Roberto Esposito, Francesca Isidori, Pierre-Philippe Jandin, Jérôme Lèbre, Jean-Clet Martin, Jean-Luc Nancy, Jacques Rancière, Judith Revel, Elisabeth Rigal, Jacob Rogozinski, Hugo Santiago, Beppe Sebaste, Michèle Sinapi, Enzo Traverso.
22 de fevereiro de 2012.
Tradução para português de Alexandra Balona de Sá Oliveira e Sofia Borges

Friday, February 24, 2012

Estado Precário




No Carga de Trabalhos surgiu recentemente este surpreendente anúncio em busca de um estagiário profissional

Não sendo uma nova profissão, ser um estagiário profissional parece tornar-se uma condição profissional, uma das muitas formas de precariedade laboral, nos tempos que correm.

Sem grande esforço, uma análise (tarefa penosa!) aos actuais discursos político-partidários e, em particular, governativos, faz-nos perceber que existe um esforço em construir um discurso justificativo da actual situação, em criar uma certa cultura da resignação, da aceitação da inevitabilidade e, falso argumento tantas vezes usado, da imprevisibilidade da crise.

Expressões como Flexibilidade tornaram-se, em linguagem hipócrito-eufemística, sinónimos de precariedade. O Estagiário Profissional é um bom exemplo do contexto laboral flexível que muitos avançam ser inevitável aceitarmos.

Hoje, Cavaco Silva dá início ao Roteiro da Juventude, dedicado ao Empreendedorismo. Poucas palavras conheceram mais rápida banalização e esvaziamento do que a palavra empreendedorismo. A valorização do empreendedorismo tal como ela é feita nestas acções políticas é, em tudo, contestável. Elogiar o empreendedorismo não é, afinal, senão outra forma de credibilizar a precariedade.

O entusiasmo com que se olha para um licenciado em biologia marítima que agora gere o café que era do pai, para dois arquitectos que têm uma empresa que organiza casamentos, ou dois advogados que montaram um negocio de venda de croquetes, não vai além da cínica distribuição de pancadinhas nas costas, típicas da acção política mais débil, da desresponsabilização política, da pactuação com o desenrascanço perante a incapacidade de criação de verdadeiras oportunidades.

Wednesday, February 22, 2012

OUTLETS DE DESIGN





Em 2006 quando é criado o Coconut Jam, confesso que para mim não ia muito além de um exercício lúdico visitar aquele (e como aquele outros) blogues de links, muito mais interessado que estava em encontrar na blogosfera a possibilidade de ler, por vezes com significativo aprofundamento, textos críticos sobre design. Essa possibilidade era real desde a criação do Speak Up em 2002, reforçada, com o Design Observer (2003) e o Ressabiator a partir de 2004.


Na viragem da década, eram diversos os sinais de que uma vaga sensação de omnipresença da crítica do design, reivindicada no título de inúmeros artigos, conferências, cursos e seminários, talvez anunciasse a rápida aproximação da crise da crítica do design, dessa crise o fim do Speak Up (2009) e a lamentável desfiguração do  Design Observer foram, simultaneamente, causa e efeito.

Com a gradual tendência de se substituir, em muitos círculos, a palavra “crítico” pela palavra “curador”, foi sem surpresa que, coincidindo com o fim dos blogues de crítica, se tenham multiplicado o aparecimento de sites e blogues de links agora apresentados como espaços curatoriais.

A moda terá sido consolidada pelo sucesso do Manystuff e do It’s Nice That, ambos criados em 2007. Nos dois casos, tratam-se de outlets de informação sobre design gráfico, reenviando para projectos seleccionados com peneira relativamente larga e sem um particular enquadramento crítico.

O sucesso destes outlets não deixou de seduzir os mais insuspeitos, recorde-se, a título de exemplo, a criação do Grandes Armazéns do Design por Mário Moura no final de 2008.

No contexto português, Eurico Sá Fernandes soube associar-se a esta tendência com a criação do Collher, mas neste caso o papel do curador era muito mais vincado, desde logo na definição muito objectiva do perfil do trabalho exposto - trabalhos de ilustração de jovens designers portugueses - o que convertia o Collher, longe de se resumir a mais um site de links, num meritório espaço de publicação da jovem ilustração portuguesa.

O site Collher permitiu alimentar outros projectos, como a actual loja on-line, uma exposição e, em particular, a publicação Colher Portuguese Illustration, impecável zine impressa risograficamente, apresentando trabalhos de designers/ilustradores que haviam sido divulgados no site como Mariana, a miserável , Marta Veludo  ou Inês Nepomuceno, na sua maioria jovens criadores formados pelas Belas Artes do Porto ou pela ESAD de Matosinhos.

Já depois do Colher, apresentando um leque de escolhas mais diversificado, surgiram O Fluxo  de Nuno Patrício e Marquês de Paulo Lopes.

Para além de uma escolha, que me parece criteriosa, de projectos ligados ao design gráfico, com a preocupação de, de forma breve, os enquadrar, é também de elogiar a preocupação com a produção de conteúdos próprios, com destaque para as entrevistas.

Actualmente, o sucesso destes grandes armazéns é evidente, basta verificar o número de visitantes de sites como o também português We Celebrate, para além dos conhecidos Qompedium, Crap Is Good, Qualité Graphique Garantie ou God Make Me Funny.

Hoje, como em 2006, contínuo mais interessado em ler revistas e em visitar sites que me ofereçam textos críticos e menos interessado naqueles que oferecem apenas divulgação. Dito desta forma, interesso-me muito mais pelo que se publica no e-flux do que com o que (agora) se publica no Design Observer.

No contexto português, é com muito entusiasmo que vejo surgirem sites como Marquês e O Fluxo, espaços muitíssimo competentes de divulgação, mas desejando que esses espaços possam co-existir com outros que nos ofereçam outro tipo de abordagem, mais aprofundada, tão preocupada com a actualidade como com a história, tão capaz de informar como de problematizar.

O DESIGN NO VIRAR DA DÉCADA



1. O Design Pós-11 de Setembro

 A cultura do design da primeira década do Século XXI caracterizou-se pela substituição do modelo do design como estética da produção pelo modelo do design como prática de mediação, actualizando através dos recursos contemporâneos, estratégias e valores que haviam marcado o campo artístico e o seu envolvimento cultural nos anos 1970: participação, comunidade, performance, mobilização, envolvimento sócio-político.

 A tendência para uma crescente politização e responsabilização social do design, sentida desde o final dos anos 1990, sobretudo após a publicação do manifesto First Things First 2000, conheceu uma reorientação após o abalo global gerado pelo 11 de Setembro. A ideia de design crítico, que até então era frequentemente associada a estratégias de subversão e guerrilha, típicas de colectivos como os Adbusters, próximas de movimentos activistas ambientalistas ou anti-globalização, deu lugar a um paradigma mais integrado e solidário de design, que entretanto havia substituído o No Logo de Naomi Klein pelo Relational Aesthetics de Bourriaud como cartilha orientadora.

Uma das reflexões que marcam essa mudança, foi publicada por Stefan Sagmeister, na Typotheque, pouco tempo depois do ataque às Torres Gémeas com o título How Good Is Good?.

Sagmeister considerava que “Em Setembro o design sentiu-se impotente e frívolo. Não há nada inerente à nossa profissão que nos obrigue a defender boas causas, a promover boas acções, a evitar a poluição visual. Haverá eventualmente tal responsabilidade em algumas pessoas. Em Agosto, quando reflectia sobre o sentido da minha vida, as razões que justificavam levantar-me todas as manhãs, eu teria apontado as seguintes: 

1. Strive for happiness
2. Don’t hurt anybody
3. Help, other achieve the same

Agora altero essas prioridades:

1. Help Others
2. Don’t hurt anybody
3. Strive for happiness


Esta alteração de prioridades e as decorrentes alterações de estratégia, procedimentos e resultados do trabalho em design foram evidentes ao longo da década que agora termina, a década da altermodernidade, diria Bourriaud e subscreveriam muitos designers cujo trabalho marcou os últimos anos – Dexter Sinister, Abake, Superflex, Project Projects, Daniel Eatock, Will Holder para citar alguns, ligados ao campo do design gráfico, de uma extensa lista.

Com este novo paradigma alterou-se o modus e o locus do design. O novo modus impôs conceitos como: relacional, colaborativo, generativo, pós-digital; o novo locus orientou o design para novos espaços: as redes socais e as galerias. Ao hibridismo de inovação tecnológica dos anos 1990 sucedeu o hibridismo de inovação social dos anos 2000, impondo uma nomenclatura que remete para a ideia de mediação, negociação ou fusão: prosumidor, catalisador, superprodutor.

Peer to Peer torna-se – na década das homepages, blogues e comunidades online – uma maneira antiquada de descrever um fenómeno novo: o facto de todas as pessoas serem o potencial par de todas as outras, de estarem ligadas intersubjectivamente em vez de estarem ligadas hierarquicamente através das redes de mediação institucionalizadas tradicionais, como Max Bruinsma afirmava neste contexto “o design já não pode ser visto como algo de ‘objectivo’, deve ser entendido como o ‘sedimento das interpretações’”.


2. Obama enquanto design


Também o design conheceu o seu efeito Obama. Em cima da eleição de Barack Obama para presidente, o primeiro afro-americano da história, dos Estados Unidos da América, Umair Haque, Director do Havas Media Lab da Harvard Business School, o principal guru do chamado Marketing 2.0, publicou um artigo intitulado “As Sete Lições de Obama para os Inovadores Radicais”.

Obama surgia como modelo da ideia, largamente teorizada por Haque, da inovação radical baseada em princípios de participação, co-design e espírito comunitário. Se de Obama designers e maketeers recolheram ensinamentos, também Barak Obama lhe pode estar grato pelo modo como Sheppard Fairey e outros designers contribuíram para a criação de uma identidade icónica de Obama; no final a eleição e a celebração da eleição tinha menos a ver com o homem  eleito e mais a ver com aquilo que ela, real ou virtualmente, representa e, por isso, no fim percebia-se que afinal Obama fora sempre, também, um projecto de design. Um projecto de design que podia ser caracterizado com muitas das palavras-chave da década: DIY (Design It Yourself); Mobs (Mobilizador de Massas); relacional, social e político.

3. Tendências para a próxima década

No design, como em muitas outras áreas, os tempos estão de feição para que em relação a qualquer previsão de tendências uma certeza se possa, previamente, ter: tudo o que se preveja realizar-se-á mas não exactamente do modo previsto.

Os próximos anos irão seguramente comprovar a crescente importância, no campo do design, do museu e da figura do curador.  Curadores como Paola Antonelli, Steven Heller ou Andrew Blauvelt assumem actualmente um crescente protagonismo na definição de tendências projectuais. Algumas instituições de ensino já se aperceberam disso, a Kingston University oferece, desde 2002, uma MA em Curating Contemporary Design, outras se lhe seguirão.

A colaboração entre instituições de ensino e museus e galerias talvez seja capaz de gerar, nos próximos anos, uma nova identidade do trabalho em design e contribuirá para a renovação do próprio ensino projectual. Neste sentido, uma das curiosidades em relação aos próximos anos passa por perceber de que forma, em Portugal, as grandes instituições culturais (Fundação de Serralves, Fundação Calouste Gulbenkian, Culturgest, Museu Berardo, Museu do Chiado, Museu do Neo-Realismo entre outras) vão reforçar a sua aposta (timidamente iniciada na última década pela Culturgest através dos esforços de Miguel Wandschneider) no design, de que forma o MUDE – Museu do Design e da Moda terá capacidade para impor uma estratégia curatorial forte, de que forma a Experimentadesign terá criatividade para renovar o seu papel catalisador da cultura do design portuguesa, de que forma, enfim, estas instituições poderão criar novos conteúdos, públicos e visões para o design.

São igualmente previsíveis uma série de contra-tendências relativamente ao que dominou, pelo menos em parte, esta primeira década do Século: a crise dos blogues e o regresso do papel, da self-production e do universo zine; o ressurgimento de formas de mediação institucional e o regresso de uma conflitualidade que resulta, por um lado do que esgotamento de utopias que dominam a última década (crescente comercialização e banalização dos valores sociais, ecológicos etc.) e, por outro lado, da necessidade de um novo design industrial, mais estrutural, capaz de suceder a uma realidade mais difusa imposta pela explosão das indústrias criativas. Se se quiser, o regresso à velha indústria, depois destes anos de gozo e choro sobre a nova realidade pós-industrial.

Acredito, enfim, que o design enfrentará, nos próximos anos, mais um starting from zero, que não sendo verdadeiramente um começo nem sendo propriamente a partir do zero, contribuirá para a renovação do design. Se nos primeiros anos da próxima década, é previsível que a identidade dos projectos se faça por uma demarcação em relação à herança anterior (ouviremos falar de pós-digital, pós-relacional, pós-crítico, pós-social, pós-local), será apenas uma questão de tempo para que as práticas (e as teorias que as apresentam) assumam identidade própria, ouviremos, então, falar em design resiliente, universalidade popular; processos de design paralelo; sindicância, beta perpétuo e noutras tantas noções que aguardam ainda o seu dia de invenção.

Nota: Artigo inicialmente publicado na revista Artes&Leilões, nº25, Março/Abril de 2010.

 

Tuesday, February 21, 2012






Relaciono-me bem com o que não chegou a acontecer. Nos últimos dois anos diversas foram as possibilidades de projectos associados ao Reactor. Algumas concretizaram-se, outras estiveram na iminência de se concretizarem, outras terão sido apenas adiadas: um livro reunindo uma selecção de textos ou uma publicação anual reunindo conteúdos novos e outros aqui publicados. No meio dessas ideias, produziram-se coisas que nunca chegaram a ser aplicadas. Como este banner desenhado pelos excelentes Exóticalia.
‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹




Teremos oportunidade de falar melhor nisto. A Graphis premiou recentemente três designers portugueses: Sérgio Alves na categoria Cartaz; João Machado na categoria Livro; enquanto Eduardo Aires conquistou o Graphis de Platina pelo design de embalagem de uma aguardente da Esporão.
‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹




À Graphis fica a sugestão para um possível premiado no próximo ano, o muito interessante livro Eduardo Souto de Moura Atlas de Parede. Imagens de Método, desenhado por João Faria.
‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹




Souto de Moura que iniciou recentemente o seu Ciclo de Aulas na FAUP, mensalmente às segundas. Dia 19 de Março, Siza.
‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹




Falando em Ciclos, entre os actuais, um dos meus preferidos aproxima-se do fim. Mas em Facing Forward – Art Theory From a Future Perspective, mas ainda há tempo para assistir a Hans Belting e Iwona Blazwick discutirem o Futuro Museu (8 de Março), Rem Koolhaas a projector a Cidade Futura e o estimulante Homi K. Bhabha a pensar o Futuro do Futuro. A imagem do evento é da autoria de Felix Weigand.
‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹




Expectativas altas, muito altas, paras as as Jornadas Cantianas. Paulo Cantos debatido (na Oporto, dias 16 e 17 de Março) por Massin, Robin Fior, Olga Pombo, Jan Middendorp, Uta e Thilo von Debschitz. Por todas as razões (mas pessoalmente por Thilo von Debschitz e por Robert Massin) imperdível.
‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹




Expectativas altas, para a próxima PA/PER VIEW, terá lugar em Bruxelas (a minha cidade do momento) entre 23 e 25 de Março. Espero lá estar com o 2º número da PLI.
‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹‹




Não sei se estará à venda na PA/PER VIEW, eu recebe-lo-ei em breve (assim os Correios não falhem). Do que vi e do que sei, o livro nas mãos não defraudará, falo do catálogo Theatre of Hunters de Pedro Barateiro.

PERFIL

REACTOR é um blogue sobre cultura do design de José Bártolo (CV). Facebook. e-mail: reactor.blog@gmail.com