2. Num
momento em que a nossa autonomia enquanto estado-nação é atacada por uma insuportável
ingerência externa, num contexto em que o país está preso a orientações de
credores externos, na mesma altura em que a carga fiscal ultrapassa os 48% do
PIB, em que o desemprego é de 16%, em que o descrédito nos políticos é total,
em que o desalento e o pessimismo nos dominam, nós assumimos a nossa quota
parte de responsabilidade na sensibilização, mediação e mobilização sociais; na
construção crítica do presente; na procura de alternativas futuras.
3. Nós não nos revemos, identificamos ou
conformamos com a actual situação cultural, social, política e económica do
país; defendemos uma maior e mais efectiva responsabilização colectiva - dos
governantes e dos governados – e defendemos a procura de formas alternativas de
fazer política, de fazer cultura, de fazer negócios e de fazer design. O design
é um processo activo de transformação contextual; nós defendemos a
consciencialização dos designers para uma compreensão do projecto enquanto
realização de um acção socialmente eficaz.
4. Nós rejeitamos a ditadura do financeiro e
defendemos a defesa de valores fundamentais, de respeito pelo trabalho, de
equidade, de pluralismo, de participação, de liberdade. Nós defendemos a
importância do papel do design na comunicação e construção de alternativas.
Acreditamos que a democracia é o governo através da discussão. Defendemos o
envolvimento dos designers no assegurar a amplitude e a qualidade da discussão,
tornando-a o mais o quotidiana e pragmática possível.
5. Nós defendemos que o design deve ter uma agenda que resulte da discussão dos
valores, da discussão acerca da utilidade e da eficácia da disciplina, conseguida
de forma alargada e em mais do que um forum:
no movimento associativo; nas escolas; nas empresas de design; nos meios de
comunicação social.
6. Nós defendemos que essa agenda seja capaz de posicionar o design
português, de forma clara, objectiva e pragmática, perante questões sociais,
políticas, culturais, económicas, tecnológicas e éticas que afectam o país e os
cidadãos. Nós comprometemo-nos a criar um grupo de trabalho, aberto à
participação de todos, capaz de desenvolver acções que garantam a prossecução
das intenções do presente manifesto.
7. Nós defendemos que o design e os designers
portugueses sejam valorizados, promovidos e defendidos; nós apelamos às
associações e às escolas para assumirem a sua responsabilidade na defesa
intransigente de uma proposta crítica e exigente para o design e a sua prática
profissional. Nós apelamos a uma maior politização da prática do design, a uma
maior interferência dos designers na programação cultural e social, a uma maior
consciencialização dos designers do seu papel produtivo.
8. Nós acreditamos no design como uma forma
de produção social, e não como acto isolado de criatividade. Nós defendemos uma
prática do design centrada na prestação de serviços do designer a um cliente,
envolvendo respeito mútuo, empenho na procura da melhor solução, de forma a que
cada projecto contribua para a valorização da profissão e para a qualificação dos
valores da cidade e da cidadania. Mas, também, defendemos a procura de práticas
alternativas, auto-propostas e auto-geridas, sejam ou não pro bono. Defendemos a valorização dos designers, a sua liberdade
autoral e condenamos a sua menorização e exploração; valorizamos a formação em
design, a diversidade de formas, processos e manifestações de projecto;
combatemos os estágios não remunerados, a precariedade profissional e quaisquer
formas de descriminação que não se fundamentem em critérios qualitativos
transparentes.
10. Nós, abaixo assinados, lutaremos para que
o design português possa gerar narrativas fortes, que de forma pragmática e
ideologicamente fundamentada, possam voltar a enunciar, de modo pertinente e
efectivo, palavras como utopia, liberdade, igualdade ou revolução.
Redactor:
José Bártolo
Subscritores:
Alejandra Jaña
Ana Rainha
António Modesto
Aurelindo Jaime
Ceia
Carlos Guerreiro
Eduardo Aires
Emanuel Barbosa
Joana Bertholo
João Alves Marrucho
João Bicker
João Martino
José Bártolo
José Carlos
Mendes
Luís Alvoeiro
Luísa Barreto
Marco Balesteros
Marco Reixa
Mário Moura
Nuno Coelho
Pedro Marques
Sofia Gonçalves
Vera Tavares
Valdemar Lamego
Victor M Almeida.
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