Sunday, May 13, 2007

JON WOZENCROFT





A conferência de Jon Wozencroft, uma das melhores desta segunda série dos Personal Views, que teve lugar na última sexta feira na ESAD deixou à vista uma série de desequilíbrios. Como compreender a presença desses desequilíbrios da comunicação em alguém tão atento e preocupado com a “estrutura” e o “equilíbrio” das formas de comunicação? Proponho três possibilidades de resposta: em primeiro lugar podemos pensar tais desequilíbrios como intencionais, assim sendo devemos procurar entender qual a sua “função” no interior da comunicação; em segundo lugar podemos pensar os desequilíbrios como inevitáveis, aliás a atenção ao equilíbrio não só não nos põe a salvo do desequilíbrio como pode proporcionar novas formas de encontro com ele; em terceiro lugar podemos reflectir sobre o carácter “acidental” ou “constitutivo” do desequilíbrio, podendo ser desenvolvida a tarefa de questionar o sentido da arte e o sentido do design perante o modo como, estas duas tarefas, envolvem os desequilíbrios ínsitos ao ser humano, à nossa razão, a nossa emoção, aos nossos modos (e meios) de comunicação.

Para além de ter deixado à vista vários desequilíbrios, a conferência de Jon Wozencroft também nos colocou diante de alguns enigmas. Aliás, o “conteúdo desequilibrado” e o “conteúdo enigmático” coincidiram em várias ocasiões. É legítimo pensar que tal resulta de uma determinada “intenção comunicativa” que no momento em que nos parece “informar” (isto é, dar à comunicação a sua forma mais concreta) logo nos desampara (as permutas entre “informação” e “abstracção” foram constantes). Assim aconteceu como a indicação explícita do título da conferência (“Change”), do seu propósito (“uma proposta radical…”) e da identificação de mais do que um leitmotiv (trabalhar as dinâmicas “Inside/Ouside”; desenvolver um trabalho que corresponde a uma espécie de “supra-geometria” explorando relações entre o design, a música, a arquitectura e as dimensões espaço/tempo).

Finalmente, a conferência de Jon Wozencroft assumiu, por inúmeras vezes, um carácter despistante. Fomos levados por um excelente trabalho de montagem que combinou uma espécie de “solo” Wozencroftiano (o seu discurso denso, pausado, sem qualquer suporte visual), com a apresentação de uma série de outros materiais (um registo “live” de “Something Else” dos Joy Division; uma gravação de um canto polifónico da Arménia; um anúncio feito por Peter Kubelka; o famoso (mas poucas vezes visto) “Mothlight” de Brakhage; uma breve sequência de “La double vie de Veronike”) terminado com a apresentação do seu trabalho para a FUSE e para a Touch. A montagem construída por Wozencroft foi, inegavelmente, sedutora mas ficou sempre claro que mais importante (ou, pelo menos, tão importante) do que o que se mostrava era o que se sugeria, mais importante do que o que era tornado explícito era o que permanecia implícito, tão importante como o que acontecia “outside”, à superfície, era o que permanecia “inside”, de algum modo oculto, sendo que a relação entre estas duas “camadas” devia ser operada por cada um, a cada um cabe a síntese da qual resulta a construção comunicativa.



O princípio de que a “simplicidade” da comunicação não consiste em retirar informação mas em acrescentar significado encontra em Wozencroft uma decisiva actualização: a “simplicidade” (expressão de uma particular atenção à estrutura e ao equilíbrio da composição) não consiste em retirar informação mas em acrescentar emoção. O recurso a dita “supra-geometria” tem a sua origem nesta intenção. Daí que o trabalho de Wozencroft se apresente com um “alvo axiológico” (para usar a expressão de Hermann Broch) possibilitar uma experiência de partilha, explorar o “sentido comum” kantiano que resulta da nossa capacidade de “julgar a beleza”.Wozencroft, na sua intervenção, expressou a dificuldade de tal “alvo” ser atingido. A ordem comunicante contemporânea subverteu a ordem da representação. Vale a pena citar, a propósito, Henri-Pierre Jeudy: “Valores e referências persistem como os restos de uma organização arcaica do sentido. Os discursos políticos que acompanham as imagens dos acontecimentos atestam este desprendimento: funcionam como distribuidores puramente mecânicos de sentido. O poder da fusão entre a imagem e o real é tal que dispensa virtualmente a simbólica política que parece impor-lhe uma lógica do sentido. Trata-se de facto de um caminho para o advento do sujeito: entre o fascínio da imagem e o vazio dos discursos qualquer inscrição de sentido permanece impossível”. Exige-se, então, o despertar do sujeito. Wozencroft disse-o por mais de uma vez e deixou mesmo, ainda que enigmaticamente, alguns conselhos: “Antes de se deitarem os antigos monges bebiam sempre um grande copo de água”. Despertar é a exigência que se nos coloca.


1 comment:

Grilo Falante said...

Afinal, contamos com a tua presença pelas terras Lusas ou pelas do Tio das Riscas?

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