DESIGN - O ESTADO DAS COISAS: ENTREVISTA COM GUTA MOURA GUEDES
A EXD'07teria inaugurado no passado dia 12 de Setembro. As razões do cancelamento são públicas. Nesta entrevista com a directora da Experimenta, mais do que dissecar essas razões (e por mais difícil que elas sejam de aceitar), procura-se pensar o próximo futuro da ExperimentaDesign conscientes de que a existência, em Portugal, de uma cultura do design dinâmica e visível está indissociável da existência do seu maior evento.
REACTOR: A ExperimentaDesign’07 teria o seu início no passado dia 12 de Setembro. Quando apoios fundamentais falharam o evento estava já definido. O que poderia ter sido esta Bienal?
GUTA MOURA GUEDES: Esta teria sido a quinta edição da ExperimentaDesign – Bienal de Lisboa, logo a seguir a ter sido considerada o evento de design mais interessante da Europa em 2005 pelos media internacionais... A bienal tinha atingido um patamar muito importante, a expectativa para 2007 era enorme e o nosso entusiasmo também. Portanto o investimento que nela foi feito foi grande, quer do ponto de vista conceptual, quer do ponto de vista estratégico. Mas preferia não adiantar muito, porque a bienal está desenhada e pronta a acontecer... e ainda não passou de prazo, pelo contrário.
R.: O trabalho da Experimenta marca, claramente, uma transformação profunda na “cultura do design” em Portugal, permitindo a existência de um fórum no qual esta cultura do projecto encontrou um espaço de divulgação, promoção e discussão nacional e internacional. Actualmente, perante a inexistência de um evento de dimensão internacional, de um projecto editorial de referência, perante uma certa incapacidade de afirmação corporativa, o que lhe sugere falar-se em “cultura do design” em Portugal?
G.M.G.: Pois parece voltar tudo há uns anos atrás, onde a fragmentação era enorme, onde não se verificava uma ideia de um todo dinâmico e eficaz. É claro que o que se conquistou em termos de cultura de design entre 1999 e 2006 não se perde assim de um momento para o outro. A actividade e a energia de muitos dos designers, arquitectos e criadores portugueses é muito grande e está aí. O mesmo se passa com as escolas e alguma da nossa industria. Agora perdeu-se visibilidade, difusão, estímulo, o desafio constante que uma plataforma como a ExperimentaDesign criava. O que se passa agora? Pois não sei, confesso que me foi necessário algum distanciamento de tudo isto, um afastamento, um período que me permitisse recuperar forças e vontade de continuar a fazer coisas por cá.
R:Parece-me faltar, em Portugal, uma “educação curatorial”. Creio (e a ExperimentaDesign provou-o) que existe público, no entanto as principais instituições continuam a não revelar capacidade para garantir uma programação regular de exposições de Design. Onde aparece o design na nossa política cultural?
G.M.G.: É absolutamente verdade o que diz. Não há programação regular, não há investimento regular, nem nos públicos, nem nos profissionais, nem na indústria, não há uma divulgação consistente e coerente. Não era por acaso que desde 1999 muitos designers, gestores, industriais, professores, nos pediam para nos tornarmos uma espécie de centro português de design. A Experimenta e a ExperimentaDesign tinham, de forma inequívoca, um papel fundamental neste processo. O design ainda aparece pouco na nossa politica, cultural e económica e nós representávamos um catalisador contínuo e independente que teve durante muito tempo o mérito de investir no design português e em Portugal e de trazer muita informação para cá, que é essencial para estimular a nossa competitividade. E em muitas frentes, não só com a bienal, basta ver o nosso site. No entanto a Experimenta nunca teve problemas de maior no seu relacionamento com o Estado, quer com o Ministério da Economia, cuja interacção se tornou progressiva e francamente interessante em 2005, quer com Ministério da Cultura, connosco desde a primeira edição.
R.: Um dos méritos da Experimenta foi o de garantir interacções entre diferentes agentes (institucionais e não institucionais) ligados ao Design, nomeadamente a participação das Escolas. Sem a realização da Bienal, como pode essa acção catalizadora sobre o design português (e entre o design português e o design internacional) ser feita?
G.M.G.: Sem a ExperimentaDesign a promoção do design português e das escolas de design em Portugal, e as relações que a partir daí nasceram com a cena internacional, com a industria e com o público, perdem imenso. A título de exemplo posso dizer-lhe que o projecto S*Cool tinha um plano de desenvolvimento para 2007 muito interessante, que para além das escolas em Portugal e em Espanha iria envolver a América Latina também. A rede de colaborações e interacções que formámos, nacional e internacionalmente, estava no seu ponto alto, ao fim de 8 anos de trabalho. O que pode acontecer sem a bienal em Portugal? Pois não sei. O que me dizem cá fora (estou a responder-lhe de Londres, onde estou para o London design festival e para participar na conferencia de imprensa de lançamento de Torino 2008 World Design Capital) é que sem a ExperimentaDesign Portugal deixa de ter um lugar consistente e regular no mapa internacional do design...
R.: A dois anos de distância de uma possível ExperimentaDesign’09 o que é necessário que aconteça (e o que está a acontecer) para que ela se torne uma realidade?
G.M.G.: Nunca quisemos tomar nenhuma atitude precipitada. Apenas cancelámos a edição de 2007 e ficámos a observar que desenho as coisas tomavam, que rumos e que movimentos se definiam, cá e lá fora. O que posso dizer - neste preciso momento em que escrevo - é que muita coisa importante está a acontecer desde fim de Julho passado, que temos muito boas novidades para comunicar e que, se tudo correr como se prevê, algumas delas serão bem surpreendentes... É uma questão de tempo.
Wednesday, September 19, 2007
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