Tuesday, June 02, 2009

susan-boyle


Susan Boyle ou SuBo?*


"Speed is not so much a product of our culture as our culture is a product of speed." 1


Tudo aconteceu rapidamente. O programa televisivo Inglês Britain's Got Talent andou nas bocas do mundo durante o último mês e meio. Tudo devido a Susan Boyle, uma cantora escocesa que surpreendeu o mundo neste programa em busca de talentos.

Apenas algumas horas depois da sua prestação, já algumas estrelas de Hollywood (Demi Moore e Ashton Kutcher) a elogiavam no Twitter. Poucos dias depois, o vídeo da sua audição foi visto mais de 10 milhões de vezes, chegando agora aos 150 milhões. Passadas 5 semanas, Susan tornou-se numa celebridade à escala mundial.

A pressão aumentou a cada dia que passava e a aceleração da fama e sufoco dos media não deram descanso à senhora Boyle, perdida na procura fácil e veloz pelas audiências.

Entre centenas de jornais em todo o mundo, incluindo portugueses, este fenómeno chegou também ao Design Observer. No entanto, depois de ler o artigo, também ele se parece ter aproveitado do poder da marca "Susan Boyle" para promover um trabalho de croché . Por conveniência, ou talvez não, o nome desta cantora foi mesmo transformado na marca SuBo. Se procurarmos na internet por "SuBo", facilmente (rapidamente?) teremos acesso a mais informação relativa a Susan. Esta forma de branding é muito utilizada no mundo da música, onde entre muitas, se pode destacar por exemplo, o caso de Jennifer Lopez (JLo), aplicando um logotipo associado à sua actividade, explorando o mercado através de merchandising, fragâncias e vestuário.

Quanto a SuBo, as entrevistas multiplicaram-se, as fotografias, os rumores, a difamação, as provocações, a exploração da imagem. Sempre, a imagem como elemento central de qualquer viagem ultra-rápida em direcção à fama.

Na verdade, até nem era a voz de Susan que havia criado todo este circo-acelerado em torno dela. A dissonância entre a voz (som) e imagem é que criou toda a admiração. Tal como a autora Margaret Wertheim mencionou no Design Observer, é o facto da experiência superar as nossas expectativas que faz este vídeo tão sedutor.

O que interessava aos criadores do programa era maximizar o produto, exponenciar esta experiência cinemática, esta ilusão e expectactiva.

Todo o programa decorre em muito pouco tempo, com os segundos contados e com a velocidade máxima... é apenas showbusiness, dizem os júris do concurso.

A cantora disse por várias vezes que queria desistir, que não aguentava mais, sendo demovida pelos produtores e criadores do programa.

Quando a competição terminou, Susan ficou em segundo lugar, defraudando os seus fans e a si própria, tal era a pressão da rápida vitória. Neste momento de desaceleração, Susan bloqueou e sofreu uma depressão emocional, sendo transportada para uma clínica de reabilitação para descansar.

Estes programas de reality tv não são feitos para abrandar, mas para consumir. Já muitos artigos foram escritos, principalmente acerca do Big Brother e de ex-concorrentes que entram em depressão ou até mesmo pelo crime. Estes programas não estão preocupados com transições progressivas, mas com saltos rápidos, quase com tele-portação. Sempre que uma viagem super-sónica gerada por um mundo da imagem e cultura hollywoodesca, abrandar parece nunca poder ser opção, correndo-se o risco de colapso.

No mesmo dia em que Britain’s Got Talent 2009 chegou ao fim, no site oficial do programa, através de um comunicado oficial, a empresa Talkback Thames deseja a Susan uma “rápida recuperação”.

Após esta notícia, anunciaram que as inscrições para a próxima série estão agora abertas.


*texto de Francisco Laranjo


Notas:

1.Millar, Jeremy/ Schwarz, Michiel, Speed – Visions of an Accelerated Age, London, The Photographer’s Gallery and Whitechapel Art Gallery, 1998, pp. 16

2 comments:

Ricardo Moura said...

Sinceramente, irritou-me este fenómeno. Uma tentativa hipócrita de fazer crer que o feio também pode vender (perdão... vencer). Não faço a mínima ideia se a mulher canta bem ou não, até porque não foi a voz dela que foi explorada: foi a sua cara de mulher-a-dias (claro que me refiro ao ideal de imagem de "mulher-a-dias", não à profissão que é mais do que digna).
Para quem aprecia mais ou menos a música dita clássica, deve conhecer Maria Callas. Curiosamente, esta magnifica cantora lírica, no início da sua brilhante carreira, tinha um aspecto desarranjado e, claro, era gorda. Não era uma pessoa digna de aparecer em palco devido ao seu mau aspecto. A sua ambição fez com que se esforçasse em ser, mais do que uma cantora sublime, uma verdadeira diva nos principais palcos do mundo. E conseguiu graças a dietas, exercício físico, paciência e muito trabalho. Maria Callas estará sempre viva na nossa memória, não só pela sua voz mas sobretudo pelo seu charme.
Hoje, como diz muito bem o Francisco, tudo é tão veloz, omitindo o esforço, que tão rapidamente aparece como desaparece. Susan Boyle não é uma Maria Callas, nem foi esse o objectivo. Ninguém compraria um CD de Susan Boyle... mas vê, vezes sem conta, o seu aspecto feíssimo num video no youtube e pensa: "como é que esta mulher tão feia canta tão bem". Provavelmente não é assim tão excepcional como cantora... provavelmente se fosse bonita nem era conhecida!

mr x said...

Não acho, o caso de Susan Boyle é o verdadeiro caso de "raw talent" e é precisamente isso que a torna especial e genuína. As pessoas já estão fartas de fotocópias e de artistas que precisam do corpo e de frases estandardizadas para singrar neste meio. A escolha da música também não foi inocente admito...

No entanto quando diz "provavelmente se fosse bonita nem era conhecida!", olhe que secalhar até podia ser

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