Tuesday, May 11, 2010




WORK & RUN


O último número da revista Graphic é dedicada aos “young studios”.

No total, são 23 estúdios de design gráfico, criados há três anos ou menos, cujo trabalho, motivações e metodologias são apresentados.

Sendo estúdios recentes, constituídos por designers na casa dos vintes, alguns deles recém-licenciados, o seu trabalho está longe de ser desconhecido, em parte pela forma como sabem explorar as plataformas web e as redes sociais para disseminarem o trabalho e em parte graças à acção de sítios de divulgação como o manystuff de Charlotte Cheetham, notável curadora independente, ela própria na casa dos vintes.

Mais do que as características formais dos objectos produzidos, o que se destaca no trabalho da maioria destes “young designers” é a forma de os produzirem: é na exploração do processo que reside a sua energia. E o processo tem como objecto o próprio design e as suas múltiplas possibilidades de mediação e catalisação social. Auto-edição, práticas colaborativas, projectos curatoriais fazem parte das práticas deste "self-referential design" onde a circulação de pessoas e ideias, a recepcção e a remistura são parte importante do processo criativo. A produção de conteúdos, e sua consequente calibração para comunicação pública, são cada vez mais obra de todos e de qualquer um, por tentativa e erro, por wiki-aproximação.

O estúdio catalão Bendita Gloria criado pelos designers Alba Rossel e Santi Fuster, um dos estúdios seleccionados pela Graphic, comentava na sua página no Facebook que adoram dar workshops. Os seus projectos, mesmo quando não resultam formalmente de um workshop, surgem na sequência de um processo experimental e participativo que habitualmente caracteriza um workshop.

Cada projecto é, assim, pensado como um laboratório, literalmente: um lugar onde se fazem experiências, onde se colocam hipóteses. É o próprio design como laboratório social que, no fundo, é experimentado.

Numa entrevista recente à 40fakes, Santi Fuster diz uma coisa curiosa: “En la universidad oímos alguna vez “… en un contexto profesional es inviable”. Este tipo de comentario nos hizo pensar que tal vez no nos interesaba el contexto profesional del que nos hablaban.”. Criar o próprio contexto profissional parece, igualmente, um objectivo (ou consequência) da maioria destes novos estúdios.

Se a lista dos 23 estúdios escolhidos pode ser discutível, em alguns casos sentimos estar perante criadores que vão ser (já vão sendo) as referências para a geração seguinte substituindo ou associando-se às principais referências desta geração (como Sagmeister e Eatock) é o caso do We Have Photoshop , do Applied Aesthetics de Julian Bittiner ou dos londrinos OK-RM.

Infelizmente, não há nenhum designer português nesta mostra de 23. Mas podia haver. Quando visitamos a recente plataforma Colher, rapidamente nos apercebemos das influências exteriores (every morning they check manystuff!) que, por vezes, resulta num portfolio que parece ter sido feito por 5 pessoas diferentes tal a diversidade de recursos e linguagens exploradas; mas noutros casos, em muitos casos, há um universo coerente, desafiante, estimulante, que associa domínio técnico e espírito crítico; em muitos casos, há trabalho despretensioso, desenvolvido por motivações pessoais, individualmente ou em conjunto com amigos; em qualquer caso, há uma vontade de partilha, uma ausência de receio em ver o trabalho exposto, comentado, apropriado. E nisto, há uma série de interessantes diferenças em relação à geração anterior.

Pessoalmente, gosto muito das ilustrações tipográficas de André Beato, do trabalho de te-te-texas, das experiências virais dos já conhecidos Cabracega, das ilustrações (onde julgo reconhecer a influência da extraordinária Cristiana Couceiro) de Hélder Costa, da energia do Bráulio Amado, do minimalismo de Fael, mas também dos cartazes de Ana Schefer e de quase tudo o que a Márcia Novais e o Sérgio Alves vão fazendo.

Uma possível conclusão: há muita qualidade nesta geração de designers desempregados.

Uma possível esperança: talvez a sua qualidade e vontade lhes permita ajudarem a criar novas formas de empregabilidade em vez de se conformarem com o actual e constrangedor mercado de design.

1 comment:

João Martino said...

A propósito dos jovens designers e quando os jovens designers tentam fazer alguma coisa pelos jovens designers – uma iniciativa do Eurico:

www.colher.net

PS: Também vale a pena visitar a página dele:

www.eurico.ws

PERFIL

REACTOR é um blogue sobre cultura do design de José Bártolo (CV). Facebook. e-mail: reactor.blog@gmail.com