DESIGN NO SEU CAMPO EXPANDIDO
Como resultado de um esforço intencional mas também do aproveitamento de algumas circunstâncias, nos últimos meses deste ano tenho posicionado crescentemente o meu trabalho num certo campo expandido do design que, no meu caso, visa conciliar as minhas três principais actividades: professor, crítico e curador. Esta ideia de campo expandido, evocadora da tão recorrente releitura contemporânea do célebre ensaio de Rosalind Krauss, é, para mim, operativa quer em relação ao ensino, quer à escrita, quer evidentemente à curadoria (aquela que mais foge, hoje, a definições circunscritas e se assume como um “trabalho de expansão”).
Desta - escolha-se a resposta que parecer mais adequada: a) definição indefinida do design contemporâneo; b) indefinição definida do design contemporâneo - tratou o recente simpósio I don’t know where I’m going but I want to be there. O título evocava, vagamente, o belo filme de Michael Powell I know where I’m Going, no qual a protagonista enfrentava obstinadamente a força da natureza. No caso do simpósio de Amesterdão o título era, assumidamente, mais irónico e a tempestade de neve que se abateu sobre o norte da Europa por aqueles dias – criando problemas na programação e quase anulando o evento – só reforçou a ironia: uma série de designers “que não sabem para onde vão mas querem estar lá” acabaram por ficar em casa, retidos num aeroporto, ou paralisados num trânsito para parte incerta. Assim vai o design? De certo modo, mas se a apologia do “expanding field” vem legitimando um certo espírito everyting goes que legitima trabalho pouco consequente e pouco intencional (é esse precisamente o perigo do ensimesmamento a que o actual sound bite do processual convida) ela também me parece, ser hoje, programática. Desse programa é ainda difícil fazer uma síntese eficaz, mas eu diria, em breves palavras, que ele se caracteriza por um regresso aos anos 1970 dentro do contexto político (ou subpolítico, para usar a expressão de Ulrich Beck) contemporâneo. Regressamos, assim, ao processual, ao relacional, ao participativo, ao DIY mas dentro de um contexto no qual o designer não é mais um agente de contra-cultura mas um produtor cultural que opera “a partir do centro”.
Disse, no início, que neste últimos tempos tenho posicionado o meu trabalho nesse campo expandido do design. Também por isso me tem interessado trabalhar com contextos que proporcionem experiências colectivas. É o caso dos workshops – e nos últimos meses realizei quatro, dois no Brasil, um em Espanha e outro na Madeira – mas é também o caso também das “situações” para as quais procuro que o meu trabalho de professor ou de curador sejam geradores. Por outro lado, tenho escrito cada vez mais em papel. Tenho escrito cada vez mais sobre auto-publicação e tenho estado envolvido em vários projectos de auto-publicação. Não há nisto qualquer contradição, como defendi no recente simpósio de Serralves o editor, hoje, é cada vez mais um curador.
Este trabalho, que me tem impedido de escrever com mais regularidade para o blogue, tem proporcionado, por sua vez, inúmeras reflexões, algumas delas já alinhavas em textos que aqui futuramente se irão publicar. Entretanto, vou trabalhando nos projectos mais próximos (uma exposição sobre publicação independente em Portugal e uma exposição sobre o trabalho de Maria Gambina) e procurando reservar tempo para leituras (e um conjunto de autores que me motivam cada vez mais): os textos dos Raqs Media Collective; de Jan Verwoert; os inúmeros textos, que aguardam ser lidos, do e-flux; a que se juntam agora os novos textos de Luís Inácio regressado no seu Desígnio 2.0. Assim vamos. Até para o ano!
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