Thursday, September 13, 2007

REACTOR ENTREVISTA RUI TENREIRO

CCC ECHIBITION | CIDADE DO CABO


Mais conhecido na Escandinávia do que em Portugal, Rui Tenreiro é um bom exemplo de um “designer internacional” que, como criador e produtor, tem desenvolvido um sólido percurso onde a “alma” Latina se encontra, frequentemente, com a “razão” Nórdica. O REACTOR conversou com ele:

REACTOR: Sobretudo desde 2005, o Rui Tenreiro tem-se dividido em vários projectos, destacando-se dois - Soyfriends e The Culture Front - que lhe pedia que apresentasse.

RUI TENREIRO: The Culture Front é o meu site pessoal. Aqui apresento trabalhos feitos por mim para clientes. Aqui os projectos podem ser comerciais ou não comerciais. Ao criar o site pensei em dividi-lo em partes para que melhor se pudesse separar mentalmente o tipo de trabalhos. Mas à medida que o desenvolvi achei que não faria sentido, pois os trabalhos são todos parte do mesmo mundo, simplesmente apresentado de maneiras
diferentes. O site The Culture Front vai ser destinado a apresentar esse leque de ilustrações que constrói esse mundo. Há medida que vou encontrando as técnicas de trabalho que mais me agradam, é natural que este 'mundo' de imagens se desenvolva naturalmente, tornando-se assim as imagens mais próximas visualmente umas das outras.

Soyfriends é uma mini-editora que foi criada porque me apercebi que a nível da Noruega e Suécia havia uma certa tendência em ilustração e desenho que era bastante diferente do que se passava noutros lados, tal como em Londres, Estados Unidos, África do Sul, etc. E portanto a Soyfriends foi criada para servir de 'showcase' para esses artistas. A Soyfriends foi também uma oportunidade de trabalhar com artistas cujo trabalho admiro.
Por vezes achei que havia falta de uma editora deste género a nível Escandinavo. Portanto na Soyfriends o meu trabalho é como editor e produtor, maioritariamente - e por vezes como artista. Como só faço neste momento 50 (e, em casos raros, 100) cópias de cada fanzine, os distribuidores têm de ser seleccionados com cuidado, de maneira a não desvalorizar os livros e de maneira a manter um balanço positivo mínimo. No entanto, a Soyfriends ainda é, mais que nada, um 'hobby'.

Ilustrações | Páginas Interiores de "Le Merle"


R: Entre os seus trabalhos, encontramos colaborações com a VRENG (a versão norueguesa da Adbusters) e trabalho de Branding para multinacionais. Como concilia uma abordagem mais pessoal (próximo de um no-brief design) para clientes "culturais" com trabalhos assumidamente "comerciais"?

R.T.: Isto resultou de uma mudança de atitude a certa altura. Durante muito tempo trabalhei a partir de um estúdio de ilustração em Oslo que fazia maior parte das decisões em conjunto. Não havia regras para o tipo de trabalhos que cada pessoa deveria colocar no site do grupo, mas havia bastante pressão a pôr trabalhos de prestígio (mesmo que não fossem os preferidos de cada pessoa do grupo) ou de 'briefs' que viessem de editoras mais tradicionais, que fazem livros escolares ou livros para crianças. Isto confundia-me porque a minha intenção sempre foi criar livros para adultos. Portanto, quando criei o meu site individual - e isto é um conselho que daria a todos os ilustradores que se consideram mais como 'artistas' do que 'designers de imagens' - decidi não pôr nada que não gostasse. Mesmo se o trabalho fosse feito para a Playstation, Mtv ou para a Pepsi, decidi não pôr nada que não gostasse. Ponho somente trabalhos que gosto. Assim isto mostra somente, através do único meio de comunicação que controlo, o meu site pessoal, o produto de trabalhos meus, ao invés de um produto da minha decisão e da do cliente, que resulta em algo diluído. Esta base dá ao cliente, portanto, uma escolha limitada. Mesmo assim até agora não houve risco de me começar a repetir pois os cliente têm trabalhos e pedidos bastante diferentes. E posso sempre decidir retirar do site um trabalho que acho estar a dar a impressão de ser repetitivo. O resultado é de a maior parte dos trabalho não são incluídos no site. Isto é a maneira que encontrei e que funciona para mim.


R: O Rui Tenreiro é um ilustrador e designer "norwegian-based", como olha, a partir daí, para o design português e para a nossa "cultura do design"?

R. T.: Infelizmente não estou a par do design português neste momento. Na verdade não tenho procurado rodear-me de imagens e exemplos de design e ilustração ultimamente. Há sempre uma enorme quantidade de imagens a ser criadas todos os dias e às vezes é importante parar e olhar para dentro, e tentar ignorar até certo ponto o que se passa à nossa volta. Isto tem durado mais de uma ano e, como muito pode acontecer no espaço de um ano em termos de design e ilustração, prefiro não dar a minha opinião sobre a pergunta desta vez.

"Canvas Bag" | Soyfriends


R: Finalmente, pode-nos falar dos seus projectos paralelos e futuros projectos?

R.T.: Há vários projectos a desenvolverem-se neste momento. Acabei de organizar uma exposição de 'artists books' e fanzines na galeria Bell-Roberts, na Cidade do Cabo. E estou a acabar a minha próxima BD, que vai ter mais de 100 páginas. Estou também a desenvolver uma outra BD em conjunto com um amigo, Tiago Correia Paulo, em que ele vai produzir uma banda sonora para a história. Comecei esta semana a imprimir os meus trabalhos em serigrafia, que é um processo bastante fácil e que dá óptimos resultados. Estou a contribuir, a convite do Frederico Duarte, para o livro 'Fabrico Próprio', um livro sobre pastelaria portuguesa vendida em todo o mundo. Escolhi ilustrar sobre o Palmier. Estou também há procura de uma editora que esteja disposta a fazer uma compilação de algumas das fanzines da Soyfriends num livro de ilustração/arte. Acho que por enquanto é tudo. Terei também t-shirts à venda na loja Graniph, em Tóquio, que também podem ser obtidas on-line.

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REACTOR é um blogue sobre cultura do design de José Bártolo (CV). Facebook. e-mail: reactor.blog@gmail.com