Friday, March 23, 2007

DESIGN E PERFORMANCE

José Manuel Bártolo


“No sentido mais lato, Performance aponta para o processo de produção cultural - em todas as suas contingências e ‘convencionalidades’ - e torna-nos conscientes do facto de que o significado ocorre no presente. Em termos restritos, Performance, enquanto forma de arte com princípio e fim, implica uma especificidade no que toca à temporalidade, espacialidade e consubstanciação da produção e da recepção da arte.” Dorothea Von Hantelman


No seu sentido mais lato, entendido como acção social, todo o Design é performativo, ou, por outras palavras, Design e Performance partilham de um mesmo paradigma, que indica como as relações sociais são continuamente produzidas e reproduzidas através de acções desempenhadas por cada indivíduo. O Design procura projecta-las, isto é, antecipa-las resolutivamente, tomando como matéria um conjunto de acções., repetidas, que formam a nossa coreografia social - vestimo-nos de manha, comemos, falamos, apaixonamo-nos, fazemos compras - coreografia constituída por acções que na sua quotidianidade repetitiva ou na sua especialidade ou extraordinariedade, são baseadas nas nossas intenções e decisões e, ao mesmo tempo, são apenas compreensíveis, legíveis, quando enquadradas, associadas a acções anteriores que elas repetem, completam ou com as quais se relacionam. Neste sentido, Performance é sempre "o fazer e a coisa feita", como afirmou Elin Diamond, a tensão entre elas, por mais ou menos perceptível que essa tensão se torne. Tal como a performance, também o design remete para as particularidades de cada pessoa como produtor e produzido, cada pessoa é um agente performante que simultaneamente agencia e é agenciado pelas produções de Design.

No seu sentido, mais restrito, encontramos, igualmente, a partilha de um mesmo paradigma pelo Design e pela Performance, há uma mesma especificidade no que toca à temporalidade, à espacialidade, à consubstanciação da produção, e da recepção do que é feito por nós. A questão da actualidade, da adequação espacial, da importância dos meios de produção e das lógicas de produção, e o a importância do público, são elementos estruturantes quer do acto projectivo, quer do acto performativo. Precisamente porque são actos, realizações em acto, elas implicam uma intencionalidade do tempo, do espaço, do meio e do referente, consubstancializam-se na articulação entre eles, no percurso transversal que vai tecendo sentido, como na vida, como uma vida.

O designer, como o performer são agentes da vida. Agenciar a vida, significa representá-la de um modo que a torna, a um tempo, objecto e sujeito: enquanto objecto, ela pode ser questionada, pensada, trabalhada; enquanto sujeito é ela nos questiona, nos pensa, nos trabalha. A apresentação ao público é sempre, uma forma de assumir o jogo, de assumir a inquietante ambiguidade de alguém que faz e é feito, que age e é accionado, é, num certo sentido, uma relação de poder - que se partilha com o público, com cada pessoa do público - poder pensar, poder sentir, poder viver, de novo e de novo e de novo.

No comments:

PERFIL

REACTOR é um blogue sobre cultura do design de José Bártolo (CV). Facebook. e-mail: reactor.blog@gmail.com