Tuesday, May 29, 2007

REACTOR ENTREVISTA EMANUEL BARBOSA

Emanuel Barbosa é designer de comunicação e professor de design de comunicação na Esad, a par da sua actividade projectual na empresa Vestigio e docente tem dinamizado algumas iniciativas das quais encontramos um bom exemplo da recente semana Art Chantrypor si organizada.



REACTOR: No primeiro post do Reactor afirma-se que “não há design sem diálogo”, enquanto profissional do design que diálogos lhe interessam estabelecer? Com quem? Sobre o quê?

EMANUEL BARBOSA: Desde muito cedo no meu percurso de (permanente) aprendizagem como designer me apercebi que esta disciplina permitia uma grande variedade de experiências e cruzamento de informações multidisciplinares - essa foi a grande motivação para escolher uma área que acabou por dominar completamente a minha vida. Assim, digamos que entendo o design como uma forma versátil de resolução de problemas - e não é possível resolver problemas sem diálogo (verbal ou não verbal). Interessam-me sobretudo diálogos entre as diferentes disciplinas de projecto (que na minha opinião são artificialmente separadas): design industrial, gráfico, interiores, arquitectura, hipermedia e também as ligações com a arte, cinema, música, etc. Penso que as complexas ligações existentes na sociedade em que nos movemos não podem ser de forma alguma cortadas, pelo que o diálogo acaba por ser constante e inevitável: política, religião, ética, arte, ciência, comércio, indústria, design, etc...

R: A palavra design identifica cada vez menos um campo disciplinar definido, passando a remeter para uma campo de criação híbrido e difuso. Como vê esta indefinição em torno da disciplina?

E.B.: Como já referi antes, não podemos isolar as áreas de projecto como componentes químicos em laboratório. O mundo é híbrido e difuso - vivemos numa época em que se torna difícil ter uma visão clara de quem somos e qual é o nosso papel na sociedade, sabemos que somos manipulados constantemente para acreditar, para consumir, para alimentar o sistema que está rapidamente a esgotar o planeta. Onde encaixar a disciplina de design? dependendo da formação ética de cada profissional e de cada consumidor, os níveis de estanquicidade do design vão variando. Basta olhar em redor: apropriações de sons e músicas de diferentes autores dão lugar a uma nova música; filmes e séries de TV remexem a propriedade intelectual alheia e geram produtos "originais"; designers de equipamento "reinterpretam" modelos industriais do passado e assumem-se como autores dos resultantes "clones"; designers gráficos utilizam software que não compraram para gerar trabalhos que recorrem a tipografias e imagens adquiridas ilicitamente, de forma a ter um resultado "original" próximo ao de outro designer gráfico... na arquitectura, na arte, na moda, este fenómeno não é ocasional. Bastam alguns minutos na internet para nos apropriarmos de textos, músicas, filmes, tipografias, conteúdos de todo o género. No meu ponto de vista, a melhor forma de encarar o design e o seu papel na sociedade é através de uma formação cultural e moral muito consistente.

R: Se lhe pedisse uma definição de design…

E.B.: Eu gosto de pensar que o design é uma forma de resolução de problemas e não uma forma de criação de novos problemas. Costumo dizer aos meus alunos que enquanto designers devem tentar resolver os problemas dos clientes e não os seus próprios problemas. Podemos identificar os problemas dos clientes e tentar contribuir de uma forma honesta para a resolução dos mesmos ou então (infelizmente esta é uma abordagem comum) utilizar os problemas dos clientes para resolver os nossos problemas de afirmação pessoal e gerar um produto que satisfaz os nossos objectivos de auto-promoção mas não resolve os problemas do nosso cliente e chega mesmo a criar-lhe novos problemas.

R: O design sempre se caracterizou pela inexistência de um consenso programático, hoje talvez mais evidente devido à falência dos verdadeiros projectos colectivos, a teoria do design sempre oscilou entre uma interpretação do designer enquanto um “agente social” e uma interpretação do designer enquanto um “agente do mercado”, parece-lhe haver sentido nesta distinção?

E.B.: Uma vez mais, é uma questão de ética e de formação. O mercado existe porque a sociedade o criou. Antes de tudo, temos de pensar no designer como cidadão, a sua formação base (moral, social, cultural) vai exercer uma grande influência no seu comportamento. Se um cidadão é suficientemente informado para perceber a diferença entre comprar um produto numa loja de comércio justo (o Comércio Justo e Solidário contribui para o desenvolvimento sustentável oferecendo melhores condições de comércio tendo em conta os direitos dos produtores e trabalhadores marginalizados, especialmente no Sul do mundo) ou numa grande superfície (comércio injusto), então, esse cidadão enquanto designer também consegue facilmente optar por projectos socialmente mais aceitáveis. Não é muito provável que um designer nascido no seio de uma sociedade de consumo tão exagerada como a nossa compreenda a sua responsabilidade ao aceitar, por exemplo, promover uma empresa que utiliza mão-de-obra infantil, esgota as reservas naturais ou destrói para sempre os terrenos e todo o equilíbrio ambiental na zona onde produz os seus vegetais com fertilizantes químicos. Provavelmente, por desconhecimento total e por estar desde sempre integrado nessa sociedade até vai sentir-se orgulhoso por ter como cliente uma multinacional - o que lhe proporciona a possibilidade de consumir mais produtos desprovidos de consciência ética. Não existe um mercado mas vários mercados. Não podemos esperar ingenuamente que toda a gente aja ou pense da mesma forma sem manipulação.

R: Perante o relativismo dos valores (e, em particular, dos valores do design após a crise do projecto moderno) não será importante mostrarmos que existe uma diferença profunda entre a “ética individual” e a “ética disciplinar”? Quero dizer, os valores que orientam o design não podem ser relativos aos valores que guiam o comportamento dos seus profissionais

E.B.: Penso que essa diferença não pode existir, é importante que todos os profissionais tenham uma profunda noção daquilo que a sua actividade provoca na sociedade bem como no meio ambiente e que ajam de acordo com os seus princípios. Um exemplo exagerado: não estou a ver um vegetariano a trabalhar uma empresa de processamento de carne, por muito sentido que possa fazer a ética disciplinar nesse caso. Não me estou a ver a aceitar paginar a versão portuguesa do "Mein Kampf" ou a fazer algum trabalho gráfico para um partido político que defenda ideais diferentes dos meus. O designer é acima de tudo um cidadão, assim o seu comportamento enquanto profissional deve reflectir a sua postura enquanto cidadão. O problema do design como profissão é que não é possível de "desligar" no final do dia - acompanha-nos constantemente.

R: Ainda há espaço para utopias no design? O Enzo Mari dizia que o design é um “acto de guerra” e o Brody, há umas semanas atrás, dizia que usamos poucas vezes a palavra revolução

E.B.: Sinto uma grande empatia por Enzo Mari - foi 1 dos nomes do design que mais prazer me deu ver ao vivo na ESAD (fiquei divertidíssimo ao saber que nasci no mesmo dia que ele). Eu acho que vou reforçar a afirmação de Enzo Mari e dizer que a vida é um acto de guerra e as revoluções acontecem todos os dias em casa, no atelier, na nossa cabeça. Quando se acredita verdadeiramente em algo nada nos impede de o concretizar... senão nada nos resta senão a distopia.

R: Qual é a sua “utopia pessoal”?

E.B.: Sempre tive problemas com isso, continuo à procura de algo que não sei se existe. Neste momento tento não pensar muito nisso e limito-me a tirar alguma satisfação das aulas que lecciono e dos projectos que desenvolvo.

R: Parece-lhe que a blogosfera tem contribuído para o desenvolvimento de um debate sobre em torno do design?

E.B.: A democratização da internet tornou possível ao comum dos mortais publicar e divulgar as suas opiniões sobre qualquer assunto. Já assisti a algumas polémicas sobre design que surgiram na blogosfera mas confesso que não as acompanhei até ao final.

R: Quais são os seus blogues de referência?

E.B.: Não é que seja a minha referência, mas costumo consultar o www.underconsideration.com/speakup/

3 comments:

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