O DESIGN GENERALIZADO
A exposição que o Centro Georges Pompidou propõe neste momento é verdadeiramente entusiasmante: chama-se D DAY, e tem como título verdadeiro LE DESIGN AUJOURD’HUI. A variedade de aspectos é imensa e renova por completo a nossa concepção do design. Ela considera os objectos e considera ainda os grafismos e os dispositivos comunicacionais, mas está longe de se resumir a isso.
A ideia central é esta: o design contemporâneo tem como material procedimentos, comportamentos e mentalidades. São práticas deste tipo que redesenham o mundo em que vivemos. A comissária do empreendimento Valerie Guillaume, propõe-se ter em conta os aspectos antropológicos e estéticos desta actividade. Se temos objectos técnicos ou mobiliários, temos também produtos e serviços, tipografia, dimensões olfactivas e alimentares. Daí que os domínios envolvidos sejam tão diversos como “a ética, a democracia, o consumo, o desenvolvimento local e global, as biotecnologia, a desmaterialização do objecto e o bem-estar pessoal.”
Mas há duas disciplinas que são essenciais. Uma delas é a antropologia. Já darei um exemplo. A outra são as neurociências e a psicologia cognitiva: os objectos são considerados não apenas visualmente, mas na sua dimensão sonora, táctil, olfactiva.
Dou um exemplo do primeiro aspecto. Uma das inúmeras salas é feita em colaboração com um antropólogo italiano, Franco La Cecla, e tem por objecto a análise das transformações nos comportamentos e nas relações sociais no Senegal. É claro que poderíamos fazer o mesmo em Portugal ou em França. Mas não existiria a desproporção tecnológica que existe num pais como o Senegal. Há novos gestos, novas colocações da mão, novas formas de ouvir, novas modalidades de comunicação.
Outro exemplo: o design sonoro. Não é uma plena novidade, mas aqui é de tal modo estudado e esmiuçado que descobrimos inúmeras coisas em que nunca tínhamos pensado. Os sons podem ser trabalhados e devem ser doseados: há uma polaridade entre o espaço harmonioso e o espaço desagradável.
Em muitos casos, temos a combinação de um objecto visual com um objecto sonoro de modo a criar um terceiro objecto sensorial. Aos efeitos de articulação discordante chamamos “efeito McGurk”. Hoje os objectos que apenas existem pelo som pertencem quase sempre à pura nostalgia: o chiar das rodas nos carris da praia de Sintra para a Praia Grande. Mas podemos utilizar sons que têm valor de marcas de luxo. Por exemplo: o ruído sport em carros que o não são.
Temos também as sinalética sonoras quase sempre ligadas a sinais de alarme: cinto do condutor que não está preso, falha técnica, etc. Ou na medicina: electrocardiogramas. Um som é sempre uma assinatura e reflecte a natureza do objecto. Tudo isto faz a complexidade de uma exposição.
EDUARDO PRADO COELHO
O Fio do Horizonte, Público, 27 de Outubro de 2005.
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