Tuesday, October 21, 2008

JONATHAN (OU, A PROCURA D'A IMAGEM)




A fotografia é uma das imagens mais impressionantes do 11 de Setembro de 2001. Faz parte de uma série de 11 fotografias tiradas por Richard Drew, repórter fotográfico da Associated Press, celebrizado pela cobertura chocante que fez do assassinato de Bob Kennedy, e representa um dos muitos "jumpers" do World Trade Center que escolheram saltar para a morte, num mergulho terrível e, ao mesmo tempo, algo "libertador", em vez de sufocarem no mar de chamas e fumo que invadiu os andares superiores das Torres Gémeas.

Embora se certezas absolutas, todos os indícios apontam para que o "Falling Man" (como ficou conhecido) seja Jonathan Briley, um trabalhador do Windows of the World, o restaurante do 106 andar da Torre Norte, de onde Jonathan se decidiu atirar para o seu voo fatídico, exatamente quinze segundos depois das 9 e 41.

Esta fotografia não é como as outras. Surge impregnada de uma incomodativa correcção estética, com o rigoroso alinhamento vertical da composição, a colocação "estudada" do corpo no enquadramento, a justeza da escala, a posição desconcertante e exacta do indivíduo. Como o próprio fotógrafo afirmou: "Quando se trabalha em fotografia digital, habituamo-nos a procurar A IMAGEM. Esta fotografia parecia saltar no ecrã, por causa da sua verticalidade e simetria. Tinha o "tal ar".

Digamos que é a procura deste "ar" - uma outra forma de falarmos das propriedades icónicas da realidade - que vem pautando, cada vez mais, a atitude do fotógrafo face ao acontecimento. Como qualquer editor sabe, é a retórica cristalina, a transparência exemplar e rara destas imagens que as põe a circular nos media, com tamanha velocidade e capacidade persuasiva. São estas as imagens que vendem, porque pensam o real por elas próprias, porque parecem traduzir a própria vontade do real em se transformar em imagem, eternizando-se.

Para trás ficarão todas as outras: menos preocupadas com este impacto icónico, avassalador, com essa vontade de congelar o tempo e a história, e mais atentas à ambiguidade a aos matizes humanos de uma história, de um acidente, de uma pequena ou grande tragédia. É também essa a fronteira que separa a propaganda do documentário, a vida das imagens das imagens da vida.
Apesar de não parecer, Jonathan morreu mesmo no chão do WTC, quinze segundos depois das 9 e 41, do dia 11 de Setembro de 2001.

(Adaptado de "Jonathan" de João Mário Grilo)

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