Wednesday, September 23, 2009
Colóquio Internacional
(re)Construir Cidades: Cartografias a partir de Marques da Silva
Debate: Redefinições do espaço público e privado
Auditório Fernando Távora, FAUP, Porto
24 de Setembro, 17h30
“O mundo privado e o mundo público estão inseparavelmente ligados. As tiranias e servidões de um são as tiranias e servidões de outro.”
Virgínia Woolf, Three Guineas
Traçar as fronteiras entre o espaço público e o privado foi uma preocupação constante desde a Antiguidade Clássica. Ambos os conceitos funcionaram como categorias determinantes para organização e acção política e social, para a constituição da jurisprudência e da prática jurídica, para a afirmação de uma semiótica moral e religiosa, para a definição de modelos de intervenção e ordenação projectual do espaço, quer físico quer mental, ligados à prática da arquitectura.
Com a sociedade moderna assistimos à polarização do público e do privado através de uma semantização e funcionalização dos espaços, o privado pensado como lugar de afecto, intimidade e selectividade face ao público entendido como espaço de relações impessoais e instrumentais impostas pelo mercado e pelo estado.
Uma das características marcantes da contemporaneidade diz respeito a um profundo processo de transformação do espaço social entendido a partir das categorias, até então diferenciáveis e até polarizáveis, de público e privado. Esta transformação pode, por aproximação, ser sintetizada através da identificação de 3 processos que se desenvolvem simultaneamente:
a) Um processo de crise da constituição e sentido modernos do espaço privado e do espaço público: novas formas de habitar; neo-nomadismo; fenómeno homeless; disseminação dos não-lugares.
b) Um processo de diluição da fronteira entre privado e público: privatização do público; politização do privado; explosão dos espaços colectivos.
c) Um processo de redefinição da geofísica e da geopolítica do espaço contemporâneo: imposição do espaço mediático; desenvolvimento do espaço virtual; novas formas de contaminação público/privado; novos processos de relação e experiência da cidade; afirmação de novas formas de cidadania e política directa.
Perante as particularidades do mundo em que vivemos – marcado por uma contradição profunda entre a convocatória universal à participação no espaço público e a fragmentação dos discursos, interesses e motivações; a coexistência, em todos os níveis da vida social, de processos de vínculo e interdependência social que se desenvolvem em paralelo com a clivagem de diferenças de diversa ordem – à arquitecta, à arte e ao design parecem caber uma nova responsabilidade de intervenção e politização do espaço social.
Mas perante esta evidência talvez seja pertinente recordar aquela imagem através da qual Botho Strauss nos explica que fazer política hoje é semelhante ao protagonismo de certo indivíduo que num restaurante faz um veemente “Psst!”; apercebendo-se que, de súbito, se fez um silêncio na sala e todos os olhares recaem sobre si, ele sacode a cabeça e timidamente explica que “não era nada”. Na visão, irónica e desencantada de Botho Strauss, a acção política actualmente é semelhante a esse instante, todavia inconsequente, em que uma amalgama de discursos plurais se converte num todo harmónico e atento. Mas por outro lado, a anedota de Strauss, evidencia também que a relevância do espaço público depende da capacidade de organização social de uma esfera de mediação de subjectividade, experiência, participação e transformação.
Face aos novos espaços públicos que desafios se colocam à arte, ao design e à arquitectura? Como pensar, a partir destas perspectivas disciplinares, a mediação, catalisação e produção social? Perante a crise da representação, que responsabilidade política devem assumir actualmente a arte, o design e a arquitectura?
Estas serão algumas das questões do debate sobre as transformações do público e do privado, moderado por José Bártolo (ESAD/FAUP) que contará com as presenças de Eduardo Côrte-Real (ESD/IADE), José Bragança de Miranda (FCSH/UNL), Fernando José Pereira (FBAUL) e Teresa Marat-Mendes (ISCTE).
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