Wednesday, October 21, 2009

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A partir do início da década de 1970, uma série de textos, escritos em português, vão afirmamdo uma certa maturidade no que à produção teórica sobre design diz respeito. Encontramos, num conjunto vasto de textos, duas preocupações recorrentes: a afirmação do "lugar do design", procurando afirmar a autonomia da disciplina relativamente a outras áreas de produção artística ou industrial; a sua definição crítica, procurando estabelecer um programa orientador da prática do design.

Um bom exemplo desta dupla preocupação encontramo-lo num texto intitulado "O Lugar do Design", publicado por Carlos Duarte no excelente catálogo (desenhado pelo Estúdio Quid de Carlos Gentilhomem) da EXPO AICA SNBA 1972. O texto de Carlos Duarte revela um claro pragmatismo associado a uma interessante visão ideológica que faz da sua reflexão, frequentemente, uma reflexão de alcance mais alargado em defesa da necessária transformação das estruturas sociais e culturais portuguesas. Duarte fala na necessidade de "tomar consciência e debater criticamente todo um processo que não é isento de dúvidas e contradições - para mais sujeito em toda a parte a opcções ideológicas de sentidos vários e discordantes."

É também importante lembrar que o corpus teórico sobre design produzido em Portugal durante esse período anterior à revolução sugiu sobretudo nas páginas dos jornais e revistas. Algo que hoje se afigura impossível, ler um artigo sobre design num jornal de referência foi possível, em inúmeras ocasiões, nos anos 1960 e 1970. Recordo, por exemplo, os textos de Maria Helena Matos, Clavet de Magalhães e Sena da Silva no Diário de Lisboa; de Lima de Freitas no Diário Popular; para além das revistas, como a Binário onde João Constantino publicou, com grande regularidade, textos de crítica de design.

Em 1972, Carlos Duarte escrevia que "longe vai o tempo da crença firme no design, como arma indiscutível e decisiva ao serviço do progresso e do bem-estar geral, capaz de controlar o meio ambiente, salvar as nossas cidades e revolucionar a nossa maneira de viver. Reconhece-se hoje que os obstáculos a vencer são mais poderosos do que se imaginava, que o design como qualquer outra actividade se insere numa trama complexa de acções de efeito recíproco (...)". Exigir-se-ia, dirão alguns, mais esperança, mais convicção, por parte de um teórico do design que quer valorizar a disciplina. Mas, é sabido, a valorização nem sempre passa pela legitimação. E a função do crítico não é legitimar o que existe, mas antes apontar para possibilidade de superação do já existente. Carlos Duarte sabia-o, e o prazer da leitura de "O Lugar do Design" como de vários outros textos escritos, é bom recordar, em tempos de ditadura, é a capacidade de afirmar, o que, em síntese, se diz assim: "O design joga um papel fundamental numa sociedade revolucionária".

Que a revolução exige, permanentemente, ser renovada parece-me indiscutível.

1 comment:

Rita Carvalho Marques said...

Olá,

Que magnifico Blog. Os meus PARABÉNS! Sou designer de joalharia e industrial e não conhecia este blog que tanto fala do design, suas ansiedades, problemas, sucessos, etc. Magnifico manifesto. Continuarei atenta.
Vejam o meu site em: www.ritacm.com

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REACTOR é um blogue sobre cultura do design de José Bártolo (CV). Facebook. e-mail: reactor.blog@gmail.com