Tuesday, October 20, 2009

O QUE É DESIGN?



Na sua definição mais concisa, o design é o processo de dar forma a uma ideia. O acto de pensar tornado visível. O que diferentes definições fazem é afinal apontar para diferentes formas de se pensar a relação entre o design e o seu contexto: mais cultural, mais comercial, mais ecológico, mais tecnológico etc.

Daqui decorre a dificuldade em responder de uma forma conclusiva à questão: o que é o design?

Mas a dificuldade da resposta não anula a importância da pergunta; pelo contrário, uma marca diferenciadora do design em relação a outras profissões tem a ver com o facto do acto de projectar implicar uma reflexão sobre o design, na medida em que projectar é fazer escolhas (de meios, de materiais, de técnicas, de intenções). Neste sentido, o design será uma disciplina marcadamente teórica o que a torna, consequentemente, muito adequada na prática.

Fazer design começa por ser uma forma de pensar: de pensar um problema. Mas o design não termina ai.
Fazer design é, igualmente, uma forma de pensar: de pensar uma solução. Mas também aí não cessa o processo de design.
Fazer design é uma forma de pensar na forma de materializar esse pensamento. E esta étapa, fundamental, não é ainda a última.
Porque fazer design é, igualmente, pensar como o pensamento que nós materializamos irá interagir com outros pensamentos e outras materializações.

Deste processo nasce um resultado. Um resultado que corresponderá, inevitavelmente, a um modelo de projectar.

Como este:



Os modelos mais não são do que exemplos já testados de como se pode projectar. Mas, claro, não deixam de ser, antes de mais, modelos de pensamento. Porque, vale a pena repeti-lo, o design é essencialmente isso, uma forma eficaz de pensar.

Recentemente, li pela primeira vez um livro que há muito aguardava para ser lido: Filosofia e Filosofia Espontânea dos Cientistas de Louis Althusser. No início da leitura fui conduzido a pensar que os designers se comportam de forma mais próxima do cientista do que do filósofo. E de forma semelhante ao cientista que se aproxima da filosofia apenas em momentos de crise, também o design só se dá ao trabalho de reflectir sobre o que faz em momentos de claro impasse individual ou coorporativo. Não serão os Manifestos de Design uma espécie de filosofia espontânea destinada a salvar a disciplina em momentos de crise?

Contudo, com o avançar da leitura, fui abandonando essa interpretação inicial. O design estará seguramente mais próximo da filosofia do que da ciência. Althusser estaria certo quando afirmava que a "a filosofia é acima de tudo prática" (pág. 28) ou quando escreve que "a filosofia não se ilustra, não se aplica. Exerce-se. Não pode aprender-se senão praticando-a, porque ela não existe senão na sua prática." (pág. 29) e, mais à frente, "não há discurso objectivo sobre a filosofia que não seja ao mesmo tempo filosófico, portanto discurso sobre posições na filosofia." (pág. 57). Algo próximo se verifica no campo do design. Porque o design é, essencialmente, pensamento; porque não é possível fazer uma cadeira sem antes pensar em como ela vai ser feita; porque o design é um processo abstracto que visa a concretude; porque o design é um processo concreto que visa a abstração (o standard) a diferença entre teoria e prática é, no design, apenas uma diferença de forma.

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REACTOR é um blogue sobre cultura do design de José Bártolo (CV). Facebook. e-mail: reactor.blog@gmail.com