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CÂNDIDO COSTA PINTO (1911-1977)
Entre o início dos anos 20 e o início dos anos 70, Cândido Costa Pinto desenvolveu uma obra imensa explorando, com notável virtuosismo, diferentes suportes, meios e linguagens da pintura à publicidade, da caricatura à arte mural.
Nestas linhas interessa-nos recordá-lo como um dos mais importantes designers gráficos portugueses entre as décadas de 30 e 50. Nascido na Figueira da Foz, publicou a sua primeira caricatura num jornal regional, em 1923, com doze anos de idade. A tuberculose que o atacou aos dezoito anos obrigou-o a viver, durante mais de dez anos, entre sanatórios, tendo sido salvo, nas suas palavras, pela “magia da arte”, curado ao que consta pelos benefícios de um colete de zinco e cobre, revestido de símbolos gráficos de todas as religiões do mundo, adquirido a um refugiado polaco.
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Entre 1941-1949 trabalhou para a Companhia Portuguesa de Higiene como designer gráfico, publicitário e director dos serviços de tipografia da companhia, destacando-se pela utilização frequente de suportes pobres (platex, contraplacado, cartão) na produção das suas obras.
Em 1949 começa a colaborar com os CTT (ligação que durará até 1972) renovando a linguagem gráfica da arte postal portuguesa e educando uma nova geração de artístas (Abel Manta, José Pedro Roque Martins Barata, Sebastião Rodrigues) que se lhe seguirão. De igual modo, a Costa Pinto se deve uma importante acção da evolução gráfica ao nível editorial (magníficas as capas dos livros das colecções Vampiro e Argonauta) e do cartaz, sendo a par de Victor Palla e Fred Kradolfer um dos maiores impulsionadores da renovação gráfica portuguesa dos anos 40 e 50.
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Investigador e teórico, alguns dos seus textos são exemplos excelentes de uma consistente reflexão crítica sobre a função da arte, do design e da comunicação (leia-se o actual “Sabe anunciar bem?” Diário Popular, 2 de Setembro de 1945 ou o fundamental “Surrealismo, arte e política” escrito no Brasil em 1969). Lúcido e empenhado politicamente, no catálogo da exposição de 1951 no SNI escrevia que “se o pintor tem fundamentalmente dever de pintar bem, acompanhar de perto os problemas gerais da sua geração é também da sua obrigação.”
Esquecido durante a década de 1980, a Fundação Calouste Gulbenkian dedicou-lhe uma importante exposição retrospectiva em 1995. Porém, nos últimos dez anos, Costa Pinto, “um homem complicado” (como a si próprio se retratou) e um artista gráfico notável voltou a cair num desconhecimento tão incompreensível quanto injusto.
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