Sunday, July 06, 2008




DISTÂNCIA E PROXIMIDADE



É sabido que não há em Portugal uma verdadeira política curatorial em design. As excepções merecem por isso ser destacadas e tornadas objecto de análise para a partir delas se tentar perceber as razões (e a falta delas) da regra.

É por, em regra, não existir uma programação que, de um modo consistente e regular, seja capaz de dar ao design uma visibilidade próxima daquela que as outras produções culturais possuem, é por habitarmos esse marasmo que de cada vez que o governo associa o design a uma pretensa política cultural ou de cada vez que um programador rompe com essa invisibilidade (pense-se em Miguel Wandschneider ou em Andrew Howard) isso se torna notícia.

Há, assim, duas notícias que merecem ser destacadas. A mais recente tem a ver com as declarações do novo director-geral das artes Jorge Barreto Xavier, nomeado para o cargo pelo Ministro da Cultura José António Pinto Ribeiro, criticando o modelo de atribuição de apoios às artes (uma herança de Isabel Pires de Lima) e a necessidade de “alterar as questões mais críticas para melhorar o acesso aos apoios, tornando-o mais equitativo aos artistas de todas as áreas”, Jorge Barreto Xavier recordou a propósito que “estava prevista uma lógica de convite que só era aplicada nas áreas do teatro, dança, música e transdisciplinares, e as artes visuais, o design e a arquitectura ficavam de fora” facto que Barreto Xavier reconhece não fazer qualquer sentido. Reconhecer o problema não significa resolver o problema mas a competência de Barreto Xavier e a sua atenção, já demonstrada no passado, às artes visuais e ao projecto permitem-nos confiar numa maior equidade, sendo sabido que o design, ao contrário de áreas como o teatro, não possui no nosso país um verdadeiro lobby.

Segunda notícia, a programação da Fundação Calouste Gulbenkian começa a revelar uma nova orientação dada pelo programador António Pinto Ribeiro. Eventos como O Estado do Mundo ou o recente Distância e Proximidade revelam uma mesma reflexão sobre os limites da interdisciplinaridade e da interculturalidade. São eventos-zapping sobre a cultura contemporânea, resultando do encontro de diferentes olhares sobre um objecto cuja definição parece resultar do estado de partilha que o caracteriza. Estes dois eventos tem um importante elemento comum: o design dos R2.

Aquilo que mais se destaca desta colaboração entre o atelier portuense e a Fundação Calouste Gulbenkian é a coerência entre a proposta curatorial de António Pinto Ribeiro e a comunicação visual dessa proposta construída pelos R2. A identidade de O O Estado do Mundo e de Distância e Proximidade é essa síntese entre uma linguagem institucional e uma linguagem gráfica contemporânea que toca, sem nela se perder, as malhas das tendências, é sobretudo a síntese entre estabilidade e mudança, entre o que é seguro (veja-se o interior da brochura de Distância e Proximidade ) e o que nos foge ao controlo (veja-se a capa), o que perpassa é, afinal, esta importante coerência entre programador e designer.

2 comments:

Anonymous said...

Aquilo que se destaca mais uma vez no design dos R2 é a sua irregularidade e um design que reflecte cada vez mais uma aproximação à linguagem mais próxima do conservadorismo e e neutralidade da arquitectura. Depois de uma identidade relativamente interessante para o Curtas de Vila do Conde, os R2 apresentam-nos mais uma proposta gráfica enfadonha.

Design institucional não significa propriamente enfadonho.

Anonymous said...

Aquilo que se destaca mais uma vez no design dos R2 é a sua irregularidade e um design que reflecte cada vez mais uma aproximação à linguagem mais próxima do conservadorismo e e neutralidade da arquitectura. Depois de uma identidade relativamente interessante para o Curtas de Vila do Conde, os R2 apresentam-nos mais uma proposta gráfica enfadonha.

Design institucional não significa propriamente design aborrecido.

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REACTOR é um blogue sobre cultura do design de José Bártolo (CV). Facebook. e-mail: reactor.blog@gmail.com