Thursday, July 10, 2008




É importante lembrar que a arquitectura e o design são as artes sociais por excelência.

É possível não frequentar o teatro e o ballet, nunca visitar museus nem galerias, ignorar a poesia e a literatura e nem sequer ouvir um concerto radiofónico. No entanto, os edifícios e os utensílios do dia-a-dia formam uma teia de impressões visuais a que não podemos escapar. Objectos vulgares e simples usados diariamente foram sempre, até há pouco tempo, menos exigentes em termos estéticos e menos complexos do que as produções artísticas e, como tal, mais directamente satisfatórios. Desde que o design e os seus produtos se tornaram uma parte ideologicamente sacrossanta do marketing, esta situação transformou-se profundamente. Ao contrario da pintura ou da escultura, o design tem tendência a incorporar significados sociais, ou serve para que determinados significados sociais sejam aceites. (...)

Há poucos anos, nas artes e no design, ainda podia dizer-se que “a tarefa da vanguarda era detectar novas direcções no futuro, bem como explorar aspectos novos do passado”. Mas agora tudo isso mudou. Inventámos o estilo camp nos anos 70 e fizemos do kitsch pela primeira vez uma tendência respeitável. Acrescentemos a onda de nostalgia e veremos que agora tudo, literalmente tudo, se tornou “coleccionável”.

O passado e o presente das construções e dos objectos desenhados para aí se inserirem uniram-se. A nostalgia fez reviver designs que tinham caído em desuso e rodeou-os de uma penumbra de significados, a maioria deles inventados por vendedores e bem distantes da ideia original.

VICTOR PAPANEK, A UTILIDADE É O INIMIGO?
IN Arquitectura e Design: Ecologia e Ética (1995).

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REACTOR é um blogue sobre cultura do design de José Bártolo (CV). Facebook. e-mail: reactor.blog@gmail.com