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JAPÃO, ANOS 50
A exposição intitula-se 1950s Japan: The Blossoming of the Graphic Designer e documenta um período decisivo da história do design gráfico japonês.
São trabalhos onde o diálogo entre dois mundos, o das reverberações pós-Hiroshima e o da pacificadora espiritualidade Zen, o mundo da tradição (da tradição caligráfica e da pintura) e o mundo moderno (do Construtivismo à Op Arte), resulta na criação de uma linguagem que expressa, a um tempo, identidade e universalidade.
Com o pós-guerra, a sociedade japonesa vai conhecendo um rápido e consolidado crescimento económico. Em diversas áreas, da alimentação aos transportes, a aposta no design vai sendo mais sistemática. As transformações económicas e culturais que lançam as bases da sociedade japonesa contemporânea, estabelecem relações de causa e efeito com a renovação do design, marcada por uma reinterpretação de referências tradicionais e pela exploração de novas linguagens gráficas, expressa na produção editorial, na publicidade, no packaging ou no novo design corporativo. O design torna-se, nesta altura, veículo comunicador de novos valores (pense-se no cartaz ecológico de 1955 “Forest Groove” criado por Ryuichi Yamashiro).
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1950s Japan: The Blossoming of the Graphic Designer, esteve até ontem no Printing Museum de Tóquio é uma daquelas exposições cuja itinerância (se possível até Portugal) é obrigatória. São mais de 500 peças de designers fundamentais como Yusaku Kamekura, Hiromu Hara, Takashi Kono, Ayao Yamana, Ryohei Yanagihara entre muitos outros.
Yusaku Kamekura (1915-1997) foi um dos defensores das teorias da Bauhaus no Japão e essa influência perpassa pelos seus trabalhos do final dos anos 30 e 40 para a Nippon Kobo; em 1955 participa na marcante exposição Graphic ’55 juntamente com Hiromu Hara, Paul Rand entre outros; em 1960 fundou com Ikko Tanaka o Nippon Design Centre; o reconhecimento internacional viria contudo com os seus trabalhos dos anos 60 e 70, nomeadamente os cartazes para os Jogos Olímpicos de Tóquio (1964) e para Expo 70 em Osaka, impressionando por uma linguagem formalmente muito depurada, explorando elementos geométricos e autonomizando lettering e imagem. Torna-se presidente Associação japonesa de designers gráficos em 1978 e até à sua morte permaneceu activo, nomeadamente na colaboração em livros e exposições sobre o seu trabalho.
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A obra gráfica de Hiromu Hara (1903-1986) é uma das mais singulares do século XX japonês, em grande medida devido ao modo como Hara assimilou e explorou diversas referências, da tradição caligráfica japonesa à nova tipografia, das influências de Moholy-Nagy, Herbert Bayer e El Lissitzky mas também dos grupo de pintores de Sankakai (nomeadamente Tomoyoshi Murayama de quem foi próximo). Notável designer de tipos e designer gráfico, Hiromu Hara foi um dos pioneiros do modernismo japonês nomeadamente após a criação do estúdio Nihon Kobo em 1933 com o qual desenvolveu o trabalho para as exposições universais de Paris (1937) e Nova York (1939).
Takashi Kono (1906-1999) é conhecido, ainda hoje, no Japão por o génio. Os seus primeiros trabalhos, para a Shchiku Kinema Kono, são do final da década de 1920. Durante as décadas de 1920 e 1930, fez cartazes para cinema, teatro e dança impressionando por uma linguagem muito icónica e por uma inovadora utilização da grelha e um sentido comunicacional muito apurado. Durante a Guerra foi enviado para Java integrando o departamento de propaganda. Com o pós-guerra participou na criação do JAAC (Japanese Advertising Artists Club), integrou a exposição Graphic ’55 e, em 1959, criou o atelier de design Deska, um dos mais importantes estúdios de design da segunda metade do século XX.
Referência ainda para os trabalhos de Ayao Yamana (1897-1980) indissociável da sua ligação, como Director de Arte, da Shiseido com quem trabalhou durante décadas; de Ryohei Yanagihara, que conhecemos sobretudo enquanto notável ilustrador cuja influência sobretudo nas décadas de 60 e 70 é enorme; de Ryuichi Yamashiro (1920-) cuja obra representa uma notável capacidade de síntese entre tradição caligráfica e tipografia moderna;
Sendo esta uma exposição centrada na produção gráfica japonesa dos anos 50 não estão naturalmente representados os notáveis designers nascidos na década de 1930 e cuja influência se começa a sentir a partir dos anos 60. Nomes como Makoto Nakamura (1926-), Ikko Tanaka (1930-2002), Shigeo Fukuda (1932-) ou Mitsuo Katsui (1931-).
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Catálogo de Exposição Hiroshi Ochi (1959).
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