Há cerca de um
ano foi publicado um reader de design que eu organizei. Embora tenha aparecido em alguns escaparates de livrarias, a
publicação passou no meio da maior discrição, nenhuma recensão lhe foi feita,
nenhuma crítica ou elogio, nenhuma discussão gerou.
Esta antologia de
textos, surgiu como um número da Revista de Comunicação e Linguagens que o CECL edita desde 1985. Mais do que formato de revista, os
volumes são livros (com cerca de 300 páginas) com ensaios, em regra, densos e
estimulantes. Graficamente as RCL são áridas e desinteressantes – textos longos
justificados, em Garamond, sem imagens e com notas condensadas no fim do
documento – mas não atrapalham a leitura.
A desatenção a
que esta obra foi votada merece uma pequena reflexão. O simples facto de
surgir, no paupérrimo meio editorial português, um livro de crítica do design
deveria suscitar algum interesse, mas na verdade começamos a notar que muitas
vozes fazem mais alarido à ausência do que à presença das coisas. Queixamo-nos
a alta voz que não existem livros, nem exposições, nem revistas, nem eventos de
design mas quando, por fim, eles surgem (e nos últimos tempos têm surgido) as
mesmas vozes que se queixavam assobiam para o lado e encontram renovados motivos para se queixar.
Neste caso, a
desatenção surpreende-me, por três razões:
Em primeiro
lugar, por ser o reader um dos
géneros editoriais mais explorados no campo do design na última década e meia.
Na verdade, a recente teoria do design assentou na publicação de readers – sobretudo, desde 1994, com a
série Looking Closer - e na forma como se fez o arquivo da produção teórica em design do final do
século XIX até à actualidade. Este interesse pelo reader não surpreende, ele
permite a designers que trabalham com texto explorarem princípios tipicamente
de projecto: edição, montagem, arquivo, etc.
Em segundo lugar,
por este ser apenas o segundo livro, dentro deste género, a surgir em Portugal,
o primeiro havia sido Design em Aberto (1993)
organizado por Ana Alçada, Fernando Mendes e Martins Barata.
Em terceiro
lugar, embora advogue em causa própria, pela qualidade da publicação, reunindo
um conjunto de textos, na sua grande maioria inéditos, muito importantes para a
compreensão de temas e debates que marcaram (marcam) o campo do design
contemporâneo.
Organizado em
torno de quatro noções-chave – Teoria; História; Ideologia; Tecnologia – reunia
um conjunto diversificado de perspectivas críticas de autores como Bernard
Stiegler, Andrew Blauvelt, Mark Wigley, Heitor Alvelos ou Andrew Howard.
Talvez este
levantar da questão acerca do porquê do livro ter sido um não-acontecimento
ainda possa ajudar a que alguma explicação apareça.
1 comment:
Percebo a surpresa, mas eu também fiquei um pouco surpreso quando vi este número da RCL. Fiquei surpreso pela positiva, gostei, mas a RCL é uma revista direccionada para as áreas da Comunicação e as pessoas que seguem a revista são dessa área, sendo que a grande maioria está completamente à margem do design, mesmo o design de comunicação. Aliás vou até mais longe, em Portugal a Comunicação tem muito falta de Arte, está muito ligada à Sociologia e Filosofia, discute muito o fenómeno cultural mas pouco o artístico e criativo.
É pena, porque julgo que seria muito interessante existir uma maior proximidade entre ambas as áreas
Eu trabalho no campo da comunicação mas dentro do design de interacção, virado para a narrativa e tecnologia nas suas mais variadas formas, e tenho dificuldade em encontrar pessoas dentro da área com quem partilhar ideias.
Outra ideia para ausência de feedback ao número pode ter a ver com a falta de distribuição do mesmo, o que acontece muito com estes números de revistas em forma de livro. Ou ainda o facto de estar nas livrarias nas prateleiras de comunicação e não de design.
abr
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