O próximo número
da revista PLI tem por tema Hot&Cool. Neste confronto
entre quente e frio evocam-se uma série de outras polaridades sejam elas ligadas
ao contexto disciplinar do design – design quente vs. design frio; design
autoral vs. design comercial; design moderno vs. design pós-moderno – sejam
elas mais abrangentes – Sul vs. Norte; economia vs. finanças; ética vs.
mercados; pobres vs. ricos etc.
Quente e Frio
evoca, afinal, a crescente conflitualidade – geracional, corporativa, de
classes – e a aparente indefinição do estado de coisas a surgir depois de
ultrapassado o estado de crise das coisas.
O design talvez
seja coisa menor; talvez perante os números do desemprego, a incompetência dos
políticos, a crescente falência do estado, a ausência de formas de mediação
forte, não haja razões para se falar de design; talvez temas como social design
– assunto tão generalizadamente presente antes de rebentar a bolha – seja entretenimento burguês. Mas creio que não!
Na verdade, penso
que hoje começa a existir em Portugal uma efectiva cultura do design que, mesmo que em doses variáveis, revela a
existência de designers notáveis, de público, de alguns empreendedores e de
alguma crítica. Em termos de mercado a situação é seguramente muito difícil. Se
há uma ou duas décadas atrás existiam alguns bons clientes e muitos maus
clientes, hoje simplesmente não existem clientes; o que não impede de haver bom
design e isso é sintoma da força da disciplina malgrado a crise.
Para esta
afirmação de uma cultura do design mais do que um protagonista deve ser
evocado.
Em primeiro lugar,
os designers. Hoje coexistem três, talvez mesmo quatro, gerações de designers
com trabalho de muita qualidade; sobretudo no design gráfico, onde os projectos
de iniciativa própria ou design pro bono surgem com mais facilidade, é
estimulante perceber esta contemporaneidade
de José Brandão e João Machado, de Jorge Silva e Pedro Albuquerque, dos R2
e de Pedro Falcão, de Joana&Mariana e de Sérgio Alves. O sucesso do evento World Graphics Day que organizo há três anos, tem comprovado essa qualidade.
Em segundo lugar,
as escolas. Dou aulas de design há cerca de 15 anos; já leccionei ou colaborei
com quase todas as escolas de design em Portugal – do Politécnico de Viana do
Castelo à Universidade da Madeira, passando pelas Belas Artes de Lisboa e do
Porto – e não tenho dúvidas da elevada qualidade, muito superior à que existia
há uma década, de muitos cursos de design (ESAD, ESAD-CR, Politécnico de Tomar,
Belas Artes de Lisboa entre outros).
Em terceiro
lugar, a existência de prática crítica; traduza-se ela em projectos editoriais,
curatoriais ou outros. Da Coleção D às Jornadas Cantianas diversas têm sido as
iniciativas de valor que excelentes designers (como Jorge Silva e António Silveira Gomes) promovem à margem do seu trabalho de atelier.
Pela minha parte,
tenho estado, igualmente, empenhado nesse esforço de fazer coisas em design. Em
2007, publiquei aqui no Reactor quase 200 posts; nos últimos dois anos
publiquei, com este, apenas 20. Há para este facto mais do que uma razão, sentir ser hoje menos importante a blogosfera
como fórum democrático de divulgação, discussão e crítica – as redes sociais,
por um lado, e novas formas de trabalhar os media tradicionais (livros,
revistas) por outro, esvaziaram parte da utilidade dos blogues – mas sobretudo
por estar, como talvez nunca, ocupado a fazer: exposições,
publicações, workshops, uma série de projectos envolvendo velhos e novos
amigos, catalisando interesses, explorando uma crescente economia de afectos.
Organizei o
último número da PLI em torno no mote do entusiasmo; no que ele envolve de ideológico e de emotivo,
permaneço entusiasmado, ou se preferirem, inconformado; e como eu, muitos outros no campo do design em Portugal.
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