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COMBINAR CULTURA E TECNOLOGIA
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Enquanto a Europa inteira há muito se apercebeu da importância desta disciplina [o Design] resultante das sociedades industriais, Lisboa, também ela capital europeia, só há cerca de uma década começou a revelar tímidos e cautelosos sinais de interesse, sobretudo com a divulgação de algumas peças importadas. Iniciativas, aliás, mais devidas a alguns empresários exigentes e informados do que à própria Indústria de mobiliário ou às entidades oficiais do sector da cultura. Isto, apesar do trabalho e luta, de alguns pioneiros do design industrial em Portugal, como Daciona Costa e Sena da Silva.
Mesmo agora, quando os ventos se diz serem de mudança, os sinais exteriores não correspondem à grandiloquência dos discursos de intenções.
Nem tampouco a grande maioria das empresas industriais se apercebeu da necessidade de melhorar a qualidade dos seus produtos, sabendo recorrer, para isso, aos agentes mais bem apetrechados.
Mesmo tendo à disposição os muitos designers que anualmente se formam nas várias instituições especializadas nacionais.
Deste modo, não será pois de estranhar que o Museu de Arte Moderna se mantenha alheado deste dado cultural e continue a privilegiar as formas tradicionais de arte. E que se não sinta, também, na necessidade de criar um espaço cultural mais alargado onde o design industrial, têxtil, gráfico e o design de moda possam estar representados. Atitude que seria preferível à até aqui assumida por aqueles que se dizem responsáveis pelos pelouros da cultura.
Enquanto isso, lojas como a Idea vão revelando um pouco do muito que o ilimitado universo do design tem para nos surpreender. Ainda que os objectos e peças ali à venda sejam, na sua maioria, economicamente inacessíveis para a maioria dos que os apreciam, nem por isso o confronto deixa de ser positivo.
Pelo menos ele representa um estímulo para a imaginação e um subsequente “élan” para a rejeição dos medíocres produtos fabricados pela quase totalidade da Indústria portuguesa.
Maria João Mauperin, “Combinar cultura e tecnologia”, Expresso, Revista, 21 de Janeiro de 1989.
1 comment:
Love these old-school canvas paintings, just great!
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