Tuesday, December 25, 2007
O MUNDO DO DESIGN
Com uma história que remonta ao início do século, ainda que, nessa altura, sob formas excessivamente românticas e “naturalistas”, o design é, sobretudo, uma ideia dos anos 20, denunciando, a partir dessa época, a solidariedade crescente entre a estética e a natureza da nova produção industrial, com os seus novos materiais (o vidro, o aço, o betão e o plástico) e os seus novos processos (a produção em série e a automatização). Por causa desse industrial, o design instalou-se com uma necessidade de designar o produto como objecto social e de consumo. Desprovidos da ornamentação artesanal, despojados em bruto e em série das linhas de montagem, os objectos passaram a incorporar, desde a sua produção, uma certa configuração formal que não lhes era directamente específica, mas que sobretudo permitia a sua articulação com uma infinidade de outros objectos muito diferentes na espécie, nos usos, mas não na forma. Ao rebentar, assim, com a insuportável tradição dos estilos, o design iniciou uma nova era de produção e consumo, que chegaria a ser marcada, pontualmente, pelas mais radicais utopias racionalistas (num processo imparável, de onde não esteve ausente, sequer, o suporte às ditaduras políticas).
Entretanto, e depois do grande boom da década de 80, o design incorporou-se, de tal modo, no quotidiano, que se tornou virtualmente impossível dar por ele. Procurando sair dessa banalização social, assiste-se, hoje, à emergência de uma “nova vaga” de designs e designers. Num número recente, a revista Time fazia mesmo disso tema de capa, sob a muito positiva designação “O renascer do design”. Lá dentro, num dossier espampanante de meia dúzia de páginas, fala-se de uma nova economia do design, com a chegada de uma multidão de novas firmas e empresários, unicamente devotados a comprar, vender e negociar a estética de um determinado objecto. Moral da história: passada a fase em que design era sinonimo de imagem de uma coisa, entrámos numa época em que a coisa passou a ser o objecto do seu próprio design. Marcada pela total ausência de realidade, esta nova paisagem é claramente favorecida pelo digital e pela “pureza” das suas formas. E a esta lógica do menos real ninguém parece escapar: até as inocentes hospedeiras, figurantes nos filmes que introduzem as regras de segurança nos aviões, começaram já a ser substituídas pelos seus “higiénicos” sucedâneos digitais. Pena é que, em caso de acidente, não se possa designar a totalidade dos passageiros.
JOÃO MÁRIO GRILO, O MUNDO DO DESIGN
In O LIVRO DAS IMAGENS, Minerva, Coimbra, 2007, Pág. 75
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