Monday, December 10, 2007
VIVÓEUSÉBIO: O DESIGN COMO CELEBRAÇÃO
VIVÓEUSÉBIO é um colectivo de design formado por Andreia Almeida, Giuseppe Greco, Joana Sobral, João Silva, Mónica Oliveira e Rafael Lourenço. São designers, uns licenciados em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e um outro em Design de Interiores pelo Politecnico di Milano.
O 1º trabalho com o carimbo dos seis membros foi "As aventuras de benji", em 2004. Só um ano depois surgiu o nome, quando quatro dos seus elementos se encontravam em Milão e na situação de "emigrantes portugueses" surgiu um nome que revive o espírito de ser português. Desde há 1 ano, 2 mês e 24 dias que trabalham juntos no Barreiro.
REACTOR: Quando conheci o vivóeusébio agradou-me bastante a dificuldade que tive em classificar o vosso trabalho. Se "As aventuras de Benji" me levavam a pensar-vos de uma forma, os trabalhos para a "Primeiro Exemplar" levavam-me a pensar-vos de outra. Hoje encontro uma "identidade" que em todo o caso não consigo definir. A pergunta não é, seguramente, a mais estimulante para iniciarmos uma conversa, mas como se auto-apresentam?
VIVÓEUSÉBIO: Efectivamente, adoptarmos um "estilo" desde logo reconhecível não era uma coisa que desejássemos. Interessa-nos mais sermos reconhecidos por uma atitude, por uma adaptabilidade, por uma diversidade que só resulta de uma exploração conceptual (sendo aqui o conceptual entendido como a definição do conceito que decidimos para um projecto). Isso liberta-nos e deixa espaço para explorações sem estarmos presos a uma identidade muito formal. Analisamos cada caso individualmente pois não achamos que uma abordagem standard seja o mais adequado.
Entre a diversidade de gostos e objectivos de nós os seis, temos também ambições e referências comuns que transpomos para os nossos trabalhos, muitas vezes extravasando por áreas que não se ficam apenas pelo design de comunicação. Sentimos a vontade e necessidade de criar projectos próprios com uma liberdade que não é possível numa encomenda feita por um cliente.
As Aventuras de Benji são um bom exemplo de um tipo de projecto que normalmente não se encontram no portfolio de um designer. Não nos sentimos presos a uma imagem nem à necessidade de criar uma estética própria que nos identifique.
Se calhar a nossa identidade pode mesmo vir daí, dessa falta de coerência formal e estética dos nossos trabalhos.
R.: Parece-me haver um claro interesse e, além do mais, um evidente prazer em envolver referências da "cultura popular". Isso resulta de uma abordagem intencional ou mais de contingências associadas aos
projectos (meios, clientes, colaborações)?
V. : Resulta mais de uma abordagem intencional.
Essa “cultura popular” é algo que nos é próximo, que nos pertence e à qual pertencemos e por ser comum a boa parte dos nossos interlocutores, viabiliza a mensagem.
Não olhamos para a cultura popular de uma forma pejorativa ou caricatural mas sim como algo que pertence ao nosso património cultural. Na realidade, o próprio facto de nos chamarmos “VIVÓEUSÉBIO” demonstra-o de uma forma sincera e pretende introduzir o interlocutor ao nosso modo de processar a informação.
Apesar de termos todos crescido em meios diferentes, desde bem pequenos que todos nós fomos expostos, sem cremes de protecção, a toda a (des?)informação passada pelos media. Na Televisão, dos jogos de computador e consolas até à Internet, acabámos por inadvertidamente coleccionar um extenso manancial de referências que agora se encontram subjacentes ao nosso discurso.
É óbvio que não as utilizamos de forma casual, nem o fazemos por mero exercício de estilo: elas surgem naturalmente como referências que depois irão ser filtradas e contextualizadas de modo a potenciar a comunicação em algumas situações.
De qualquer modo, o nosso universo referencial mais “consciente” é vasto e o Cinema tem uma boa dose de culpa nos resultados da nossa produção, principalmente nos projectos próprios como é o caso do “Superchase – work in progress”.
R. : VIVÓEUSÉBIO assume-se como um projecto colectivo, qual é exactamente o sentido que dão a esta expressão "projecto colectivo "?
V. : É um projecto que absorve 6 pessoas diferentes. Definimo-nos como Colectivo porque trabalhamos em conjunto desde o 3º ano da faculdade e porque cedo percebemos que estas 6 cabeças funcionam bem em separado mas funcionam muito melhor juntas. Valorizamos o facto de sermos 6 pessoas, que cresceram em meios diferentes, a contribuir com diferentes universos de referências. Esse sentido de pluralidade só conseguimos vê-lo como uma mais valia.
Esta circunstância também garante uma divisão de esforços que ajuda a superar questões mais práticas como possam ser as dificuldades de realizar projectos nossos, que até à data têm sido auto-sustentados, tanto a nível financeiro como a nível logístico.
R. : Salvo raras excepções, parece-me que em Portugal os estúdios de design são pouco abertos a projectos de colaboração. As lógicas de Mercado parecem impedir o desenvolvimento de um design mais interventivo, com maior sentido cultural e com uma identidade mais colectiva…
V. : Na nossa opinião não faz sentido falar na existência de lógicas de mercado enquanto obstáculo ao desenvolvimento de projectos de natureza menos comercial. Na realidade não nos parece que exista em Portugal um mercado com expressão digna desse nome, no qual nos sintamos inseridos. A nosso ver trata-se de uma falsa estrutura que é definida apenas pelas opções tomadas por todos os profissionais ligados à disciplina do design.
Queremos com isto dizer que o rumo e as lógicas que podem definir a prática do design em Portugal, dependem única e exclusivamente de cada um de nós. Não faz por isso sentido desculpabilizarmo-nos com as supostas lógicas ou necessidades do mercado. Foi segundo esta linha de raciocínio que após a conclusão da licenciatura em Design de Comunicação, se tornou evidente para nós que a construção de um projecto com a natureza do VIVÓEUSÉBIO seria o único passo lógico no nosso percurso profissional. Partindo do princípio que a vontade em desenvolver projectos (com maior sentido interventivo, cultural ou resultantes de uma expressão colectiva) é genuína, não encontramos motivos para que não se dirija os esforço nessa direcção. Certamente que não se trata do caminho mais fácil, mas acreditamos que é possível ser-se fiel a esta abordagem ao design.
R. : Como imaginam o vivóeusébio dentro de dez anos? Que projectos desejariam que estivessem então concretizados e, já agora, como desejariam que fosse a "cultura de design" em Portugal?
V. : É sempre difícil imaginar como será o VIVÓEUSÉBIO daqui há alguns anos.
É algo com o qual às vezes nos questionamos, como será a nossa evolução como colectivo e grupo de trabalho ou em que projectos estaremos envolvidos. No entanto, temos a certeza de que queremos continuar a explorar o potencial de seis cabeças diferentes nas diversas áreas limítrofes ao design de comunicação, como sejam as artes plásticas ou o cinema.
Queremos desenvolver projectos que pela sua natureza e especificidade (ou talvez pela natureza do público português) não são auto-sustentáveis nem lucrativos. Projectos que “precisam” de existir, que dão voz ao potencial artístico e cultural do país.
Hoje em dia o design não é integrado à priori nos processos, salvo raras excepções. Parece ser considerado como um a mais que pode ou não existir dependendo do "budget" inicial para um projecto. Não é considerado enquanto área projectual.
No futuro, gostaríamos que o design fosse algo tão natural que não tenha que existir apenas uma “cultura de design” mas que o design faça parte da cultura. E que essa altura traga á consciência de todos nós que um designer é alguém que tem um papel importante na sociedade.
No fundo, daqui a 10 anos, gostaríamos de poder dizer que alguma coisa mudou e, já agora, que pudemos contribuir para essa mudança!
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