Wednesday, April 29, 2009

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Um dos períodos da história do design português que mais me fascina situa-se entre 1970 e 1974. Da imensa e magnífica produção de design, em particular ao nível do mobiliário e do design gráfico, desse período os melhores documentos de que dispomos para a conhecer encontram-se nos dois catálogos – o catálogo da I Exposição de Design Português (1971) e o da II Exposição de Design Português (1973) – publicados pelo INII – Instituto Nacional de Investigação Industrial.

Durante esse período a produção de um conjunto vasto de designers como João da Câmara Leme, Luís Duran, Sebastião Rodrigues, Carlos Rocha, Sena da Silva, Moura-George, Daciano Costa, Armando Melo entre outros, contribuiu para uma renovação do design português, do seu mercado e dos seus públicos. Vejam-se, a título de exemplo, os "genéricos" de programas televisivos feitos por designers para a RTP durante esse período.

Entre vários exemplos, recordo-me de um fantástico desdobrável lúdico, intitulado “Brincadeira” desenhado por Armando Melo, a extraordinária linguagem gráfica desenvolvida por Moura-George para os Laboratório Fidelis, as capas de livros de Sebastião Rodrigues e Câmara Leme, a evolução tipográfica bem expressa nos logótipos desse período desenhados por João Constantino, José Manuel Rego ou Cristina Reis; a notável renovação do design de embalagem graças ao contributo de Carlos Rocha, Carolina Cotrim ou António Garcia.

De certa forma a obra de António Garcia retrata, no seu melhor, um período da história do design português marcado por um interessante depuramento da linguagem moderna, experimentação e ecletismo. Garcia, à semelhança de muitos outros designers da sua geração (casos de Sena da Silva ou Daciano com os quais trabalhou) desenvolveu uma obra diversificada onde se encontram projectos gráficos, mobiliário, arquitectura e interiores.

À obra de António Garcia, a DDLX dedicou no espaço do ateliêr uma exposição intitulada O Tempo das Imagens que tendo sido, em termos de exposições de design, um dos acontecimentos desse ano passou injustamente despercebida.

António Garcia, nasceu em Lisboa em 1925. Em meados da década de 1940 começa a colaborar com Sena da Silva, colaboração que se prolonga até ao final da década de 50. Durante as décadas de 1950 e 1970 desenvolve uma prolífera produção gráfica, entre design editorial e capas de livros - as suas capas para a Ulisseia surgem regularmente entre 1952 e 1970 - selos, cartazes e packaging – SG Ventil (1964), Sintra (1965), SG Gigante (1966), SG Filtro (1968); Ritz (1970); Plaza International (1974). Durante esse período desenhou igualmente um conjunto vasto de projectos de identidade para a Ecomar, Strol, Sorefame ou Crédito Predial Português.

O nome de António Garcia é também indissociável do mobiliário português nesse período. Entre a cadeira Gazela (1955) e cadeira Relax (1971) foram inúmeros os projectos de equipamento, interiores e arquitectura efémera criados por Garcia, com destaque para a cadeira Osaka’70 desenhada para o pavilhão português da Expo Osaka em 1970.

Esperemos que a exposição sobre os anos 70 em Portugal, que se anuncia para breve na Fundação Calouste Gulbenkian, possa contribuir para colmatar a invisibilidade a que o notável design português desse período tem estado votado.

3 comments:

nitrofurano said...
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Paulo Silva said...

Também há trabalhos do meu pai (Gilberto Lopes) nestes dois catálogos do INII

REACTOR said...

Obrigado por essa chamada de atenção, que serve também para destacar outro designer maior da geração a que me referi. De facto, o trabalho de Gilberto Lopes, sobretudo ao nível do mobiliário, individualmente ou em colaboração (com Michel Arnoul, Norman Westwater, Daciano, Eduardo Afonso Dias e o próprio António Garcia)assume uma grande importância no design brasileiro e português desse período.

abraço,

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REACTOR é um blogue sobre cultura do design de José Bártolo (CV). Facebook. e-mail: reactor.blog@gmail.com