Saturday, May 16, 2009
REGRESSO AOS 80
Foram recentemente publicados pela Laurence King , de Londres, dois livros que, para além do editor e do mês de lançamento (ambos publicados no passado mês de Março) têm vários aspectos em comum, são eles Sketchbooks: The Hidden Art of Designers, Illustrators & Creatives editado por Richard Brereton e Creative Space: Urban Homes of Artists and Innovators editado por Francesca Gavin.
Nos dois casos, tratam-se de “aproximações” tanto ao processo de trabalho como ao life style de designers e artistas contemporâneos: Sketchbooks desenvolve essa aproximação a partir dos esquiços dos criadores; Creative Space a partir da “imagem” (por vezes próxima de uma encenação do espontâneo) das suas casas.
Nos dois livros, propõem-se um jogo entre a esfera privada (o diário gráfico, o caderno de esquiços, o espaço privado) e a esfera pública (a obra e uma certa “imagem” do criador). Pese embora todos os tiques de contemporaneidade e uma certa auto-referencialidade formal que tende a limitar a pertinência dos seus conteúdos são objectos interessantes, agradando-me claramente mais o primeiro, que despertam um positivo voyeurismo criativo.
Brereton e Gavin são dois nomes trendy no actual mercado criativo e editorial. Sendo, eventualmente, boas companhias para se aparecer numa festa, seria injusto não reconhecer os seus méritos. Richard Brereton tem acumulado trabalhos para televisão (incluindo a BBC) e é actualmente editor da revista Graphic, onde tem deixado a sua marca pessoal, anunciando-se para Setembro uma nova revista de artes visuais e um livro co-editado por Marc Valli. Francesca Gavin é editora para as artes visuais da revista Dazed & Confused e publicou, desde 2007, três livros, os anteriores dedicados à arte pública e à nova arte gótica, um livro, aliás, delicioso.
Tratando-se de dois projectos curatoriais é interessante analisar os nomes dos criadores convidados. Eles têm, na sua maioria, menos de 35 anos, pertencendo, por isso, à mesma geração dos curadores do projecto. No caso do livro de Brereton, envolvendo ilustradores, designers gráficos e um designer de tipo (Dreibholz), percebe-se uma intenção de dar “representatividade” através de escolhas, criativa e geograficamente, diversificadas, ainda que quase todos os criadores escolhidos trabalhem actualmente no Reino Unido e nos Estados Unidos (ou com clientes desses países); são eles: Carole Agaesse; Renato Alarcão; Pablo Amargo; Clemens Baldermann; Lauren Simkin Berke; Serge Bloch; Pep Carrió; Frédérique Daubal; Agnès Decourchelle; Dominic Del Torto; Henrik Delehag; Marion Deuchars; Andrea Dezso; Paulus M. Dreibholz; Henrik & Joakim Drescher; Ed Fella; Isidro Ferrer; Peter James Field; Fuel; Anna Giertz; Chris Gilvan-Cartwright; Brian Grimwood; Johnny Hardstaff; Flo Heiss; John Hendrix; Boris Hoppek; Seb Jarnot; Oliver Jeffers; Fumie Kamijo; Hiroshi Kariya; Daniel Kluge; Hiro Kurata; Asako Masunouchi; Flávio Morais; Robert Nicol; Peter Saville; Gustavo Sousa; Simon Spilsbury; Marc Taeger; Mark Todd e Holly Wales.
Olhando para esta lista, claro que saltam à vista dois nomes consagrados como Peter Saville e Ed Fella (creio que o mais velho do grupo) e uma série de nomes a caminho da consagração casos de Clemens Baldermann dos Purple Haze, Marion Deuchars, os ilustradores Mark Todd e Renato Alarcão ilustrador brasileiro conhecido, sobretudo, pelos trabalhos publicados no The New York Times, o seu compatriota Flávio Morais ou o espanhol Pablo Amargo vencedor do Prémio Nacional de Ilustração em 2004.
Outros estarão na categoria dos “criadores emergentes” como o “maverick” Dom del Torto , a jovem ilustradora, de origem húngara, Andrea Dezso autora do belíssimo Community Garden, o sueco Henrik Delehag conhecido pelos recentes livros como Ben Carey, ou ainda Boris Hoppek nome ligado à street-art ou, o já referido, Paulus Dreibholz cujo trabalho tipográfico me agrada muito.
Da citada lista, alguns nomes são, para mim, menos conhecidos ou mesmos desconhecidos, como Carole Agaesse, Peter James Field , Hiroshi Kariya ou Agnès Decourchelle que, o pouco que conhecia, não me tinha entusiasmado.
No livro de Gavin, os criadores estão, maioritariamente, ligados a um universo “trendy” londrino, parisiense ou nova-yorkino (não deixando de surpreender a ausência de criadores de Viena ou Instambul para referir uma cidade que esteve e outra que está claramente in) com clientes no mundo da moda e da “alta sociedade”, casos de Hardy Blechman o designer da Maharishi, Lúcio Auri, Ludivine Billaud designer gráfico ligada à Kenzo ou a JP Gaultier, Nicola Formichetti e Artus de Lavilléon ou jovens artistas plásticos bem cotados como Stuart Semple cujo trabalho é, aliás, marcadamente gráfico ou Aya Takano.
É claro que, ao nível dos conteúdos, os dois livros não são comparáveis. Os conteúdos de Hidden Art são claramente mais interessantes e consequentes, mesmo do ponto de vista em questão: retratar, a partir de uma perspectiva “privada”, diversos criadores contemporâneos. Mas sublinhadas as diferenças, não estamos, nos dois livros, longe de um certo self-referential design típico dos anos 80.
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