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FOI VOCÊ QUE PEDIU MARKETING DE GUERRILHA?
ENTREVISTA COM HUGO TORNELO
Hugo Tornelo formou-se em design na Escola Superior de Design do IADE tendo prosseguido a sua formação no criativo Fun Lab da Design Academy de Eindhoven. De regresso a Portugal integrou um dos projectos mais originais do actual panorama do design português, a TORKE uma empresa de Marketing de guerrilha.
REACTOR: A influência do movimento "culture jammer" na cultura contemporânea é indiscutível. Colectivos como os Adbusters e autores como Bansky, surgem-nos como referências fortes de um trabalho de arte/design com
um forte cunho de intervenção. Em todo o caso, em Portugal expressões como "marketing de guerrilha" ou "design activista" são ainda algo estranhas. Dentro deste contexto como se explica o surgimento da Torke?
HUGO TORNELO: A Torke surgiu de uma lacuna no mercado da comunicação existente em Portugal direccionado para um novo tipo de comunicação de marcas, o Marketing de Guerrilha.
Fundada por pessoas já com o Know-how a nível de ferramentas de comunicação, a Torke procura trazer a comunicação de marcas a um nível diferente utilizando métodos não convencionais. Em certa medida pode haver um cruzamento entre o movimento culture jamming e o marketing de guerrilha quando se fala na saturação da comunicação e de veículos dos mesmos, mas o culture jamming enquanto ferramenta activista procura aniquilar e subverter a comunicação de grandes marcas, o marketing de guerrilha surge como uma ferramenta diferente de comunicação para estas mesmas marcas.
R. : Trata-se, no fundo, de assumir o papel catalizador do designer, tomar consciência de que o designer tem, no contexto das sociedades neo-liberais, de se assumir como mediador altamente comprometido entre as pessoas e a sociedade?
H. T. : Sem dúvida de que o designer tem um papel mediador quando o nosso objectivo é comunicar para pessoas.
R.N : Neste sentido, poder-se-á dizer que, perante o crescimento de um design cada vez mais orientado para os consumidores, a Torke se dirige, em primeiro lugar aos cidadãos?
H. T. : A Torke procura acima de tudo chegar às pessoas no seu dia-a-dia no seu trajecto rotineiro de A a B, é muitas vezes aqui que procuramos uma intervenção. Tentamos assim que a assimilação da comunicação seja digerida de uma maneira diferente.
R. : O Hugo Tornelo passou pela Design Academy de Eindhoven, como é que o seu percurso enquanto designer o levou à Torke?
H. T. : Foi uma pura coincidência, depois de ter chegado da Holanda com um grande input a nível criativo, acabei por descobrir a Torke que tinha muitas semelhanças com Fun Lab Master na Design Academy, este último debruçava-se para o estudo da cultura da experiência enquanto produto económico, onde o espectador/público torna-se num participante/personagem de uma experiência criativa.
R. : Sente-se integrado na actual "cultura de design" portuguesa?
H. T. : Não muito, penso que a cultura do design portuguesa ainda está muito
direccionada puramente para uma indústria massiva e convencional. Apesar de haver designers a fazer abordagem diferentes penso que ainda seja um núcleo pequeno e fechado
R. : Que projectos tem, neste momento, "entre mãos" e que projectos vão ganhando forma na sua cabeça por estes dias?
H. T. : Existem diversos projectos mais ainda numa fase embrionária, como "insatisfeito nato" existe sempre uma procura para fazer mais e de me envolver em projectos diversos.
1 comment:
Pelo discurso e pelo que se conhece da Torke, o "alvo" é incodicionalmente o consumidor e não o cidadão. Trata-se de um marketing mais directo, mais impetuoso (e intrusivo) ao qual ainda apelidam de comunicação. É complicado que estas "guerrilhas" se libertem do corporativismo, e é imperativo que associem a criatividade ao cidadão e não a marcas e a bens de consumo, cujo resultado se resume a enfeitar as cidades, enchendo-as - ainda mais - de espectáculo oco.
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