Wednesday, November 21, 2007



MAÇÃ CASTANHA?
APPLE BRAUN?

Talvez não haja design que não envolva, sempre, alguma forma de redesign. Talvez a mais valia dos produtos de design industrial contemporâneo esteja mais centrada em inovações de Software do que de Hardware. Talvez sejam só coincidências. Talvez, mas a verdade é que de cada vez que a Apple lança um novo produto eu lembro-me de Dieter Rams.


Dieter Rams é um designer com o qual tenho uma relação estranha. Se o reconheço como a figura maior do neo-funcionalismo da segunda metade do século XX não consigo evitar em ver no seu rigor funcionalista uma outra espécie de formalismo. Sóbrio, minimal mas, em todo o caso, formalismo. Se admiro o seu pensamento, a defesa de um design socialmente empenhado, por outro lado não me esqueço de que o vi terminar uma entrevista dominada pela defesa de um design sustentável, dada ao magazine na Experimenta, a entrar no seu potente (e poluente) Ferrari.

Mas será de mim ou o Rádio T1000, desenhado por Rams para a Braun em 1962, é muito parecido com o McBook Pro? Será de mim ou a calculadora electrónica ET 33, desenhada por Rams para a Braun em 1977, é bastante idêntica ao iPhone?



São, de facto, inúmeras as semelhanças entre produtos Braun das décadas de 50/70 e produtos Apple contemporâneos. Coloca-se a questão não estará a Maçã (Apple) a ficar Castanha (Braun)?

10 comments:

Grilo Falante said...

Admirável Post.

E, realmente, a maçã nunca poderia ficar oliveria (olivetti?), pois não?

Anonymous said...

http://www.spiekermann.com/mten/2007/08/braun_apple.html ou será que sou eu que estou a sonhar.

REACTOR said...

Talvez sejam só coincidências :)

Anonymous said...

Dizer que o iMac é parecido com o rádio T1000 ou que o iPod é parecido com o outro produto que aparece na imagem (rodar o ipod 90 graus para uma posição inédita ilustra bem a carência de fundamento) é entrar no tom dos comentários de quem não perdeu muito tempo em tentar saber o que está a ver e tira conclusões com base em superficialidades.

Em ambos os produtos, iPod e iMac a forma é ditada, literalmente, por duas ideias claras que nada têm que ver com uma tentativa de se parecerem com produtos Braun.

O iMac nasce de uma tentativa de fazer o desktop computer o mais simples possível para o utlizador. E simplicidade aqui entende-se pela eliminação de ruído visual, espaço físico necessário, manuseamentao de cabos, e dar ao utilizador aquilo que realmente importa, a imagem.

E se todo o processo começou por aqui:
http://images.apple.com/pr/photos/iMac/imac_flowershot.jpg

Evoluiu para este:
http://www.wired.com/news/images/full/02imac_hero_f2.jpg

E finalmente, no "form factor" actual, foi possível mover todo o hardware e incluí-lo no volume do display.
http://www.deltaflow.com/wp-content/uploads/2007/08/imac_vs_dell-1.jpg

Acredito que faça parte da experiencia pessoal de cada um de nós que teve pela primeira vez contacto com um iMac ter a reacção: "Aonde está o computador?!"

A Apple é (mais uma vez) pioneira neste esforço, e atirando um rápido olhar para os All-in-one da concorrência, HP, Dell ou Gateway, é fácil perceber que partiram atrasados para esta corrida e tentam compensar com a adição de estilo tornando as propostas perto do rídiculo.

O All-in-one faz parte da cultura da Apple (basta olhar para o primeiro Macintosh) e sabemos por isso que é uma direcção genuína e que sempre diferenciou a Apple da concorrência. Se fizermos um desenho esquemático de como seria o computador ideal tendo em conta o que nos interessa como utillizadores (teclado, rato e display) não estariamos longe do iMac.

O que importa, e é uma das grandes diferenças da Apple, é que estes conceitos nao vivem apenas em renders ou imagens ficticias mas sim no mercado, sendo o exemplo maior o iPhone.

Quanto ao iPod, a comparação na imagem é tão fraca que nem merece muitos comentários. Mas mais uma vez, uma questão de honestidade. Se tens o único produto no mercado que te permite fazer o browsing de 1000 músicas em 5 segundos com um gesto do polegar e que te cabe no bolso das calças para quê acrescentar estilo?

E sim, nesse sentido, não se trata de só de dizer que copia a Braun como também se poderia dizer que copia o design gráfico Suiço porque todos os elementos gráficos e volumes estão alinhados dentro de grelhas.

O que importa é olhar para a grelha como uma ferramenta de materialização de ideias, se as ideias são fracas, o produto torna-se mecanicista e formalista, na Apple acontece o contrário.

Se olharmos para o panorama geral do mundo dos computadores nao há empresa que melhor aplique a grelha, e no entanto, não há também empresa que tenha produtos que melhor falem aos valores humanos.

Quanto à calculadora, só fica bem. Uma pequena homenagem à Braun no sítio onde faz sentido. Quando pensamos na cota de mercado da Apple, 8.1% nos EUA, sendo uma grande parte de esses consumidores "design savvy" so nos alegra este tipo de detalhes. Fazem-nos lembrar que as pessoas nesta empresa têm interesse cultural e isso transparece nos produtos.

Steve Jobs, enquanto CEO da NeXT pagou 100.000USD a Paul Rand para o design do logótipo da empresa, e esta é uma história contada pelo John Maeda aquando de uma visita de Paul Rand ao MIT:

"One that particularly stuck out was the story for the NeXT computer logomark. Rand spoke about how as Steve Jobs turned each page of the presentation booklet Jobs' smile seemed to grow bigger and bigger until finally he reached the last page and asked Rand, "Can I hug you?" and Rand replied "Sure." He then commented, "You know you've made a good logomark when your client wants to hug you."

É por isto que a Apple é das poucas empresas que transforma o interesse dos seus consumidores numa ligação de lealdade que faz muitos de nós (incluíndo eu, que estou a perder 30 minutos a escrever este comentário) pregadores/vendedores da marca.

Peço desculpa pelo lonnnnnnnnnnnngooooooooooo comentário : )

r.

REACTOR said...

Olá Ricardo, agradeço-te o óptimo comentário.
As semelhanças entre produtos Braun e produtos Apple são isso mesmo: semelhanças. Ou seja, parecenças que se revelam imediatamente, formalmente, superficialmente. Por detrás da "carcaça formal" há distintas compreensões do design, do papel da tecnologia e das lógicas de relação entre o utilizador e o produto. Creio que não era apenas por limitações ao nível de disponibilidade tecnológica, que o Rams não se revelava particularmente seduzido pela exploração da "hiperconcentração funcional" (as possibilidades All-in-one) num contexto histórico em que começamos a encontrar as primeiras experiências neste sentido.
Mas se pretendermos encontrar semelhanças mais profundas - a nível de design e marketing - entre a Braun e a Apple, julgo que as conseguimos encontrar. De facto, a "simplicidade" de que fala o Ricardo Figueiroa, resulta de uma nova exploração dos objectos industriais (de que a Braun é percurssora) e que visa anular as fronteiras entre software e hardware (a teoria do design fala numa transição da "simbolização estática" para a "simbolização dinâmica").
Por outro lodo, não consigo concordar com o Ricardo quando ele diz que perante produtos inovadores não há sequer necessidade de acrescentar estilo. Pelo contrário, não consigo deixar de reconhecer uma determinada "discursificação" da inovação e da qualidade dos produtos (a hiperconcentração funcional; a simplicidade das interfaces; a miniaturização; a sobriedade forma, etc.) como correspondendo à afirmação de um estilo (estrategicamente programado).
Entretanto, faço uma confidência; enquanto escrevia este comentário veio-me à cabeça uma ideia do Rem Koolhaas, segundo ele "Mais importante do que projectar uma coisa é projectar a decadência dessa coisa".
Não deixa de ser espantoso que um produto desenvolvido dentro de lógicas de "obsolescência planeada" tenha como sua mais-valia o reconhecimento da "inovação". Tal quer dizer que a inovação não resulta já, de uma clara melhoria da eficácia de um produto, mas da sua actualização. Isto é, um produto não é inovador por ser "melhor" mas por ser "mais novo".

P.S. Escrevi este comentário no meu PowerBook G4 :)

Anonymous said...

Agradeço ao Reactor a resposta rápida ao comentário, realmente sabe bem ter um espaço de debate sobre Design e Cultura, em Português.

Parabéns ao Reactor por isso.

Quando disse que se se tem um produto inovador não há sequer necessidade de acrescentar estilo, referia-me exactamente à acção de "acrescentar", algo que vem depois e que é definido, por exemplo, por uma tentativa de fazer com que o produto se pareça com os produtos Braun. É esse o nível de comparação que as imagens ilustram e com isso não concordo.

Concordo com o Reactor quando diz que se quisermos encontrar semelhanças mais profundas, as encontramos.

Há, de facto, uma discursificação da inovação e dos produtos e um estio estrategicamente programado.

A Apple é a maior referência de uma empresa que consegue ter a melhor consistência de comunicação a todos os níveis, que vai desde a tolerância entre partes de plastico ou metal nos seus produtos (que está a kilometros de distância da concorrência) ou o facto de não haver parafusos visíveis; passando pelo tom da interacção com um empregado da empresa numa qualquer Apple Store, até ao facto do Mac OX ter soluçóes como o Expose e o Spaces.

Há de facto uma forma Apple de fazer as coisas. A consistência traduz-se num estilo que dá à Apple um dos seus bens maiores, uma Identidade que a diferencia da concorrência.

Quanto à obsolescência planeada, é um facto, mas isso seria um debate sobre modelos sociais e económicos.

Este comentário foi escrito num MacBook Pro : )
r.

do Ó Pires de Sousa said...

o que me faz confusão neste problema de semelhanças ou coincidências, não é a superficialidade com que os produtos da apple foram concebidos ou não, mas como pode ser colocada uma afirmação (questão, direi mesmo acusação,...) de uma forma tão superficial num blog "sobre cultura do design" e que assim ficaria para a eternidade e para o leitor mais incauto, caso não houvesse um comentário ou outro mais 'puxado' a justificar uma resposta do autor

seria óptimo que as reflexões "mais profundas" fossem explicitadas logo no post inicial, e não em retardados comentários de justificação, não vindo a deixar assim, no tal leitor incauto que todos tentamos educar, "imediatamente, formalmente e superficialmente" a impressão errada do que [então e afinal já não] queríamos dizer assim

TiGA said...

Na minha opinião a questão do plágio poderia-se levantar, no entanto esses items da braum não são usados à quantos anos? Quantos de nós não temos objectos que se inspiraram em objectos antigos de forma a se co-relacionarem com as funções pretendidas? Se os objectos não se continuaram a vender é porque foram linhas abandonadas pela braum, podem ser semelhantes, mas não são necessáriamente iguais.

No fundo as linhas dos objectos apple, braum, etc... serão sempre semelhantes se por ventura tiverem um design agradavel e funcional, basta ver que o maior concorrente do ipod, o Zen apareceu muito antes com o tamanho de um discman (o leitor de musica portatil mais popular da altura) e com um disco de 20 gigas e mal apareceu o ipod, a creative adaptou a forma do zen de modo a se asemelhar ao produto da apple e a actual tendencia dos leitores portateis de musica é a de copiar o formato introduzido pela apple, por sua vez semelhante ao rádiozinho mostrado no post.

Na minha opinião o caminho do design por muito vanguardista que seja, terá sempre correntes "retro" de modo a identificar a função do objecto, e a sua evolução nunca deverá ser demasiado progressista pois corre o risco de chocar o publico alvo por este não estar preparado para uma mudança repentina. Por exemplo o sistema operativo NEXT proposto por Steve Jobs que actualmente tem vários elementos presentes nos mais recentes MAC OS.

Um outro exemplo de como progredir pacientemente é o iMac, que evoluio de um computador "all-in-one" volumoso, para um computador "all-in-one" embutido no monitor, obviamente que isto foi uma tendencia tecnológica aliada à simplificação de um objecto. Poderse-à comparar com a evolução do rádio a valvulas para o rádio comparado no artigo? Talvez, mas as revolução técnológica também está lá presente a simplificar o objecto, no entanto num conceito bastante diferente...

A calculadora da braum poderá ter sido inovadora na altura no entanto...Quantas calculadoras iguais já não sairam para o mercado? Pessoalmente estou familiarizado com aquele tipo de calculadoras simples desde sempre (CITIZEN, CASIO, "CHINESES", ...)

Os comentários do Ricardo Figueiroa, apesar de me parecer mais um fanboy da Apple, são da minha concordância, pois ele refere a filosofia do iMac, sua evolução e contexto e tambem a maneira simplista do funcionamento do ipod que exactamente como ele diz se tem acesso a toda a musica com um só polegar. O comentário da calculadora já não sou exactamente da mesma opinião, pois como referia anteriormente creio que a apple apenas usou o formato mais popular de calculadora simplista que existe. Se foi inventado pela Braum, poderá ser sim uma homenagem, mas plágio só se acusarem todas as milenas de calculadoras semelhantes que desde então apareceram no mercado.

O facto de em qualquer objecto encontrarmos linhas semelhantes a objectos anteriores, novamente o refiro, serve para enquadrar o seu uso, simplificar a interpretação das suas funções e não necessáriamente uma cópia desbaratada. Podemos observar isso em qualquer tipo de objectos, roupa, dispositivos informáticos, mobilia, televisões, ... As formas nunca são alteradas bruscamente, mas progressivamente, com recurso a elementos presentes em equipamentos anteriores, de outras marcas, de funções semelhantes.

E não me ocorre mais nada de momento, se escrevo mais passo a ser ainda mais redundante :(

REACTOR said...

O Comentário de Tiga parece-me oportuno. Justifica-se, igualmente, uma reflexão sobre a questão do "revival" e o modo como os revivalismos, muitas vezes, funcionam apenas como exploração simbólica dos produtos a partir de uma intervenção cosmética.
Em relação ao comentário de do Ó Pires de Sousa, penso ser claro que este post não tem a pretensão de ser uma "reflexão profunda" sobre o tema. A função de um blog, compreendido como espaço de diálogo e interconstrução entre o blogger e os seus leitores, é fundamentalmente a de suscitar discussão e reflexão e, não tanto, a de a apresentar como "terminada". Acredito, também, que os leitores do Reactor estão longe - como se comprova - de serem "leitores incautos", o que é para mim muito estimulante.

Fabio Brazil said...

Rams criou o T3??

Esse é o TR-1, o primeiro rádio de bolso projetado 3 ou 4 anos antes em Chicago, IL, pelo grupo de Painter, Teague e Petertil..

http://retrothing.typepad.com/photos/uncategorized/regencymagazineadvert.jpg

caras, é como o design rola no mundo! as inspirações rolam soltas.. difícil dizer o que foi criado ou copiado..

acho que devemos simplesmente discutir o que é ou não é o "bom Design"..

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REACTOR é um blogue sobre cultura do design de José Bártolo (CV). Facebook. e-mail: reactor.blog@gmail.com