Sunday, November 04, 2007



O DESIGN GRÁFICO, UMA VOZ PÚBLICA

O design gráfico, como qualquer prática cultural, é uma prática significante que tem, como uma das suas características, a vontade explícita de comunicar.
Esta declaração de intenção coloca-o numa relação conflitual e, sem dúvida, particular com o complexo espaço da comunicação contemporânea. É uma voz pública. Oferece modos de comunicar, possibilidades de dizer, à política, à religião, à economia, à educação. É uma voz que circula por distintos meios: na rua, em veículos, nas revistas, nos jornais, na Televisão, na Internet. Quase todo o território da visibilidade contemporânea tem lugar para a presença do design gráfico.

Dono desse território – como dizem alguns – “cobre” todas as necessidades de comunicação visual da nossa sociedade. Entendido como acto intencional, com vontade de determinar condutas específicas junto do receptor, o design gráfico ocupa, com as suas produções, espaços tão variados como os que organizam o nossos modos de leitura, os espaços da informação visual que recebemos para nos orientarmos ou os da operatória persuasiva que monta para estimular a nossa opinião, as nossas escolhas, o nosso consumo.

Desta forma, faz sentido afirmar que o design cobre todas as necessidades sociais da comunicação visual. O problema coloca-se quando procuramos definir a expressão “necessidades sociais”. Desta forma, não existe qualquer consenso relativamente ao que se considera ser uma “necessidade social”. Serão as campanhas da Diesel, da Heineken ou da Adidas, respostas a uma necessidade social? Obviamente que sim, responderia, se o formularmos da seguinte maneira: face às leis do Mercado capitalista, a existência da publicidade e do design gráfico publicitário são meios imprescindíveis de garantir as necessárias lógicas de compra-venda, incorporando a necessária função simbólica que diferencia e personaliza os objectos, para assegurar o equilíbrio das leis da procura e da oferta e, finalmente, para assegurar através da produção, o “pleno” emprego. (…)

As necessidades sociais são “entelequias”, eufemismos, abstracções criadas por grupos de poder para ocultar a sua verdade constitutiva: existem tantas necessidades sociais como classes e sectores e estas têm, frequentemente, interesses antagónicos entre si.

Se, como bem ou mal se disse, o design gráfico cobre todas as necessidades da comunicação visual, parece claro que o design pode estar ao serviço de qualquer grupo, sector ou ideal. Não se trata, aqui, de pensarmos em termos de “bom” ou “mau” design; trata-se de adoptar, perante a disciplina, uma atitude livre de hipocrisia, livre da euforia tecnocrática, livre de uma atitude “socialmente asséptica” formulada em nome de uma suposta identidade de necessidades mas, também, fazendo eco dos messianismos que, com frequência, procuram adjudicar o design. Por outras palavras, importa assumir uma atitude que coloque a questão sob outro ponto de vista, pensando um lugar específico para o Design, que nascido sob os ideias da igualdade e do confronto com a massificação tecnológica surge, em muitas das suas versões, submetido aos critérios do consumo e do Mercado.


MARIA LEDESMA
EL DISEÑO GRAFICO, UNA VOZ PUBLICA
Editorial Argonauta, Buenos Aires, 2003
Tradução José Manuel Bártolo

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