Sunday, November 11, 2007




No momento em que inicío este “post”, guardo ainda a força das últimas palavras de Maria Filomena Molder no livro, de belíssimo título, sobre Hermann Broch, “O Absoluto que pertence à terra”: “Ele padeceu e quis contar o padecimento das imagens que à força de rapidez se imobilizam, sem elo, sem enleio, perdendo o seu valor simbólico, uma tradição onde já não se pode viver.” Não se trata, neste “padecimento das imagens” mas também neste “padecimento nas imagens”, de uma aproximação, certeira, à nossa condição?

Da Exposição “Come, come into my world” presente na Fundação Ellipse conheço apenas o pouco que um desdobrável graficamente irrepreensível (com a assinatura de Barbara Says…), encontrado entre as páginas do Público, me trouxe. A visita ao Site – um excelente site! – despertou em mim a vontade de responder àquele apelo que as obras de arte (mesmo que pela voz dos seus curadores) tem a capacidade de nos lançar: come, come into my world.

Havia recebido há algum tempo, gentilmente enviado pelo André Cruz, o primeiro número da Nexus, um singular projecto editorial, auto-apresentado como um “registo das mutações contemporâneas", que ausculta, através dos instrumentos do projecto (as suas autoras são formadas em arquitectura), as ligações contemporâneas, desenvolvendo inteligentes entrevistas com personalidades diferentes como Vera Mantero, José Bragança de Miranda ou Marta Menezes (para citar apenas as que li). As opcções gráficas de André Cruz são convincentes e as ilustrações de Catarina Martins criam subtis separações entre conteúdos nos quais, laboriosamente, vamos afinal descobrindo continuidades.

Mário Moura, no último “post” publicado no Ressabiator retoma a reflexão sobre a “neutralidade” em design introduzindo um apontamento de leitura barthesiana. Sobre este assunto, uma autora de que gosto particularmente, Maria Ledesma, escrevia que “el diseño al estar volcado hacia la sociedad, al tener como fin la inscripción en su dinámica completa y contradictoria, siempre está incluido en un sistema de poder y contrapoder, de opresión interna y externa, de exclusions y permeabilidades que delimitan la acción del diseñador: por lo tanto, cada vez que actúa, el diseñador toma partido.”.

E se o Dr. House fosse um designer? Confesso-vos que foi a pergunta que coloquei quando li o interessante “post” do Sérgio Lavos: “House e o tabaco”. Lembrei-me também do Enzo Mari e da ideia que os designers deviam ter o seu próprio juramento de Hipócrates: “A ética é o objectivo de todo o projecto de design”(E. Mari).

2 comments:

Ana Reis said...

Olá! Não conheço essa publicação a que se refere, a Nexus, mas pelo que escreve interessa-me e não é pouco. Será que me pode fornecer alguns dados sobre ela (nem que seja um e-mail, por exemplo). Fico-lhe muito agradecida!

REACTOR said...

A NEXUS é um projecto de Isa Clara Neves, Mafalda Rangel e Sara Natárcia, já disponível nas livrarias (fácil de encontrar numa qualquer Fnac); o contacto oficial é bacteria2005@gmail.com.

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REACTOR é um blogue sobre cultura do design de José Bártolo (CV). Facebook. e-mail: reactor.blog@gmail.com