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USAR E INTERAGIR: AS NOVAS INTERFACES - ENTREVISTA COM ROBSON SANTOS
Robson Santos é um dos principais consultores de design brasileiros. Formado pela Escola Superior de Desenho Industrial e Doutorado em Design pela PUC-Rio, com investigação na área da Ergonomia e Design de Interfaces, Robson Santos vai-se multiplicando em cursos, conferências e consultoria a empresas. O seu trabalho de investigação vai sendo actualizado no blog Interfaceando.
REACTOR: O Design de Produto contemporâneo vai sendo cada vez mais marcado pela questão da "usabilidade". Eu diria que passámos de um paradigma da "utilidade" (centrado no objecto e em lógicas de produção) para um paradigma da "usabilidade" (centrado no sujeito e em lógicas de utilização). Como vê esta viragem no design?
ROBSON SANTOS: A evolução do Design segue rumo ao atendimento mais aproximado das necessidades das pessoas. O actual panorama de mercado, no qual os consumidores saem de uma posição passiva de somente receberem o que a
indústria lhes impõem e passam a ter consciência de seus direitos, implica uma mudança de posição da indústria em desenvolver produtos e serviços que adicionem valor real à população.
Em paralelo, com a planificação de materiais e processos de produção, a invenção cede lugar à inovação colocando a experiência do usuário como maior objectivo a ser atingido. Assim, o valor simbólico, para o qual a usabilidade
colabora de maneira fundamental, passa a ter maior destaque dentro do campo do design.
R. : Esta mudança seria possível se não se tivesse dado uma clara transformação do mercado, com a mudança de um mercado da produção em massa para um mercado da "personalização em massa"?
R. S. : Certamente, isso é um facto. Além do factor citado, fundamental tem sido a postura do consumidor que, mais informado e mais consciente, exige maior qualidade dos produtores. Também a crescente onda hedonista e o desejo de
diferenciação impulsionaram o estabelecimento de estratégias de "personalização em massa".
R. : Com o desenvolvimento da electrónica as características dos produtos industriais alteram-se e estão em permanente evolução, estou a pensar, por exemplo, no novo i-phone da Apple. Porém, parece-me que muitas vezes o design de interfaces funciona mais como um "trunfo comercial" do que como uma verdadeira mais valia do ponto de vista da funcionalidade...
R. S. : Nem sempre o que o consumidor busca é funcionalidade ou usabilidade. O consumidor sempre busca a satisfação de uma necessidade ou de um desejo. Se encararmos deste ponto de vista podemos entender porque tantas mulheres
ainda utilizam sandálias com salto alto, mesmo sendo comprovadamente prejudicial à coluna! Ou seja design basicamente trata de significados, de símbolos. O citado iPhone é um símbolo de inovação, de diferenciação, de destaque do lugar comum e sua interface passa a ser desejada como um "hype", não como um objecto altamente funcional. Certamente empresas como a Apple observam tendências e criam diferenciais que logo são seguidos mesmo pelos seus concorrentes.
Acredito que, no exemplo citado, o design da interface seja O produto! Por isso é vendida como um trunfo comercial. Nós designer tratamos de elaborar interfaces ente sistemas complexos e o público e isto varia desde um cartaz
de divulgação de uma peça de teatro a uma interface para interação-humano-computador. Em todos os casos, o que se busca é comunicar ao usuário fielmente o propósito do produto, no entanto, por estar inserido numa sociedade do consumo, o produto também deve seduzi-lo.
R. : No Brasil, à semelhança de alguns outros países, a produção de design parece ser marcada por dois rumos: uma orientação high-tech que aposta nas tecnologias e em novas lógicas de relação entre o produto e o usuário; e um outro rumo, low-tech que explora referências culturais e de que os trabalhos dos Campana são o exemplo mais conhecido. Num futuro próximo que evolução prevê em termos de produção de design.
R. S. : Há que se fazer uma diferenciação entre linguagem e tecnologia, ainda que a primeira seja influenciada pela última. É possível desenvolver um produto com alta tecnologia e, ainda assim, expressar valores culturais por meio da linguagem utilizada. Uma opção não necessariamente invalida a outra.
Esta busca por uma identidade nacional sempre existirá, independentemente do qual "hi" ou "low" seja a tecnologia. Por um lado, ao se falar da produção de bens de consumo para mercados globais, a melhor solução sempre será a que for compreendida por um maior número de pessoas. Por outro lado, produtos mais específicos como design de interiores, móveis ou mercado de luxo tendem a seguir um caminho das referências culturais, como no caso citado.
Assim, acredito que a produção de design vai seguir o rumo que a indústria e a comunicação indicarem, com pitadas de inovação em alguns pontos, como sempre houve. Para mim design significa solução de problemas e a produção de design
seguirá o rumo que os problemas apontarem.
R. : Se pudesse dar um único conselho a um jovem designer que conselho seria esse?
R. S. : Conheça o antigo e experimente o novo.
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