Tuesday, January 15, 2008



O DESIGN PORTUGUÊS DIVULGADO PELO NEW YORK TIMES


Em relação ao design, como a tudo o resto (à excepção talvez do futebol), há uma clara diferença entre o modo como nos vemos e o modo como somos vistos pelos outros (sim, esses, os estrangeiros).

Também é verdade, que a opinião externa nos parece sempre muito mais importante, válida e legítima do que a nossa (o que, bem vistas as coisas, algum fundo de bom senso terá).

Vêm estas considerações a propósito da recente publicação de vários artigos sobre Portugal no New York Times e ao destaque por eles dado ao design português.

“OVERSHADOWED by larger, wealthier and more flashy European countries with world-renowned design specialties — Italian lighting, Scandinavian furniture, French fashion — Portugal has long hid on the Continent's margin both geographically and creatively. For years, the best-known cultural contributions from this small seafaring nation were those stewed up in cauldrons from humble materials like squid and cod.”

Assim começa o artigo sobre Lisboa (mais concretamente, o bairro de Santos), intitulado “On Waterfront, with style”, publicado pelo New York Times e que faz parte da referida série de artigos sobre Portugal que aí foram publicados ao longo de 2007.

No Público de ontem, Francisco Veloso analisa o conteúdo dos artigos do NYT e a imagem de Portugal que eles constroem:

“O que realmente surpreende no conteúdo dos artigos é o facto de a tónica dominante ser um Portugal que não esquece as suas tradições, mas também que aposta no moderno, criativo e mesmo na vanguarda.

O apontamento sobre o Porto menciona os locais históricos da cidade, mas dá destaque à Casa da Música e à Fundação Serralves como expoentes de um "taste for new" que impregna a cidade. O foco do texto sobre Cascais não é a praia, mas antes o Farol Design Hotel e a colecção de arte moderna da Fundação Ellipse. Quando reporta sobre Aveiro, a herança piscatória é usada como mote no artigo, mas o ênfase é a nova dinâmica criada pela Universidade e experiências como a bicicleta de utilização gratuita ou o Mercado Negro, mistura de centro cultural e lojas de vanguarda. O artigo de Novembro sobre Lisboa, com o sugestivo título: "On the Waterfront, With Style", ignora mesmo a dimensão histórica e apresenta antes vários exemplos que mostram como a zona de Santos representa o pináculo no emergir de Portugal como um dos destinos onde se pode encontrar a vanguarda do design.”

O artigo sobre Lisboa é particularmente interessante pois destaca a importância do Design na caracterização da zona de Santos (com referências ao projecto da Boavista da autoria de Norman Foster; à Santos da Casa; à Reverso, entre outras referências de entre as quais faltará apenas a justa alusão ao IADE):

"But that is changing, and no place embodies Portugal's emergence as a serious design destination better than the waterside Santos quarter of Lisbon. The splashiest evidence is the Boavista site, where Norman Foster is designing a futuristic tower and commercial complex that will be filled with “galleries, studios, showrooms, exhibitions, performances, cinema, auditorium, cafes, shops, bars and restaurants,” in the words of its press materials. The goal is to create a project that “promotes the worlds of design and the arts.”

O que há de mais interessante nesta caracterização é o facto de ela não reflectir, apenas, a existência de um comércio “trendy” capaz de por à venda objectos de design que encontramos, também, em boas lojas de Londres ou Nova York, mas destacar ainda a qualidade do design português (no artigo de Lisboa, são destacados, por exemplo, projectos de Ana Pimentel e de Luísa Peixoto, à venda na Santos da Casa).

Apetece dizer, ainda bem que o New York Times existe para que o design português possa ter a merecida e necessária promoção externa.

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REACTOR é um blogue sobre cultura do design de José Bártolo (CV). Facebook. e-mail: reactor.blog@gmail.com