Wednesday, January 02, 2008
TEMPO DE TOMAR O RISCO
1. Nuno Portas propunha, na melhor sugestão de tradução da palavra “design” para português que conheço, que se traduzisse “Design” por “Risco”, considerava Portas que design, mais do que representar uma forma desenhando-a, é equacionar e solucionar um problema não resolvido antes, é conceber a forma arriscando-a como hipótese, relacionando os fins propostos e os meios disponíveis.
“Tomar o risco” não pode ser entendido, apenas, como uma responsabilidade individual dos designers, deve ser, passo o tecnocracismo, uma “exigência corporativa”, um “projecto colectivo” que visa, de cada vez, definir uma orientação para a prática profissional do design, estabelecer prioridades, propor, debater e apresentar uma “agenda de design” tão consensual quanto possível.
Não há, em Portugal - por parte de uma série de organizações que se querem responsáveis e que, de tão invisíveis, não somos capazes de fixar as estratégias ou as acções mas, apenas, a abstracção das suas siglas – uma real vontade ou capacidade de “tomar o risco” e arriscar hipóteses válidas para uma política do design português (e em Portugal) relacionando os fins propostos (na maior parte dos casos inexistentes) e os meios disponíveis (cuja limitação não pode funcionar como eterna desculpa).
2. O número de Janeiro da revista Exame dá um destaque significativo ao Design português, tema que traz para capa, reunindo Filipe Oliveira Martins, José Rui Marcelino, Katty Xiomara e José Carvalho Araújo.
O Editorial, assinado por Isabel Canha, assume um título fortemente (mas creio que não intencionalmente) pós-moderno: “Do design, a Portugal passando por Nelly”. Embora breve, o texto funciona como uma síntese perfeita das leituras difusas e ligeiras de que o design (mas que design?) vai sendo actualmente alvo. Importa que alguém esclareça que nem tudo é design e que nem tudo é, por igual, design. Importa esclarecer que a palavra não se presta a identificar vagamente um rol de coisas tão diversas que vão da forma do bolo rei ao marketing do pasteleiro.
O design e os seus problemas vão sendo (à semelhança das suas políticas) mal definidas. O esforço crítico de reflexão e o empenho no debate de ideias vão sendo substituído por uma “linguajar” light e fútil que não diz nada mas parece ter o condão de gerar rapidamente consensos.
3. Longe de gerar consenso está (felizmente) a adequação dos planos de estudo em design ao “modelo de Bolonha”. No final do ano, estive envolvido em quarto arguências de projectos de Mestrado em Design já adequados a Bolonha.
Devo confessar que a amostra de “Design à bolonhesa” com que me confrontei me deixou preocupado. Trabalhos inconsistentes, com fragilidades formais e conceptuais, defendidos por alunos cujo desconhecimento das insuficiências não permitiu filtrar uma despropositada arrogância. O “caso” deixa-me embaraçado, sendo defensor de uma “democratização” do ensino superior devo preparar-me para uma formação que está claramente longe da excelência? A questão – na formação, na orientação e na divulgação do design – parece ser esta: “Até onde se quer ir”. A mais provável resposta, devolvendo-nos a pergunta, é desarmante: “Mas isto é para ir a algum lado?”.
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- REACTOR
- REACTOR é um blogue sobre cultura do design de José Bártolo (CV). Facebook. e-mail: reactor.blog@gmail.com
1 comment:
Mas os bolonheses, acabaram mestres?
Essa é a minha preocupação. É que mesmo não sabendo para onde é que vão (vamos), continuamos a ir.
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