Tuesday, July 03, 2007
RICARDO SANTOS é formado em Design Visual pela Escola Superior de Design do IADE, instituição com a qual já colaborou na realização do workshop "Big Type Small Type". Fundador do estúdio Vanarchiv Ricardo Santos faz parte (juntamente com designers como Mário Feliciano ou Dino Santos) de uma elite de excelentes typedesigners portugueses.
REACTOR: No primeiro post do Reactor afirma-se que “não há design sem diálogo”, enquanto profissional do design que diálogos lhe interessam estabelecer? Com quem? Sobre o quê?
RICARDO SANTOS: O diálogo é uma realidade constante nesta actividade, sendo fundamental a troca de ideias, modos de trabalho e até críticas na projecção de um determinado projecto. Normalmente tento criar e gerir os diálogos necessários, em diferentes etapas e segmentos, com as pessoas chave do projecto (cliente, pessoal especializado, possíveis utentes). Alguns projectos de design, bem implementados perante os utilizadores, tiveram como base e origem projectual o correcto diálogo e filtragem das diferentes tipologias de necessidades. Estes diálogos visam estabelecer laços de proximidade entre diferentes realidades e meios onde não existem parâmetros ou processos rígidos, pois trata-se de um meio flexível. E é nesta base de ideias e troca de experiências que se pode ter uma consciência do projecto, particular e até geral, ao nível do seu impacto e amplitude na sociedade.
R: A palavra design identifica cada vez menos um campo disciplinar definido, passando a remeter para um campo de criação híbrido e difuso. Como vê esta indefinição em torno da disciplina?
R.S.: Ao projectarmos determinado trabalho de design, é necessária uma compreensão e entendimento de áreas que muitas vezes não pertencem à nossa área de formação mas que precisamos de conhecer e de estabelecer uma relação próxima de forma a enriquecer e complementar esse mesmo trabalho. Sendo assim o design acaba por funcionar como uma base centralizadora da consciência e experiência aplicada num determinado objectivo. Pessoalmente considero que o campo de acção híbrido e difuso torna o design mais interessante e fascinante do ponto de vista do conhecimento pessoal e até global. Com a expansão da era digital, aplicada às novas tecnologias, a actividade do design desenvolveu-se e acabou por se dividir em áreas e sectores de intervenção diferentes com o mesmo sentido de orientação projectual.
R: Se lhe pedisse uma definição de design…
R.S.: O Design, para mim, relaciona-se com um conceito geral, que interliga uma série de actividades em torno do melhoramento e implementação de novas funcionalidades, na nossa sociedade (material e visual).
R: O design sempre se caracterizou pela inexistência de um consenso programático, hoje talvez mais evidente devido à falência dos verdadeiros projectos colectivos, a teoria do design sempre oscilou entre uma interpretação do designer enquanto um “agente social” e uma interpretação do designer enquanto um “agente do mercado”, parece-lhe haver sentido nesta distinção?
R.S.: Sim. Considero que existem essas duas realidades distintas e que estas acabam por se complementar na difusão e aplicabilidade do projecto nos diferentes estratos (sociais e profissionais). O papel do designer como “agente social” poderá ser reflectido com mudanças e impacto ao nível sociológico e cultural (liberdade, igualdade, ecologia, etc). Num outro plano surge-nos o designer como “agente de mercado”, sendo este um dinamizador dos factores económicos e de diferenciação de mercado. Normalmente esta oscilação pode ser determinada conforme for o objectivo e abordagem do projecto (institucional, público, comercial).
R: Perante o relativismo dos valores (e, em particular, dos valores do design após a crise do projecto moderno) não será importante mostrarmos que existe uma diferença profunda entre a “ética individual” e a “ética disciplinar”? Quero dizer, os valores que orientam o design não podem ser relativos aos valores que guiam o comportamento dos seus profissionais…
R.S.: Considero que os valores disciplinares são vitais para haver um melhor enquadramento do comportamento profissional (trabalho de equipa, investigação, adaptação às novas tecnologias, enquadramento nacional e internacional, processos de trabalho). Sendo assim, é a ética disciplinar que cria muitos pontos em comum entre os mais diversos países por todo o mundo, regulando a disciplina do design – o desenvolvimento e processo de trabalho, de um projecto de design em Tóquio, não será muito diferente do que em Londres ou no Rio de Janeiro. Nos dias de hoje, o modo de estar da sociedade é cada vez mais individualista, o que acaba por contribuir fortemente para que muitas vezes a “ética individual” sobreponha-se à “ética disciplinar”. Os diferentes organismos académicos e institucionais deverão fazer um bom acompanhamento dos futuros designers, ensinando e incutindo valores de carácter disciplinar, mas valorizando o carácter individual de cada e o seu contributo no futuro – primeiro aprendem-se as regras para depois as reinventar.
R: Ainda há espaço para utopias no design? O Enzo Mari dizia que o design é um “acto de guerra” e o Brody, há umas semanas atrás, dizia que usamos poucas vezes a palavra revolução…
R.S.: Acho que sim. Normalmente, as utopias têm em vista a criação de um ideal. Todos estes conceitos e ideias acabam por depender muito da forma como cada designer interpreta o seu papel, individualmente e na sociedade.
R: Qual é a sua “utopia pessoal”?
R.S.: Não tenho nenhuma utopia pessoal.
R: Parece-lhe que a blogosfera tem contribuído para o desenvolvimento de um debate em torno do design?
R.S.: Acho que sim, pois começa a ser, cada vez mais, um factor importante no desenvolvimento e divulgação de temas e tópicos variados. Os blogs e sites de internet acabam por ser veículos de comunicação actuais que chegam a muitos utilizadores virtuais. Esta grande acessibilidade possibilita uma maior variedade de troca de ideias e informações entre as comunidades de cibernautas, contribuindo assim para um maior e melhor conhecimento de matérias tão diversificadas.
R: Quais são os seus blogues de referência?
R.S.: Confesso que não sou um frequentador muito assíduo de blogs, no entanto tenho como referência o Typographer, como também costumo, de vez em quando, participar no fórum Typophile ou de consultar a revista on-line Typographi.
R: Que pergunta acrescentaria a esta entrevista? E que resposta ela lhe mereceria?
R.S.: Nenhuma.
Muito obrigado.
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