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PERSONAL VIEWS #37
STUART BAILEY
"ON TEMPLATES"
A Teoria da Linguagem ensina-nos a considerar – do ponto de vista do plano do conteúdo – duas componentes diferentes, mesmo que em articulação entre si: uma componente gramatical que permite a composição e ordenação dos enunciados; uma componente semântica, de ordem conceptual e figurativa, que corresponde ao investimento da ordenação formal. Dito de outro modo, a gramática corresponde à forma do conteúdo – estruturando-se a partir de uma morfologia e de uma sintaxe – e a semântica – com os seus distintos núcleos sémicos - à substância do conteúdo.
Sem gramática não há linguagem articulada e, consequentemente, não há possibilidade de comunicação. Simplificando, em design gráfico o “template” pode ser pensado como a estrutura sintáctica de uma composição permitindo o funcionamento de um determinado discurso.
A conferência que Stuart Bailey apresentou na última quarta-feira na ESAD, integrada no Ciclo Personal Views, incidiu precisamente no uso do “template” no design gráfico. Pretexto para uma reflexão mais alargada sobre a criatividade, o esforço de criação de linguagens próprias e a coerência formal como reflexo de uma coerência projectual no seu sentido mais amplo.
Percorrendo, com notável clareza, o essencial do seu trabalho, Stuart Bailey testou, a partir do seu próprio trabalho, a sua visão da criatividade como “exigência” que resulta do facto das “condições estarem sempre a mudar”. A criatividade não reside na “invenção”, de cada vez, de uma nova linguagem ou na sua maquilhagem formal, mas no esforço de adequar uma gramática a contextos comunicacionais específicos.
Bailey, destacou, particularmente, a utilização de um idêntico “template” nos números da Metropolis M desenhados com a sua colaboração (números 4, 5 e 6 publicados entre 2003 e 2005) e um exemplo paradigmático de rigor e lógica intencional de composição; as publicações Tourette’s, CAC Interviu e Undo; alguns trabalhos recentes, como o catálogo Agapé e a imagem gráfica da exposição The Fall of Francis Stark (agora presente na Culturgest, em Lisboa) trabalhos já de 2007; e finalmente o merecido destaque à Dot Dot Dot e ao projecto Dexter Sinister, considerado menos como um estúdio de design e mais como algo que pode ser aproximadamente descrito como um “just-in-time workshop and occasional bookstore”.
A coerência do trabalho de Stuart Bailey, coerência tão mais fascinante na medida em que é gerada por uma trabalho colectivo, marcado por inúmeras colaborações e diálogos, apresentada de forma inteligente e documentada de forma rigorosa, resultou numa conferência muito boa para os alunos de design gráfico – público privilegiado dos Personal Views – que de novo encheram o auditório da ESAD.
Terá faltado, apenas, para enriquecer uma muito boa apresentação, aprofundar algumas das referências citadas – e consideradas determinantemente inspiradoras – nomeadamente Mark Wigley (mas também Charles Eschel e Frank Larcade), bem como a análise crítica do uso do “template” por parte de outros designers modernos e contemporâneos; a este respeito diga-se que não ficou minimamente explícita qualquer proximidade entre o trabalho de Stuart Bailey e os discursos de vanguarda dos anos 70 dos quais Bailey disse sentir-se herdeiro.
Seriam talvez questões para ser colocadas no período de debate que se seguiu (ou deveria ter-se seguido) a mais uma óptima conferência deste ciclo que, Andrew Howard e a ESAD, conseguiram tornar no mais importante ciclo de conferências sobre design gráfico da actualidade.
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STUART BAILEY formou-se pela Universidade de Reading em 1994, tendo prosseguido os estudos em Arnhem na Werkplaats Typografie. Em 2000 foi co-fundador da publicação Dot Dot Dot. O seu trabalho desde essa altura tem vindo a envolver aspectos de design gráfico, escrita e edição, principalmente sob a forma de publicações para artistas e instituições de arte. A partir de 2002, colaborou com Will Holder sob o nome composto de Will Stuart, num leque alargado de projectos que incluíram trabalhos mais performativos. Desde 2006 tem vindo a trabalhar com David Reinfurt no projecto Dexter Sinister sediado em Nova Iorque.
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The Fall, "Victoria" (Banda evocada no cartaz da exposição de Francis Stark).