FICÇÕES NO PAÍS DOS “GRAPHICS”
No meio de uma paisagem idílica – mas como não reparar nas folhas outonais, subtis presságios de uma certa adversidade – está Dale Lungren. Veste fato escuro e calça impecáveis botas pretas. Não nos olha de frente mas sabe (percebemo-lo) que estamos lá. Todo o trabalho de composição é magistral e, no entanto, qual trabalho de filigrana, pleno de minúcia, comunica através de detalhes (repare-se no modo como é evocada a parábola bíblica através de uma intencional exploração simbólica da frutificação das romãs). São claros dois planos distintos ou, melhor, duas camadas de composição e leitura. A densidade racional da composição impõe, dir-se-ia naturalmente, essa hierarquia: em fundo, numa espécie de manta de micro-signos, encontramos uma série de “apontamentos” que definem, por assim dizer, a “atmosfera”, estes elementos estão longe de ser neutros do ponto de vista narrativo (e, ainda menos, do ponto de vista semiótico) mas não ocupam, em momento algum, o centro da narrativa; em primeiro plano, três elementos definem a narrativa e, diga-se, tornam-na pungente: o lettering, a imagem de Dale e o plano picado – evocação trágica do abismo – da escada vermelha. O lettering não funciona, apenas, como instrumento de comunicação de identidade mas como meio de construção de “tensão narrativa”. O nosso olhar é conduzido, num movimento plongée, do lettering – “I shall come forth as gold” – para a imagem – de uma incrível complexidade – de Dave, impecavelmente vestido, com um sorriso pleno de confiança, transparecendo serenidade (magnifico o detalhe das mãos), sentado na cadeira de rodas e, finalmente, confrontados (num plano subjectivo) com a íngreme escada que Dave terá – no seu absoluto desamparo – de subir. “I shall come forth as gold” é um hino à esperança.
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