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O artigo chamou-se “Atenção aos olhos!”, foi escrito por Paul Virilio e publicado n’ A Revista do jornal Expresso de 14 de Dezembro de 1991. Nele, Virilio aconselhava-nos a “não acreditar no que os olhos vêem”, formulação que já não expressava o “espanto” moderno perante as imagens técnicas (das fantasmagorias, da fotografia, do cinema) mas correspondia, agora, a uma “objecção de consciência” necessária face à crescente mobilização técnica (digital, virtual) do olhar contemporâneo.
No início dos anos 90 eram já evidentes os sinais de uma nova cultura visual marcada: pelo alargamento do espaço e do contacto mediático; pela aceleração das representações; pelo esbatimento do “estatuto de realidade” da imagem associada a um imaginário hiper-real.
Além do mais, o estatuto do observador contemporâneo apresentava-se intensificado em relação ao observador moderno tal como Jonathan Crary o descreveu. A mediação técnica entre nós e as coisas estende-se a todos os sentidos e, além do mais, desloca-se de nós para as coisas, instalando-se nelas como “possibilidade de alteração radical”, isto é, como possibilidade de criação. É nas coisas, e não no olhar sobre as coisas, que reside o perigo.
Perante esta “perturbação da percepção” que nos afecta, conviria reconsiderar a “ética da percepção comum”: não estaremos nós a perder o nosso estatuto de “testemunhas oculares” da realidade sensível, em detrimento dos substitutos técnicos, das próteses de todo o género (da televigilância ao ciberespaço) que farão de nós seres assistidos, deficientes do olhar (espécie de cegueira paradoxal, devida à sobreeexposição do visível) e deficientes pelo olhar?
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