Wednesday, January 16, 2008




OS ÓCULOS DE LE CORBUSIER

OU

A ANGÚSTIA DA INFLUÊNCIA


O “exercício da influência” em Design é indissociável da sua própria história. A construção de uma doutrina funcionalista, que visava racionalizar a produção impondo como “alvo axiológico” o ideal da “gute Form”, resultou da acção solidária entre o ensino do design, a sua historiografia e alguma produção industrial, acção essa orientada pela imposição de um “programa” e pela legitimação da sua influência.

A existência dessa “linha de continuidade”, a assumpção da influência, tão relevante ao nível da teoria do design como da produção industrial ideologicamente orientada, permite-nos identificar as afinidades, ao nível das ideias, entre um texto de Peter Behrens, como o “Kunst und Technik” de 1910 e um texto de Dieter Rams, como “Omit the Unimportant” de 1984 e, seguramente, pelo meio, poderíamos incluir textos afins de Gropius ou, mesmo, de Max Bill, entre uma série de outros.

Num “post” de 21 de Novembro, intitulado “Maçã Castanha?”, demos conta da aparente influência formal que alguns objectos desenhados por Dieter Rams para a Braun exerceram (exercem?) sobre Jonathan Ive e os seus projectos para a Apple. O “exercício da influência” tornava-se, aqui, angústia da influência na medida em que o efeito de imitação não parecia resultar de uma partilha de valores e de uma mesma visão do design mas, antes, de uma resolução fácil da questão formal.

Se, com algum fundamento, se pode afirmar que o “estilo Braun” era, em grande medida um “estilo ULM” que, por sua vez, actualizava alguns princípios que, no limite, encontramos nas propostas de Beherens para a AEG, no “caso Apple” a questão era mais melindrosa porque, uma das mais valias da marca, o seu styling, podia afinal ter resultado de uma cópia.

Rádio Braun T3 e iPod Apple.

Coluna Braun LE1 e iMac Apple.


O caso “Apple vs. Braun”, voltou entretanto ao julgamento da blogosfera. Num, deliciosamente malicioso, “post” intitulado “Vem cá! Eu te conheço?”, Diego Werner, voltava à carga no Globo Online :

“Dizem que tanto Jonathan Ive quanto Steve Jobs são fãs do trabalho de Rams e do design alemão da época. A prática do "quanto menos, melhor" é bastante aplicada nos produtos da Apple, mas qual seria o limite entre a inspiração e o plágio?”

iPhone Apple e calculadora Braun ET66.


Depois de O Globo Online
, foi a vez do blog Gizmodo , num post, de resto, muito influênciado pelo de Diego Werner, “atirar a matar” sobre Jonathan Ive, deixando a nu a angustia da influência.

Chamado ao tribunal da bloggosfera, para testemunhar no caso “Apple vs. Braun” que opõe o designer Dieter Rams e o designer Jonathan Ive, o REACTOR manteve o depoimento prestado no dia 21 de Novembro, porém, surpreendeu, ao deixar a questão, imitação por imitação, os óculos do Dieter Rams não são uma cópia dos óculos do Le Corbusier?


Dieter Rams e os "seus" óculos.



Corbusier e os seus óculos.

2 comments:

Anonymous said...

Caro Bartolo, tenho seguido com interesse esta discussão, mas não deixo de recordar o que o Mário (Ressabiator) escreveu uma vez (segundo recordo e num texto sobre cópias e influências), ainda em tempos de faculdade: "... em última análise, isto só quer dizer que andamos todos a ver as mesmas coisas".
Eu só encontro uma forma de comentar os que acusam os outros de plágio de forma gratuita, e essa é usando a ironia: andava a ver o site do Design Museum em Londres, onde existe uma exposição online de alguns trabalhos do Jonathan Ive para a Apple, e lembrei de uma exposição que vi lá com projectos do Jasper Morrison (http://www.jaspermorrison.com) para cozinha (torradeira, chaleira e cafeteira eléctrica para a Rowenta), e que estavam propostos para o prémio de "designer of the year", prémio que o Ive ganhou com os trabalhos para a Apple...
Por curiosidade fui ver a fotografia do Morrison e do Ive mas, surpresa, não usavam óculos como os do Corbusier. Assim, proponho já um remédio para eles e para todos nós: http://abarrigadeumarquitecto.blogspot.com/2008/01/intant-architect.html

Anonymous said...

E já que se fala de plágio, que dizer da escolha editorial do autor do post ao apresentar o assunto Apple/Braun sem citar as fontes?

Citando:
"Num “post” de 21 de Novembro, intitulado “Maçã Castanha?”, demos conta da aparente influência formal que alguns objectos desenhados por Dieter Rams para a Braun exerceram (exercem?) sobre Jonathan Ive e os seus projectos para a Apple."

Esse post vem no seguimento de um post no SpiekerBlog e outros, evidente pela watermark da última fotografia do post em questão (que está aqui).

Dando o benefício da dúvida e este segundo post, compreende-se que o Reactor faça uma abordagem mais leve e eventualmente sarcástica, mas porque não mencionar as fontes? A escolha de entrar em fantasias protagonísticas como esse tal "tribunal da blogosfera" faz com que seja bastante confuso o critério editorial para essa omissão.

Se falamos de ética no design, não é correcto esquecer a ética noutras circunstâncias...

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REACTOR é um blogue sobre cultura do design de José Bártolo (CV). Facebook. e-mail: reactor.blog@gmail.com