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“A crítica é essencial para o aperfeiçoamento de qualquer actividade que façamos. Sem esse olhar terceiro sobre o que cada um de nós produz, o sistema funciona de modo incompleto, torna-se demasiado autocentrado e redutor. (…). Acima de tudo, a crítica relativiza e tem um potencial desestabilizador e desafiante que é altamente estimulante, fundamental, para o processo de criação. Sabe uma coisa? Há falta de verdadeira crítica sobre design em Portugal…”
Guta Moura Guedes, In EXPRESSO, Actual, 5 de Janeiro de 2008.
No contexto do design nacional, como no internacional, é fácil esbarrar com um designer falhado ou com um crítico improvisado. Se com o falhanço do designer podemos “sofrer na pele” (ou na inteligência), de forma directa, as suas consequências, com o falhanço do crítico tende a ser o designer a “sofrer na pele” e na inteligência as consequências que, se traduzem, normalmente, por uma maior possibilidade do seu falhanço.
Exposto o silogismo, pode concluir-se que precisamos da crítica para não sermos atacados pelo falhanço dos designers, decorrendo daqui que, quanto menos e pior crítica houver mais nos encontramos sob ameaça.
Torna-se claro que o crítico de design só tem utilidade no caso dos designers lhe prestarem alguma atenção. Ora é sabido que quem lê a crítica são, na maior parte dos casos, os críticos (da mesma forma que são os bloggers praticamente os únicos leitores de blogues), o que talvez explique que, a maioria dos textos de crítica do design, sejam reflexões sobre a crítica ou sobre textos críticos e não sobre a prática do design.
Abel Barros Baptista dizia, com inteligente humor, que uma das causas da extrema permeabilidade da profissão de crítico é a ausência de provas mínimas de acesso. Nem exame, nem estágio, nem orientação por mentor qualificado.
Esta consciência talvez explique a importante criação de cursos de Mestrado em “Design Criticism”. O primeiro, segundo sei, foi criado o ano passado por Teal Triggs na University of the Arts London, o segundo surge agora, coordenado por Alice Twemlow na SVA.
Se é verdade que o interesse pela crítica do design resulta em grande medida do efeito Design Observer também é verdade que tende a reflectir um nova cultura do design. Marcada pela gradual imposição de uma nova agenda cultural do design, sustentada por um novo impulso editorial e curatorial. Não é assim de estranhar que as referências aos anos 70 se tornem cada vez mais frequentes, afinal é a defesa de uma indistinção entre crítica do design e design como crítica que se procura de novo impor.