Tuesday, March 18, 2008
SOMETIMES I WONDER
Por John Getz
Há vinte anos atrás gostava de ler umas crónicas publicadas no L.A. Style que me fascinavam por serem tão sedutoramente diletantes, tão assumidamente pós-modernas, conseguindo, numa página, falar do espírito DENY (Disgruntled Ex-New Yorkers) e da vida privada de James Lee Curtis, passando por Van Dyke Parks e terminado com uns versos de Ezra Pound.
Quando aceitei o convite do REACTOR para escrever mensalmente uma crónica literalmente sobre o que me apetecesse, pensei imediatamente nesses artigos da L.A. Style e, claro, logo de seguida pensei numa série de outras coisas, como nestes versos de um canção de Siouxsie and the Banshees: Only at night time/ I see you in darkness/ I fell you./ A bride by my side/ I’m inside many brides. /Sometimes I Wonder...".
No final da década de 1960, Frank Sinatra deu corpo à personagem do detective privado Tony Rome, em três filmes – “Tony Rome” (1967); “Lady in Ciment” (1968) e The Detective (1968) – que sempre me pareceram um requiem sobre o filme negro clássico. O melhor deste tríptico era, porém, o trabalho de fotografia do extraordinário Joseph Biroc que cheguei a conhecer, no final dos anos 80, numa cerimónia em Nova York que terminou numa animada festa ao som do DJ londrino Peter Ford. Na altura, Peter, aliás Baby Ford, era um dos protagonistas do “summer of love” de 88, mostrando uma inegável capacidade para misturar a ideologia hippie, o acid, o disco-sound (ou não fosse Ford um admirador confesso de Barry White) e ainda declarar oficialmente abertas as famosas “portas da percepção”.
O meu entusiasmo estava, contudo, muito longe de ir para Baby Ford, virava-se antes para a deslocação de notáveis actrizes para o campo musical, em aventuras necessariamente fugazes, permitindo invulgares combinações entre texto, música, ruído e imagens. Penso em John Zorn, Steve Beresford e David Toop que em torno da voz, belíssima voz, da actriz francesa Tonnie Marshall faziam a obra-prima “Deadly Weapons”; penso no trabalho de redescoberta das canções dos filmes de Brigitte Bardot feito por Beresford e Kazuko Hohki; penso, na relação de Delphine Seyrig com Steven Brown de onde resultou, para a colecçãoMade to Measure da Crammed, o disco De Doute Et De Grace.
Eu costumava trazer um monte de discos da Crammed, da Les Disques Du Crépuscule, que tinham aquele delicioso slogan “From Brussels With Love”, e de uma série de outras editoras belgas, de cada vez que ia a Bruxelas e ficava em casa do Dimitri Balachoff, responsável pela Meuter Titra, uma laboratório de legendagem de filmes, um tipo que adorava a música de Elmo Hope. Foi com Balachoff que pela primeira vez vi um filme de Manoel de Oliveira. Ainda hoje não dissocio Le Soulier de Satin e grandes quantidades de cerveja conventual.
Nota: As crónicas de John Getz são publicadas mensalmente no Reactor.
Tradução de José Bártolo.
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