Wednesday, May 28, 2008
A conhecida questão colocada por Italo Calvino – Porquê ler os clássicos? – poderia ser recolocada assim: Como ler os clássicos? Compreendendo-os no seu ou no nosso tempo?
Se a questão do porquê poderia ser rapidamente respondida – porque sim – a questão do como é mais complexa na medida em que a resposta parece apontar, dado que por um lado a “leitura” é sempre um processo de tornar contemporâneo e por outro deverá envolver uma “ética da leitura”, para a necessidade de compreendermos os clássicos no seu e no nosso tempo, percebendo-os à luz de um contexto histórico passado e descobrindo-os na sua actualidade.
Se o trabalho de designers como Scott Hansen ou Kim Hiorthoy parece exemplificar a intemporalidade das linguagens clássicas, creio contudo que se trata mais de uma resistência ao tempo – resistência que pressupõe o choque da consistência de uma linguagem face ao frémito das modas – do que de uma intemporalidade.
No contexto nacional a questão a colocar é, contudo, outra: Onde encontrar os clássicos? Num país onde os historiadores de design são espécie rara (os trabalhos de Rui Afonso Santos, Theresa Lobo ou Maria Helena de Freitas surgem como pontuais excepções) a inexistência de herança histórica caracteriza o design português. Os designers portugueses não têm história, terão, na maioria dos casos, um imaginário (alemão, holandês ou norte-americano) e a ausência de história pressupõe um começar do zero, sem alicerce nem património.
Claro que, por vezes, ocorrem saudáveis epifenómenos, como o descoberta de Sebastião Rodrigues após a exposição da Gulbenkian ou, mais recentemente, a descoberta de Victor Palla, notabilíssimo arquitecto, fotógrafo e designer, sobretudo depois de Martin Parr ter incluído o livro Lisboa Cidade Triste e Alegre no seu The Photobook.
Pode ser que, em breve, se dê, por um qualquer acaso, uma nova e merecida atenção a Cristiano Cruz, Roberto Nobre, Fred Kradolfer, António Soares ou mesmo Maria Keil e Sena da Silva. E talvez, através de surtos ou (assim se espera) de uma forma mais consistente, o design gráfico português (e o mesmo se poderia dizer do design industrial) possa ainda vir a ter história.
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