Tuesday, May 06, 2008



SOMETIMES I WONDER
por John Getz

Entre 1987 e 1990 fiz, de um modo regular, crítica de musica. Vivendo em Los Angeles apenas por uma vez, nesse período, tive oportunidade de visitar Manchester onde, no final da década de 80, uma nova cultura de clubes de dança, magnificamente representada pelo The Hacienda, animada por jovens produtores como Mike Pickering e Simon Topping, lançava uma série de projectos renovadores como os Quando Quando, T-Coy, A Guy Called Gerald, Electronic ou os fantásticos 808 State de Quadrastate.

O maxi-single de estreia dos Electronic (uma reunião de notáveis como Bernard Summer dos New Order, Neil Tennat dos Pet Shop Boys e Johnny Marr), lançado em 1989 pela Factory, intitulava-se a propósito “Getting Away With It” e revelava novos critérios de produção de Tony Wilson. Os Electronic não eram um projecto Manchester-based, não o eram em termos de formação, como o atestava a presença do londrino Neil Tennat, nem em termos sonoros, nem em termos da imagem gráfica do grupo. De resto, a capa “cool and sober” do disco remetia-os para um outro universo, mais cerebral e controladamente comercial, do do puro gozo da invenção de uma nova cultura nocturna que caracterizava os Fortran 5 ou os 808 State.

Por essa altura, nos Estados Unidos, a cultura DJ e os novos produtores de musica de dança, iam explorando as inúmeras possibilidades de misturarem o Acid, o House, o Disco com os Rhythm’n’blues ou o Hard-rock. Tudo aquilo era menos limpo e, por vezes mais desequilibrado do que o que se ouvia em Londres ou Manchester mas parecia-me, também, mais capaz de resistir ao tempo. Nesse final de década, Todd Terry foi o nosso homem, assumindo várias identidades – Swan Lake, Black Riot, Orange Lemon, Todd Terry Project, Royal House – e contribuindo para a criação de novas linguagens sonoras e plásticas. Se o design gráfico norte-americano desse período me parece especialmente curioso, é-o mais na capa dos discos, nos cartazes e no merchandising de projectos como os The 45 King de Mark James do que no design metódico de Cranbrook.



O que me seduzia nessa altura não era, contudo, apenas esta renovação e contaminação de géneros. Era a incrível mistura, que nos permitia numa noite ouvir Sundays e Oranje Lemon e, quando já não o esperávamos, dar de caras com Julee Cruise: Moving near the edge of night, dust is dancing in the space, a dog and bird are far away, the sun comes up and down each day, light and shadow change the walls, Halley’s comet come and gone, the things I touch are made of stone, falling through this night alone.


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REACTOR é um blogue sobre cultura do design de José Bártolo (CV). Facebook. e-mail: reactor.blog@gmail.com