Wednesday, May 07, 2008
POLITICS NEEDS YOU!
Jennie Winhall, terminava o seu interessante ensaio Is design political? dirigindo-se ao designers através da evocação de um famoso slogan do final da década de 1910 (usado no cartaz de recrutamento britânico de Alfred Leete de 1914 e retomado pelo designer norte-americano James Montgomery Flagg no famoso cartaz de 1917): “Politics needs YOU”.
Num outro texto defendi que o design “é política continuada por outros meios”, partindo da argumentação aí exposta retomo agora a reflexão envolvendo dois conceitos, considerados na perspectiva de Michel Maffezoli, “diálogo” e “socialidade”.
Todo o design envolve uma determinada disposição de elementos num espaço – seja um espaço bidimensional ou tridimensional, físico ou virtual, objectivo ou imaginário. Este processo de disposição é, evidentemente, um processo de ordenação que decorre do modo como as coisas foram discursificadas. Por outras palavras, a “disposição” corresponde a um modo de “discursificação” e integrar as coisas num discurso, dar-lhes expressão e função, implica ordena-las, ordenando também as interacções que aquém e além delas se dão.
Este processo de ordenação implica já o envolvimento de dispositivos políticos, que são gerados, legitimados, transformados ou criticados pelos discursos que os atravessam.
Ao design compete essa dupla função de discursificar as coisas – os objectos e os gestos, os símbolos e os ritmos – e de, nos discursos, gerar diálogos. Contribuir para que os discursos não funcionem, sem mais, como processos reguladores tendencialmente ditatoriais, mas como mecanismos de envolvimento e participação política.
Nas palavras de Maffezoli, “O diálogo é esta irrupção perigosa que rompe a segurança do instituído. (...). A palavra divide e esclarece; quer se trate de reuniões públicas, de discussões intermináveis de café, quer se trate de tagarelice quotidiana ou do intenso diálogo por ocasião de um reencontro, a palavra é o paradigma da sociedade, é, em sentido próprio, a troca simbólica por excelência visto permitir tanto o consenso como o confronto de subjectividades que se assumem enquanto tais e se ultrapassam, num mesmo movimento, numa atitude plural.”
Associar o Design à criação do diálogo, é entende-lo como elemento construtor da dinâmica social, como condição da ultrapassagem da atomização, meio de abertura à diversidade. Abrir o diálogo em todas as direcções, eis o que deve guiar o design. Se as palavras, as imagens e as coisas, começam por ser significantes que ganharão significado no interior do processo discursivo, importa recordar a afirmação de Lévi-Strauss de que “o sentido não se decreta, não existe em nenhuma parte se não estiver em todo o lado.”
Garantir a eficaz circulação, no espaço social, de “meios” que, em diálogo, ganharão para nós um sentido que nos sirva, eis uma possível definição de design.
Numa altura em que, no limite do chavão, se proclama a ética do design (proclamação que coincide, como se observa, com a criação de mercadorias e de um “mercado ético”) importa reforçar que não há “reflexão ética” sem “posicionamento político intencional”, a ética impossibilita a neutralidade. Por oposição à rigidez pré-estabelecida do sistema moral, a ética afirma-se como uma interrogação permanente do sentido dos valores sociais, como um “juízo” que implica adoptar uma posição redibitória, posicionarmo-nos perante o que se julga bem e perante o que se julga mal. O valor não é um a priori que regule as nossas acções mas, antes, uma construção permanente que se irá estabilizar, ainda que precariamente, como resultado das nossas acções. Se projectar é antecipar uma determinada estabilização de um valor, se a acção política do design tende a contribuir para legitimar um determinado sistema moral, importa que o faça intencionalmente, como consequência de um juízo, de um posicionamento que se dá a ser dialogado. E então faz sentido dizer: Politics needs YOU.
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